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Lixão toma conta de terreno onde deveria existir escola na Zona Sul da Capital

Área na Avenida Oscar Pereira poderia ter sido transformada em centro de ensino há oito anos. Enquanto isso, promessa em Orçamento Participativo vira depósito de lixo

09/01/2016 - 07h05min

Atualizada em: 09/01/2016 - 07h05min


Alessandra Noal
Alessandra Noal
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Omar Freitas / Agencia RBS

Poderia ser uma escola municipal de ensino fundamental para 1,2 mil crianças, mas, ao invés disso, peças de televisores quebrados, uma privada descartada, centenas de embalagens, madeiras e um matagal ocupam um grande terreno na Avenida Oscar Pereira, número 6.200, na Zona Sul de Porto Alegre.

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O centro de ensino que seria chamado de Escola Alto Embratel nunca saiu do papel, apesar de ter sido desenhado e uma verba de milhões ter sido garantida à estrutura por meio do Orçamento Participativo (OP) - documento feito com a participação da população para definir o destino de orçamentos públicos da cidade.

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De acordo com o conselheiro do OP da Região Glória, Enilson Schepff Gambarra da Silva, 56 anos, em 2008 a comunidade solicitou a compra do terreno para a prefeitura, que atendeu ao pedido e comprou o espaço por cerca de R$ 380 mil.

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Fotos: Omar Freitas / Agência RBS

No OP de 2008/2009, foram agravados R$ 50 mil para começar a construção do imóvel. Em 2011/2012, mais R$ 4,7 milhões foram destinados para realizar o projeto da obra, fazer a licitação e construir a escola.

- Pelo que nos passaram, foram feitas duas licitações, mas nenhuma empresa se interessou. O terreno, por ser rochoso, deixa a obra ainda mais cara. Em 2015, a prefeitura disse que iria adequar o projeto e lançar novamente a licitação, mas ninguém mais deu uma resposta para nós quanto a isso - conta Enilson.



Segundo o conselheiro, foi solicitada uma reunião com os Conselheiros do Orçamento Participativo, que não aconteceu.

- A criança que não está na escola, está na porta de um beco. É muito grande a nossa necessidade de ter um colégio, com ensino fundamental o dia inteiro para educar nossos pequenos - defende.

Educação na Glória

A técnica em laboratório Liziane Paz, 37 anos, mora no bairro há 17 anos. No fim do ano passado, começou a se preocupar com o destino da educação do filho Kawan Paz da Silva, 11 anos, já que a escola em que estudava tem aulas apenas até o quinto ano do ensino fundamental.

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- Por falta de opção, terei que matricular ele na Doutor Pacheco Prates, no Belém Velho. Ele vai ter que pegar ônibus para se locomover, que demora em média 20 minutos. A Alto Embratel seria muito boa, em turno integral e mais próxima de casa - avalia.

A região Glória tem cerca de 42,2 mil habitantes, segundo dados do IBGE de 2010. Conforme dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) de 2013, a região possui 37 escolas, sendo 26 privadas, dez estaduais e uma municipal. Do total de 12,6 mil crianças e adolescentes da região - entre zero e 18 anos - 9 mil estavam matriculadas em 2013, sendo 5,9 mil no ensino fundamental e 599 no ensino médio. Entretanto, em 2014 houve um aumento de abandono da escola: 2% no ensino fundamental, equivalente a 116 alunos, e 9,23% no ensino médio, igual a 48 alunos.

A Escola Municipal Alto da Embratel funcionaria em turno integral, para atender a 1,2 mil alunos dos bairros.

Esperança fica para 2016

De acordo com a Secretaria Municipal de Educação (Smed), foram realizadas duas licitações para a construção da escola, porém ambas foram desertas (sem nenhum interessado). Foi necessário um novo projeto, para adequar a obra e valor. A nova licitação deve ser lançada até o fim de março.

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O projeto, entretanto, foi encaminhado à Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam) para análise do terreno. De acordo com o advogado Alexandre Burmann, supervisor de Meio Ambiente da Smam, o terreno é considerado uma Área de Preservação Permanente, já que está localizado no topo de um morro. Segundo a lei federal 12.651/2012, não é possível construir em áreas com estas características.

- Encaminhamos o despacho em novembro para a Procuradoria Geral do Município (PGM) para tentarmos abrir uma exceção na lei, pois, apesar de ser uma área de preservação, a construção de uma escola caracteriza uma atividade de interesse social, com benefícios para toda uma comunidade - defende Alexandre.

Segundo ele, esta lei pode ter diferentes interpretações, ainda mais pelo local estar em área urbana. 

- Por se tratar de uma situação peculiar, a resposta da PGM deve demorar um pouco mais que o tempo normal, mas acredito que o resultado deva sair ainda em janeiro - fala o supervisor.


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