Notícias



Mães e estudantes

Universitárias relatam que foram constrangidas por professores ao levar filhos para sala de aula 

Estudantes da Ufrgs e da Pucrs denunciaram docentes e relataram episódios no Facebook

01/04/2016 - 15h30min

Atualizada em: 01/04/2016 - 17h51min


Quando chegou com a filha de cinco anos para assistir à aula na Ufrgs na manhã de quinta-feira, a estudante de Letras Mariana Bitencourt, 27 anos, recebeu uma enxurrada de perguntas da professora.

– Ela vai entrar na aula? Tu não tem creche para deixar ela? Nenhum parente pode ficar com ela? – disse a docente, conforme seu relato.

Leia mais
Aposentada ensina inglês para crianças do Bairro Mario Quintana
"Eu deveria estar feliz": mães quebram o silêncio sobre a depressão pós-parto

Constrangida com olhares e bufadas que a professora dirigia à filha, Mariana desistiu de assistir à aula e abandonou a sala depois de 15 minutos de pressão. Imediatamente, procurou a Comissão de Graduação da universidade para denunciar o caso. De acordo com a estudante, ela foi seguida pela professora, que continuou a constrangendo por ter comparecido à aula com a menina.

– Foi bem ruim. Eu fiquei chocada com o que aconteceu, porque a gente não esperava. Minha filha ficou brincando de boneca, cochichando com as bonecas, e a professora o tempo inteiro interrompia a aula para suspirar e olhar feio para minha filha – disse Mariana em entrevista ao Diário Gaúcho.

Assustada com a reação da professora, a filha sussurrou para a mãe:

– Eu vou sair daqui, tá mãe.

Na tarde de quinta-feira, a menina teve de ser levada à orientação pedagógica da escola onde estuda por estar alarmada. Na mesma noite, Mariana usou o Facebook para desabafar. Seu post na rede sociais tinha quase 4,5 mil compartilhamentos até o início da tarde desta sexta-feira.

Publicado por Nina Biten Court em Quinta, 31 de março de 2016

"O que eu fiz pra deixar minha mãe triste assim? Por que minha mãe foi expulsa da aula por minha culpa?"Essas duas...

– Quantas mães não assistiram aula por causa dos seus filhos hoje? Quantas mães não conseguiram emprego por causa dos seus filhos hoje? E quantas mais serão excluídas por serem mães amanhã? – refletiu a universitária.

No início de março, outro caso semelhante ocorreu em Porto Alegre. A estudante de Publicidade e Propaganda da Pucrs Taís Barboza da Conceição, 23 anos, relatou ter sido expulsa pelo professor porque amamentava a filha de sete meses em sala de aula. Ao relatar a situação no Facebook (foram mais de 150 compartilhamentos), Taís detalhou a intolerância do docente:

– Assim não dá, né? Pode sair da sala – disse ele, apontando para a porta.

Publicado por Taís Barboza da Conceição em Quinta, 3 de março de 2016

Terça feira, dia 01/03/2016. Uma mãe, uma negra, uma militante, eu.Entrei na sala de aula as 19:40, pois tinha ido...

A estudante denunciou o professor para os órgãos responsáveis da universidade e pretende processá-lo. Depois da confusão, conseguiu o direito de levar a filha para a aula sem ser incomodada.

Em uma reunião realizada no dia seguinte ao episódio, a coordenação do curso de Publicidade e Propaganda enviou um e-mail à Taís pedindo desculpa e garantindo que a Faculdade de Comunicação Social da Pucrs é um ambiente de acolhimento e respeito às liberdades individuais.

– Eles não acharam algo que dissesse que eu não poderia levar minha filha. Inclusive, disseram que isso era um direito meu – reforçou Taís.

Ao usarem a internet para dividir os momentos de tensão, as mães justificaram-se dizendo que as filhas não estavam atrapalhando a aula. Mariana acrescentou que levar a menina para a universidade é a única forma de continuar estudando. Taís insiste que ir acompanhada da filha à universidade é direito dela.

– Imagina deixar uma criança que mama no peito com outra pessoa? Eu não tinha com quem deixá-la – disse.

Posição das universidades

A assessoria de imprensa da Pucrs negou que Taís tenha sido expulsa pelo professor. Na versão da universidade, a estudante teria apenas se incomodado com um comentário e decidido deixar a sala por vontade própria. Informou ainda que Taís continua levando a filha e que a instituição não faz qualquer restrição a isso.

A assessoria de imprensa da Ufrgs informou que a diretora do Instituto de Letras, a professora Jane Fraga Tutikian, está aguardando que Nina informe o nome da professora que a constrangeu para que a instituição possa encaminhar um processo administrativo na universidade. Na manhã desta sexta-feira, Mariana fez uma denúncia na ouvidoria da Ufrgs.

Em relação à possibilidade de as universitárias levarem filhos para a aula, a assessoria da Ufrgs informou que a universidade não tem posicionamento sobre o assunto.

Leia outras notícias
Curta nossa página no Facebook


MAIS SOBRE

Últimas Notícias