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Brique do DG

Conheça as dificuldades de quem empreende na periferia

Diário Gaúcho conta histórias de empreendedores e apresenta dicas de como vencer as barreiras

19/10/2022 - 14h07min


Lauro Alves / Agencia RBS
MIchel criou uma agência de comunicação no Morro da Cruz, na Capital

Oito anos depois de fundar uma agência de comunicação no Morro da Cruz, zona leste de Porto Alegre, e assumir protagonismo na região, Michel Couto, 37 anos, não tem dúvidas de que as dificuldades são maiores para os empreendedores da periferia. 

– Se alguém quiser empreender no 4º Distrito, provavelmente, vai poder pegar dinheiro emprestado. Mas, aqui, vão pensar duas vezes, dizer que é perigoso, pedir um monte de garantia. Então, quando se empreende na periferia, em geral, se começa do jeito que dá – resume. 

Potencial 

– Eu era vigia em uma agência de publicidade e ficava acompanhando os caras que trabalhavam na madrugada. Até que me perguntaram se eu queria aprender. Comecei assim e saí de lá como diretor de arte – relembra. 

Nessa época, Michel passou a trabalhar em casa e, poucos anos depois, abriu uma gráfica, que atendia os pequenos negócios do bairro. A transformação para agência aconteceu à medida em que ele percebia o potencial do Morro da Cruz. Ao mesmo tempo, os clientes dele também foram descobrindo mais sobre seu próprio público. 

– Percebi que era preciso fazer o cara daqui notar que ele pode querer empreender lá no centro, mas que aqui pode ser a nossa melhor chance. Por quê? Porque estamos em casa – conclui. 

Hoje, Michel tem uma ambição maior: abriu um espaço colaborativo para que os empreendedores locais possam trocar experiências e, com isso, alavancar cada vez mais a região do Morro da Cruz. 

"Inovar todos os dias"

Aos 34 anos, Thayna Brasil tem um estúdio de beleza voltado a pessoas negras e compartilha seu saber em projetos e cursos de empreendedorismo. Moradora do bairro Cascata, na Capital, ela diz que tomou consciência do potencial da periferia a partir da convivência com outras empreendedoras: 

– Elas foram me ajudando a perceber. E eu comecei a pensar “por que preciso sair daqui (para empreender)?”. 

Lauro Alves / Agencia RBS
Thayna percebeu aos poucos o potencial de empreender na periferia

Porém, diz que esse despertar só foi possível porque ela teve chances que muitos não têm. Além de ter estado junto a outras empreendedoras, ela ressalta o estímulo que recebeu da família para que estudasse – Thayna é formada em Turismo e especialista em Gestão de Negócios. 

Na visão dela, a falta de atenção à periferia faz com que empreendedores locais não consigam perceber que podem evoluir. Isso, aponta, acaba colocando os negócios em uma espécie de zona de conforto e tirando deles boas oportunidades de inovar. 

– Só que, mesmo assim, temos que inovar todos os dias. Fazer cursos, buscar qualificação, aprender a se comunicar, diversificar os métodos de pagamento – defende. 

Ponto crítico: internet

Educadora financeira, atuando com consultoria para empreendedores em comunidades, Dina Prates aponta a digitalização com um dos principais desafios para negócios da periferia:

– É dificuldade de ter acesso à internet, às redes sociais e às ferramentas de trabalhos que vão impulsionar esses negócios. 

Ela avalia que, por vezes, esse obstáculo impede que negócios cresçam. 

Para Dina, um dos caminhos para diminuir a desigualdade entre as jornadas de quem empreende dentro e fora da periferia é oferecer formação aos empreendedores das comunidades. E ela aponta que essas capacitações deveriam abarcar diversas áreas: gestão, marketing, vendas, finanças. 

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– É muito fácil dizer para uma empreendedora que vende comida, por exemplo, que ela precisa usar o WhatsApp Business e colocar o negócio dela no iFood. Só que é necessário ensinar como usar essas ferramentas, respeitando suas limitações – explica. 

Outro ponto levantado por Dina diz respeito à concessão de crédito. Ela destaca que, na periferia, os empreendedores precisam começar com o seu próprio capital. Só que, pondera, crescer demanda investimento:

– Então, é preciso liberar acesso ao crédito, com responsabilidade. Não basta dar acesso, virar as costas e depois chamar as pessoas de endividadas. Tem que orientar o uso.

Ações em parceria com a prefeitura 

Conforme o Secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Porto Alegre, Vicente Perrone, o município tem ciência das dificuldades de alcançar as zonas periféricas, mas trabalha para diminuí-las. Para isso, oferece atendimento via unidades do Cras. 

– No programa Cidade Empreendedora, trabalhamos pela facilitação do processo de formalização de negócios e pela educação do empreendedor. São mais de mil horas contratadas junto ao Sebrae para cursos de capacitação dos empreendedores e também da rede escolar municipal. Já o (programa) Juro Zero visa estimular a tomada de crédito – conta. 

Dicas para o seu negócio

// Converse com outros empreendedores. De preferência, aqueles que estão em situação semelhante à sua, que podem falar a mesma língua que você. 

/// Forme ou participe de redes de colaboração e veja outros empreendedores não como concorrentes, mas possíveis parceiros. Juntos, vocês poderão alcançar um público maior. 

/// Separe e organize bem suas finanças. Se tiver dificuldades em usar serviços bancários tradicionais, os bancos digitais têm contas gratuitas e que podem ser boas opções. 

/// Pense bem na precificação do seu produto, levando em conta, inclusive, o público para o qual pretende vender. 

/// Tenha presença nas redes sociais. Divulgue seus produtos e sua marca.  

/// Qualidade é uma exigência de todos os clientes, então, persiga um diferencial e apresente-o. Faça seu cliente perceber que você quer crescer. 

/// Sites como Aliança Empreendedora e Rede Mulher Empreendedora oferecem capacitações gratuitas e podem ser boas opções. 

/// A Sala do Empreendedor da Capital (Avenida Júlio de Castilhos, 120, centro) oferece informações sobre os programas municipais. Agende o atendimento no site

/// Nos bairros, informações podem ser obtidas nos Cras. Veja os endereços no site

Fontes: educadora financeira Dina Prates, empreendedor Michel Couto e Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico de Porto Alegre

Produção: Guilherme Jacques



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