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Maus-tratos

Vira-latas enterrada viva se recupera e será adotada por brigadiano que a socorreu

Cachorrinha tem menos de um ano e chegou ao Hospital Veterinário da Ulbra ferida, subnutrida e com baixa consciência

14/09/2022 - 14h40min

Atualizada em: 14/09/2022 - 14h41min


Tiago Boff
Tiago Boff
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS

Quem encontra Hope com o rabo balançando o tempo inteiro não imagina que ela tenha sido retirada de um buraco, a meio metro do chão, 24 horas antes, em Canoas, na Região Metropolitana. Resgatada por agentes do 15º Batalhão de Polícia Militar, na tarde de terça-feira (13), a vira-latas estava enterrada, enquanto ainda respirava. Embarrada, com o corpo gelado e uma ferida profunda e já necrosada no pescoço, foi levada às pressas ao Hospital Veterinário da Ulbra.

— Ela estava debilitada, com baixa consciência, quase que em estado de coma. Com fome e subnutrida, sinal de que deve ter ficado alguns dias sem comer. O termômetro nem marcou na primeira medição, de tão baixa que estava a temperatura — relata a médica-veterinária residente Anna Carolina Marques.

O nome Hope, que traduzido do inglês significa "esperança", foi escolhido em decisão conjunta da equipe enquanto a cachorrinha se recuperava após o primeiro atendimento: ela chegou à instituição com a corda que servia de coleira atada com força — a investigação apura se teria sido esganada, antes de colocada na vala do pátio da casa do criminoso, no bairro Guajuviras.

Na UTI, a crueldade foi substituída por carinho: virou xodó das médicas, que acompanham de perto a recuperação, considerada acima da média, pelo pouco tempo desde que foi resgatada.

— É inesperada a evolução da nossa princesa —complementa Anna Carolina.

Se o quadro de Hope se mantiver estável, ela deverá ganhar alta nos próximos dias.

Reencontro

Nesta quarta-feira (14), enquanto posava para fotos e filmagens, Hope reencontrou os autores da prisão em flagrante: sargento Rodibeldo Ohlweiler e soldado Lucas Camara Goldani — este último, decidido a cuidar da mascote permanentemente.

— Eu abri o buraco e vi a cachorrinha ainda se mexendo. Não tem como não se comover ao lembrar da cena. Liguei pra minha esposa e ela concordou em adotar. Foi o que aprendi com a minha mãe, resgatar os animais da rua — complementa o soldado.

Hope está cheirosa e com pomada na ferida aberta no pescoço. Tem um curativo na pata direita e veste roupa rosa com estampa de ossos coloridos. É de pequeno porte, tem pelo preto e manchas caramelo. Estima-se que ela tenha menos de um ano de idade.

Não demonstra espanto ou qualquer reação contrária a chamegos — fica no colo pelo tempo que a pessoa quiser —, encantos que mexeram com a médica-veterinária Marthyna Schuch.

— Me apaixonei. Mas aí o policial fez contato comigo e disse que também queria adotar — lamenta Marthyna, que cedeu a guarda para Goldani.

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
O soldado Lucas Camara Goldani dará um lar temporário à cadelinha enquanto o caso corre na Justiça, mas quer tutela definitiva

Investigação

Segundo a delegada Tatiana Bastos, da 4ª Delegacia da Polícia Civil de Canoas, o brigadiano poderá ser o fiel depositário e prover lar temporário enquanto o caso corre na Justiça. A investigadora prevê concluir o inquérito em 10 dias, com indiciamento por crueldade contra animais, na forma qualificada. Se o judiciário decidir por retirar a guarda do tutor, é iniciado o processo de adoção.

O autor dos maus-tratos, um homem de 27 anos que não teve o nome divulgado, aguarda, nesta quarta-feira, audiência que pode converter a prisão em flagrante em preventiva ou colocá-lo em liberdade. O acusado que abriu a cova e sepultou a animal diz que ela parecia estar morta.

A Lei 14.064 de 2020, sobre maus-tratos a cães e gatos, trouxe ampliação das penas por estes delitos, que agora ficam entre dois e cinco anos de reclusão, bem como a possibilidade de conversão dos flagrantes em prisão preventiva.

Denúncias podem ser feitas pelo telefone 190.



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