Notícias



Papo Reto

Manoel Soares dá o recado aos jovens da periferia: resistam sempre

Colunista fala sobre as diferentes oportunidades que cada um tem na vida e como é possível contrariar a desigualdade 

04/03/2017 - 09h00min

Atualizada em: 04/03/2017 - 09h00min


Quem pensa que resistência é peça de chuveiro não conhece instinto de favelado. Estudiosos em neurologia por todo o mundo já constataram que nosso cérebro, ao nascermos, é como um pen drive sem nenhum arquivo. A partir das experiências de vida, vamos imprimindo padrões de comportamento e maneiras de encontrar soluções para os problemas e dilemas da vida.

Leia mais colunas de Manoel Soares

Sendo assim, um menino que vai para a escola com fome tem maior dificuldade em aprender Matemática, pois os seus neurônios estão divididos entre assistir a aula e encher a barriga. No futuro, esse conhecimento fará falta na hora de arrumar um emprego ou entrar em uma faculdade.

O problema é que, ao completar 18 anos, ele disputa oportunidades com jovens que tiveram comida todo dia, ar-condicionado no quarto e férias na Disney. Óbvio que o menino pobre vai perder. Afinal, ele saiu de uma origem com menor acesso. Óbvio que o menino que teve tudo não tem culpa. O que não teve nada também não, mas só um deles vai sofrer as consequências.

Com muita luta, alguns, dentro da realidade ruim de nossas periferias, conseguem ir além de suas origens. Mesmo com fome aprendem, mesmo sem passagem de ônibus caminham 12km e vão fazer a prova da Ufrgs, passam e se formam.

Exceções

A partir da conquista desses heróis que são exceção, algumas pessoas querem definir a regra. Dizem que quem quer consegue, que basta ter força de vontade. Dizem que regras diferentes para quem teve origem diferente é injusto, clamam por justiça ignorando a injustiça na origem.

Ex-morador de rua se torna campeão gaúcho de boxe

Conheça a bailarina da periferia de Alegrete que vai dançar em Nova York

Quando questionados sobre essa falha de raciocínio, dizem que a culpa é dos políticos e por aí vai. Contrariar o destino traçado pela desigualdade exige de nós mais que do força de vontade. Exige base, base que é destruída antes mesmo de existir.

Quem nasce em favela tem que resistir, resistir a tudo sempre. Resistência é a nossa marca registada. Quando vejo uma pessoa e ela me diz onde mora ou nasceu, sei quais preços pagaram para serem quem são. Olhem nos olhos de seus filhos e façam ele prometerem que vão resistir sempre. A palavra de ordem é: resista.



MAIS SOBRE

Últimas Notícias