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Em ação voluntária, crianças com câncer vão virar super-heróis por um dia

Iniciativa com pacientes do Hospital da Criança Santo Antônio quer proporcionar um oásis de alegria em meio ao tratamento

18/05/2018 - 16h05min


Marcel Hartmann
Marcel Hartmann
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Andréa Graiz / Agência RBS
À esquerda, Lais Eduarda, oito anos. À direita, Ashley, de seis. As duas são pacientes da oncologia do Hospital Santo Antônio

Fábio, oito anos, quer ser invencível. Alexia Alana, quatro, deseja colorir tudo o que toca - semelhante ao rei Midas. Ashley, seis, sonha em pular altíssimo. Laís Eduarda, oito, gostaria de voar. Graças ao esforço de voluntários em uma campanha iniciada nesta quinta-feira (17) no Hospital da Criança Santo Antônio, em Porto Alegre, eles se tornarão super-heróis: ganharão trajes fantásticos e farão uma sessão de fotos para simular cenários de filmes e histórias em quadrinhos. Os quatro são pacientes do setor oncológico da instituição. Os quatro tem, sim, super-poderes.

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A iniciativa foi inspirada na ação do fotógrafo norte-americano Josh Rossi, que fez um ensaio fotográfico, no ano passado, com uma "Liga da Justiça extraordinária", composta por crianças com doenças graves ou deficiência – a ideia era transformar as fraquezas das crianças em super-poderes. 

Em Porto Alegre, a equipe do Santo Antônio deseja proporcionar um ambiente mais leve em meio à dura rotina para os pequenos que realizam tratamento contra o câncer. A ação será posta em prática com o esforço voluntário de estudantes de design de moda da ESPM, do estúdio de fotografia Mutante e da produtora de filmes Mythago. 

— O tratamento é longo, envolve cirurgias, quimioterapia e radioterapia. Nosso papel é minimizar os traumas dessas internações. Nesse momento, não falaremos de doença — sintetiza a gerente administrativa do hospital, Swetlana Cvirkun.

O primeiro passo, dado nesta quinta, foi entender como as crianças gostariam de ver seus trajes – a partir daí, as estudantes de moda vão elaborar as roupas e, em junho, entregá-las aos heróis. Os pequenos eram interrogados: quais super-poderes você gostaria de ter? Como seria sua roupa? Nas respostas, características internas eram projetadas e amplificadas no papel.

— Gosto da Mulher-Gato. Quero voar, já sei até subir em árvore — disse Laís Eduarda, que enfrenta um câncer nos tecidos moles do corpo há cinco anos e já passou por cirurgias na bexiga, no ovário e no abdômen. — E tenho a resposta na ponta da língua!

— É bem a Mulher-Gato mesmo, muito destemida e sincera, vira uma leoa para defender colegas que sofrem piada — explica a mãe, a dona de casa Karina da Silva, 36 anos. 

Andréa Graiz / Agência RBS
Da esquerda para a direita: Ashley, Laís Eduarda, Alexia Alana e Fábio

Alexia Alana, a mais nova do grupo, começou em 2014 uma rotina de cirurgias, quimioterapia, radioterapia e fisioterapia para vencer um tumor no músculo da panturrilha direita e metástase no pulmão. 

— Eu sou a Mulher-Maravilha. Quero ter uma saia rosa de bailarina e uma tiara de unicórnio — explica a garota que quer colorir tudo o que toca e que, no papel, pinta a si mesma com muitas cores.

Fábio Kauã desenhava um homem semelhante ao Super-Homem e ao Lanterna Verde. Quer ser um herói de capa, cinto, anel verde no dedo e força descomunal. A mãe, a dona de casa Ana Delvina Martins, 39, afirma que o garoto já tem essa habilidade. Em 2015, o que era uma suspeita de pneumonia forte revelou-se um câncer no pulmão, ao que o garoto reagiu destemido. 

— Claro que no começo ele ficou abatido, mas teve muita força e fé para enfrentar. Nunca reclamou de agulha ou de dor, mesmo fazendo quimioterapia e cirurgia — diz. 

Ashley, aquela que deseja pular muito alto, tem leucemia e atelectasia, um colapso em parte do pulmão como efeito colateral da quimioterapia. Apesar de, no dia anterior, ter internado na emergência por infecção intestinal, hoje ela andava de um lado para o outro empolgada. Em seu desenho, uma jovem vestia um macacão com estrelas, exibia um óculos de sol com lentes na forma de corações e portava uma bolsa em formato de flor.

A mãe acha graça.

— Esse desenho é cara dela. Ela é muito fashionista, sempre tem que estar combinando. E só podia querer pular, porque não para quieta nem com febre, está sempre pulando para cá e para lá — brinca a vendedora Pâmela Cueva, 33 anos.

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