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Dia dos Pais: conheça histórias de pais que passarão a data a quilômetros de distância dos filhos

Na tentativa de continuarem próximos, mesmo com um oceano os separando, vale conversar pelas redes sociais, carregar uma mensagem no celular ou até uma foto surrada na carteira.

13/08/2016 - 04h02min

Atualizada em: 14/08/2016 - 15h09min


Aline Custódio
Aline Custódio
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Moisés e a saudade dos filhos que ficaram no Nordeste

Contra a própria vontade, muitos pais passarão este final de semana distantes dos filhos. São aqueles cujas profissões e o trabalho ao qual estão vinculados os forçam a ficarem afastados, também nesta data especial, dos que mais amam. Para suportar a saudade e os quilômetros que os separam, a saída é recorrer ao telefone, à internet ou, simplesmente, direcionar o pensamento aos pequenos. Quando lembram deles, porém, nem estas ações são suficientes para evitar a voz embargada ou as lágrimas. O Diário Gaúcho conta quatro histórias de pais que se obrigaram a viver longe dos filhos. Na tentativa de continuarem próximos, mesmo com um oceano os separando, vale conversar pelas redes sociais, carregar uma mensagem no celular ou até uma foto surrada na carteira.

Mickeas e Débora Quézia nas mãos do pai

"Carrego eles comigo o tempo todo"
Duas 3x4 são apresentadas como relíquias pelo pedreiro Moisés Veloso da Silva, 30 anos, de Coruripe, Alagoas, que há quatro meses vive no alojamento de uma construtora, na Zona Norte de Porto Alegre. Por dia, ele perde a conta das vezes que olha para os semblantes sérios dos filhos Débora Quézia, sete anos, e Mickeas, nove anos, guardados nos pequenas fotos dentro da carteira – que não sai do bolso da calça.

– Carrego eles comigo o tempo todo. Volta e meia, dou uma olhadinha para senti-los por perto. Mas é no alojamento, na folga, que eu perco o tempo olhando para eles – conta.

No quarto dividido com outros quatro colegas, Moisés guarda também – e não mostra para ninguém – uma blusa da mulher, Adriana, 30 anos, com quem está casado há 11 anos. Revela que foi a forma encontrada para seguir lembrando do cheiro dela durante os dez meses que costuma ficar longe de casa. Ele só costuma voltar para casa entre os meses de novembro e dezembro. Porém, como faz pouco tempo que foi contratado no Sul, não sabe ao certo quando voltará a abraçar a família. Há nove anos, a rotina do pedreiro tem sido esta: percorrer os Estados brasileiros em busca de trabalho na construção civil. E até consegue rir da situação de não ver o crescimento dos filhos.

– Teve uma vez que saí e, logo em seguida, ela (a mulher) me disse que estava grávida. Quando voltei, o menino já estava em pé. Viajei de novo e, na volta, o cabra já estava falando. Como é que pode? – brinca.

O melhor
Apesar da rotina de viajante, ele afirma sentir ainda mais falta dos filhos no Dia dos Pais. Não lembra o último passado ao lado deles:_ A única forma de falar com eles é pelo WhatsApp. Fico até duas horas no telefone cobrando as notas na escola, a educação com a mãe. Entendem que estou longe por eles, tentando fazer o melhor para eles.

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Marcos e a saudade do filho de dois anos

"É difícil demais ficar longe dele"

A falta de vagas na construção civil em Alagoas, no Nordeste, levou o pedreiro Marcos Veloso da Silva, 30 anos, a tomar uma decisão considerada por ele como a mais difícil de toda a vida: deixar o filho único Marcos Vinícius, dois anos, e a mulher Josilene, 22 anos, e partir de São Miguel dos Campos para o outro lado do país rumo a um emprego.

– Ficar longe dele me fez perceber a importância da minha condição de pai. Tudo que faço é por ele – conta, sem esconder a emoção.

Motivado pelo primo Moisés, Marcos está há quatro meses trabalhando na construção de novos condomínios em Porto Alegre. Vivendo num alojamento da Zona Norte com mais 93 funcionários da construtora, o pedreiro costuma ficar horas em silêncio olhando a foto desfocada do filhote no celular arranhado. É pelo aparelho que Marcos tenta acalentar a saudade, falando com a mulher três vezes por semana, por mais de uma hora. Com o filho, fala uma vez a cada sete dias. O menino já arrisca palavras quando ouve a voz do pai ao telefone.

– Evito ouvir a voz dele, porque não aguento a dor da distância. É difícil demais ficar longe dele, não vê-lo crescer – desabafa.

Equilíbrio
Esta é a primeira vez que Marcos não estará ao lado do filho no Dia dos Pais. E não fala sobre a data para não chorar na frente dos colegas. A cada dia que passa, o pedreiro anota quantos faltam para voltar para casa. Pretende ficar um ano em Porto Alegre, guardar algum dinheiro e voltar para Alagoas depois de um ano. Ele confessa não ter se adaptado ao clima do Sul.

– Como se não bastasse a distância, ainda tem o frio que me deixa ainda mais triste. É preciso ter muito equilíbrio mental para suportar – finaliza.

Volante ameniza a saudade

"Nada substitui um abraço"
O único momento em que o motorista Gerson Luiz Tolotti Costa, 57 anos, de Charqueadas, deixa de pensar no filho Adriano, 31 anos, e nos sobrinhos Lorenzo, três anos, e Julia, oito anos, ajudados por ele na criação, é quando está ao volante de um ônibus pelas estradas do Estado. Apesar da experiência de mais de três décadas na profissão, Gerson expressa nos olhos marejados a dificuldade de ficar longe da família em datas especiais, como neste domingo.

– Quando chego ao destino, minha primeira ação é ligar para eles e saber se está tudo bem. Foi a profissão que escolhi e, graças a Deus, eles entendem a minha situação. Não é fácil, mas é necessário – afirma.

Tentando esconder a emoção na voz embargada, Gerson mostra um vídeo de 30 segundos guardado carinhosamente no celular. Nele, o afilhado Lorenzo manda um recado em meio a palavras enroladas: "tio, volta logo! Saudade."

– Não tem como não me desmanchar. Temos um vínculo muito forte, pois o crio como um filho – conta o motorista.

Na estrada
Neste sábado, em mais uma viagem a trabalho, Gerson seguirá de Porto Alegre rumo a Uruguaiana – a 631km da Capital. O domingo será distante dos pequenos, em algum canto da Fronteira do Estado. Só voltará à família na segunda-feira.

– Mesmo com o passar dos anos, o sentimento é o mesmo, a saudade é a mesma. Nada substitui um abraço, um beijo dos filhos e da família – resume.

Toni e o filho Lorenzo, em Moçambique

"O amor é inseparável"
É nas mensagens postadas no Facebook que o professor universitário Toni André Scharlau Vieira, 54 anos, exprime a dor da distância do filho mais novo, Lorenzo, seis anos. Desde fevereiro, Toni, natural de Sapucaia do Sul e atualmente morando em Curitiba e lecionando na Universidade Federal do Paraná, não vê o pequeno, que está com a mãe do outro lado do Oceano Atlântico, em Maputo, capital de Moçambique. Lorenzo, filho do segundo casamento de Toni, fará aniversário um dia depois da data dedicada aos pais. Isso aumenta ainda mais o vazio sentido pelo professor.

– Choro muito, é uma dureza incrível. Para completar a minha tristeza, ele só volta em 17 de dezembro. Será o primeiro dia dos Pais e o primeiro aniversário que passarei longe dele – lamenta.

Durante um ano, Toni viveu com a família no continente africano, onde desenvolveu uma pesquisa para a universidade. Porém, acabou voltando e a mulher – que é natural de Bagé – ficou para complementar estudos. Ela voltaria com o filho no meio deste ano, mas ampliou a estadia em mais seis meses. E foi a decisão inesperada que fez aumentar a saudade do professor. Pelo celular, Toni viu o filho aperfeiçoar a forma de se expressar e até o início das "porteirinhas" deixadas pela queda dos dentes de leite. As fotos e as conversas com o pequeno ficam registradas no Facebook do professor, como uma espécie de álbum de família, onde ele ganha forças lendo as mensagens de apoio dos amigos.

– Falo com o Lorenzo todos os dias por Whats ou Messenger. Chego a brincar com ele pelo telefone, mas é lógico que não é a mesma coisa. Pai de outros quatro filhos do primeiro casamento – Chiara, 15, Giuseppe, 16, Pietro, 19, e Giulia, 20 –, que moram com a mãe em Caxias do Sul, Toni garante que amenizará a saudade do filho menor passando o Dia dos Pais ao lado dos mais velhos.

Post da rede social de Toni

Conversa
Numa das conversas mais recentes com Lorenzo, pai e filho falaram sobre a distância de 8 mil quilômetros que os separam. Toni, emocionado, falou da saudade e de que queria o menino junto com os irmãos no Dia dos Pais. Para a surpresa e felicidade do professor, o menino demonstrou maturidade além da idade:

– Ele me disse por áudio "pai, o amor é inseparável". Como parar de chorar depois disso?



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