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Prepare o bolso

Sabe o pãozinho do café? Vai ficar mais caro

Quebra na safra gaúcha de trigo e problemas na importação causaram o aumento de 20% no preço da farinha. Padarias sentirão o impacto já este mês

05/12/2012 - 07h54min

Atualizada em: 05/12/2012 - 07h54min


Jorge Rui Madeira de Oliveira é padeiro

A notícia não é nada boa para quem adora um pão quentinho no café da manhã ou não dispensa um biscoitinho com chimarrão: a farinha está 20% mais cara e esse aumento vai atingir todos os produtos que a utilizam como principal insumo. De acordo com estimativa do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria e de Massas Alimentícias e Biscoitos do Rio Grande do Sul (Sindipan), o aumento no preço do pão será de 10% a 20%, já neste mês. O quilo do pão francês varia de R$ 4,50 a R$ 8. Com os aumentos, o quadro pode ficar entre R$ 4,95 e R$ 8,80 (se o aumento ficar em 10%).

Padarias já pagam mais

Proprietária de duas padarias no Bairro Cruzeiro, Maria de Fátima Galhardo, 42 anos, conta que já está pagando mais caro pela farinha que utiliza para produzir pães, bolos, salgados e outras delícias. Por semana, são utilizados 50 sacos e Maria conta que este é o terceiro aumento neste ano.

- A farinha subiu ontem (segunda-feira). O saco de 25kg passou de R$ 37 para R$ 39 - afirma Maria.

A comerciante conta que terá de repassar o aumento para quase todos os produtos. A exceção será o minicacetinho, o carro-chefe da padaria. Diariamente, são comercializados mais de 4 mil unidades. O quilo do mini custa R$ 5,90 ou R$ 0,10 a unidade.

- O mini é o que mais chama, então não posso aumentar porque perco freguês. A gente perde de um lado, mas ganha de outro - observa.

Panorama de final de ano é ruim

Arildo Bennech Oliveira, presidente do Sindipan, explica que, no caso do trigo, os aumentos começaram em maio. A safra gaúcha foi de baixa qualidade, devido ao clima (temporais e geadas) no fim da produção. Houve quebra também na Argentina, principal fornecedor do grão ao Estado.

- O quadro para toda a cadeia do trigo (pães, massas, biscoitos, massa de pastel, lasanha, pão de forma, entre outros) neste final de ano é negro. E há um ponto de interrogação para o ano que vem porque não se sabe se vai ter trigo e se terá qualidade - afirma.

Em um dia, são mais de 450 unidades

Desde que abriu a padaria no Bairro Partenon, há nove meses, Hermínia de Campos, 56 anos, enfrentou quatro aumentos de preço da farinha.

- Mesmo assim, eu mantive o preço (o quilo do pão custa R$ 5, e a unidade de 50g, R$ 0,25). Eu não ganho nada com o pão. Tenho a despesa com gás, luz, o salário do padeiro e a farinha. Como não compro a farinha direto dos moinhos, pago R$ 40 o saco de 25kg. No início (quando abriu o negócio), custava R$ 32 - conta.

Pela manhã, Hermínia vende 150 cacetinhos e, à tarde, entre 270 e 300. Fora 240 pães que fornece para outro comércio.

Há três dias, a comerciante está comprando o pão congelado e assando na padaria (fica pronto em 15 minutos), porque a máquina de fazer pão está estragada. Considerando o aumento da farinha e os custos para a produção, ela avalia que poderá fazer economia se continuar comprando o pão cru.

Substituição é difícil

Iara Rosângela Sá, 47 anos, compra entre seis e oito pães por dia. Mesmo se ficar mais caro, ela não deixará de comprar:

- É difícil de substituir o pão.

Saiba mais

Neste ano, o Rio Grande do Sul esperava colher 2,5 milhões de toneladas de trigo, mas colheu apenas 1,8 milhão (por conta das chuvas e o granizo). Parte disso será exportado, porque é um trigo de má qualidade, serve apenas para biscoitos e massas de menor qualidade ou ração de animais.

O Paraná (que, junto com o RS, responde por 90% da produção nacional) também teve quebra de mais de 10% da safra devido ao clima.

A Argentina, que é o nosso principal fornecedor, por conta da crise, diminuiu a área plantada. A expectativa era de que colhesse 13 milhões de toneladas de trigo. Colheu apenas 11 milhões. O consumo no país é de quase 5 milhões de toneladas/ano.

Com isso, a Argentina só pode exportar 6 milhões de toneladas (que são vendidas entre vários países), o que acaba não suprindo a necessidade do mercado brasileiro (o consumo anual no Brasil é de 11 milhões de toneladas/ano).

Dessa forma, será necessário buscar trigo em países como Estados Unidos, Canadá e Austrália (onde também há escassez de trigo).

Trazendo trigo de países de fora do Mercosul há, ainda, a incidência de uma taxa de importação de 10%, e taxas sobre frete, o que encarece ainda mais o grão.

Para 2013, a necessidade de importação será entre 7 e 8 milhões de toneladas de trigo. Desde 2006 não havia importação tão alta.


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