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Entre livros e tijolos

Escolas estaduais criam alternativas para manter aulas em meio a problemas e obras

Com ensino remoto, horários adaptados ou até mesmo em outro endereço, direções alteram a rotina dos alunos como alternativa para manter atividades 

18/10/2022 - 09h19min

Atualizada em: 18/10/2022 - 09h23min


Laura Becker
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Aline Ecker
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Neimar De Cesero / Agencia RBS

Prestes a completar um ano da retomada obrigatória das aulas presenciais no Rio Grande do Sul, alunos de diferentes escolas estaduais ainda enfrentam alterações em sua rotina de estudo. A mudança, no entanto, não é influenciada pela pandemia, mas sim por problemas estruturais ou obras que são realizadas nos prédios das instituições.

A pedido de GZH, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) informou que seis escolas estão temporariamente com alterações em sua operação por conta de reformas que estão em andamento ou próximas a começar. Conforme a pasta, foram consideradas somente as instituições de ensino que estão com aulas remotas em pelo menos um turno de atividades.

No Norte, a Seduc informou que se enquadram no levantamento o Instituto Estadual Ernesto Ferreira Maia, localizado em Fontoura Xavier, que enfrenta problemas na rede elétrica e Escola Indígena Monte Caseros, em Ibiraiaras, que está em fase de finalização do projeto arquitetônico para um novo imóvel. Até que uma nova sede seja construída, a comunidade aguarda a locação de contêineres. De acordo com a secretaria, a escola Monte Caseros está interditada desde janeiro de 2022, após a queda de um pinheiro sobre a estrutura, e não tem previsão de conclusão dos trabalhos.  

Na região da Serra, passam por alterações no funcionamento a Escola Estadual de Ensino Médio Victório Webber, que está em reforma geral, e a Escola Estadual de Ensino Médio Alexandre Zattera, onde são feitas obras no telhado e no piso. Ambas estão localizadas em Caxias do Sul

Ainda foram listadas a Escola Estadual de Educação Básica Presidente Roosevelt, de Porto Alegre, no bairro Menino Deus, que sofreu furtos de cabos e ficou sem luz no começo de setembro. A obra necessária para restabelecer a energia deve começar até o final de outubro.  Um problema semelhante também prejudica outra comunidade escolar da Capital, da Escola Ensino Fundamental Santa Rita de Cássia, que fica no Morro Santa Tereza.

No escuro desde agosto

Desde agosto deste ano, o Instituto Estadual Ernesto Ferreira Maia opera com grande parte da rede elétrica desligada. O motivo foi um incêndio na caixa de energia externa que fez a direção decidir pelo desligamento da energia para evitar novas ocorrências.

Com 78 anos, o Instituto nunca passou por uma reforma na parte elétrica e vinha enfrentando a sobrecarga da rede com quedas de luz sempre que um número maior de equipamentos era ligado. Agora, apenas o espaço onde fica o ginásio da escola — que possui uma rede separada — tem eletricidade e virou o ponto onde está concentrada a área administrativa e os eletrodomésticos da cozinha, o que garante a merenda dos estudantes.

Para não deixar a maior parte dos mais de mil alunos sem aulas presenciais, a direção, em parceria com a comunidade escolar, manteve os estudantes dos turnos da manhã e da tarde com aulas presenciais. As atividades, no entanto, são apenas nas salas de aulas e ambientes onde a iluminação da rua permita o trabalho. Para o turno da noite, que possui o menor número de alunos, a única alternativa foi manter as aulas online e a entrega de material impresso. São três turmas de Ensino Médio que seguem este cronograma.

No dia 7 de outubro, foi assinado o contrato com a empresa vencedora da licitação que fará a reformulação da rede elétrica. A previsão é que a reforma tenha duração de até quatro meses.

A diretora do Instituto Estadual Ernesto Ferreira Maia, Eliane da Rosa Baptista, afirma que a decisão por este formato das aulas foi a melhor alternativa de organização e só foi possível com a compreensão dos alunos e dos pais.

— A situação está longe de ser a ideal, mas foi como conseguimos manter as aulas, e contamos com participação de todos os envolvidos. É claro que é sofrido trabalhar nestas condições, mas dentro das possibilidades, foi o possível. Ainda hoje, quando entramos na sala para começar a aula, alguém apertou a tecla da luz — relatou.

A escola é a maior da 25ª Coordenadoria Regional de Educação, que reúne outros 17 municípios da região. No município de Fontoura Xavier, é a única da rede estadual na área urbana.

Obras na Serra

Na Escola Estadual de Ensino Médio Victório Webber, em Caxias do Sul, o prédio passa por reforma geral. A previsão da secretaria é encerrar os trabalhos em dezembro de 2022. As aulas seguem com horários reduzidos, e a direção da escola optou por não conversar com a reportagem neste momento.

A escola Alexandre Zattera, no bairro Desvio Rizzo, também está em obras, e os alunos em ensino remoto. Desde 14 junho de 2021, quando se comprovou o risco de desabamento do telhado acima do saguão de entrada, cerca de mil alunos lidavam com o improviso de ter que entrar diariamente pelas portas laterais para acessar o prédio do colégio. A troca do telhado ainda não veio, mas com uma verba extraordinária, a instituição conseguiu encaminhar a troca do piso das salas da direção, vice, professores e secretaria e também a pintura desses espaços.

— A qualquer momento alguém podia cair e se machucar porque o piso estava cheio de cupim e começou a afundar, a gente sentia que as madeiras estavam cedendo. Agora está sendo colocado o piso de lajota. A escola também não recebia uma pintura há anos, se é que já foi pintada, então usamos uma cor mais clara e que dê vida e alegria para que os alunos se sintam melhores— explica a vice-diretora Vanessa Vetturazzi.

De volta ao ensino remoto

Os estudantes estão com aulas no modelo remoto desde 3 de outubro. Nesse período, as aulas são postadas pelos professores na plataforma do Google Classroom na segunda-feira de cada semana. A previsão é que o reparo termine dia 20 e será preciso um mutirão para organizar tudo e receber os estudantes no dia 24 deste mês. Como todos os móveis e documentos tiveram que ser retirados das salas, a biblioteca está repleta de caixas com documentação, e o refeitório com móveis e cadeiras. No saguão, também há móveis.

Quando a reportagem de GZH foi até a instituição, na última terça-feira (11), nas salas de aulas um grupo de professoras corrigia as atividades e provas e preparava o conteúdo para repassar aos estudantes. Em outra sala, a professora de Língua Inglesa, Evandra Miolo, 41 anos, estava online para tirar dúvidas dos dos alunos de diversos anos. Ela entende que a obra é necessária, mas ressalta que estavam em um momento de retomada, e agora voltaram ao ensino remoto.

— Os alunos estavam readaptados à sala de aula convencional e a gente precisou fazer essa readaptação de novo, voltando para o ensino remoto. A gente já ficou com vários déficits quanto a ao ensino e à aprendizagem por conta da pandemia, e agora a gente precisa que isso aconteça novamente. A gente sente, e os alunos também sentem essa dificuldade — avalia ela.

Insegurança entre os pais

A escola é o segundo maior local de votação de Caxias, e a interdição do saguão foi retirada pouco antes das eleições, após um engenheiro da Seduc vistoriar o local. Foram colocado escoras e tapumes para que não mexam nesses pontos. A medida, no entanto, gera preocupação entre os pais, conforme explica a presidente do Círculo de Pais e Mestres (CPM), Morgana Veadrigo.

— Ainda corre risco de cair, porque é perigoso. Aquelas escoras que foram colocadas ali em cima é só pra dar uma amenizada, mas não adianta. Então a gente está bem apreensivo ainda com situação do telhado. Quando a licitação é feita, quando é concluída, aumenta tudo, e quem ganhou acaba desistindo e a gente fica na estaca zero. Esperamos que para o ano que vem seja resolvido.

Ela se refere ao fato da empresa vencedora da licitação e responsável pelo conserto total do telhado ter desistido da obra em 14 de junho alegando aumento dos valores dos materiais de construção. Orçada no valor de R$ 413.281,76, a obra já tem recurso liberado e deve passar por nova licitação. 

A titular da 4º Coordenadoria Regional da Educação (4ª CRE), Viviani De Valle, ressalta que a obra emergencial foi uma alternativa enquanto aguardam a nova licitação.

— A empresa vencedora declinou em junho, e foram aplicadas as sanções administrativas. Agora aguardamos uma nova licitação que deve sair em breve. Os tapumes são para ninguém mexer nas escoras e o saguão foi desinterditado — destaca ela.

Já os recursos usados para o escoramento do telhado, R$ 9,5 mil, foram provenientes da verba extraordinária.

Fora da lista, mas ainda em obras

Apesar de não constar na lista da Secretaria da Educação por estarem com todas as aulas no formato presencial, a reportagem de GZH apurou a situação de duas escolas que  enfrentam alterações na rotina de alunos e professores por problemas na estrutura.

 Em São Leopoldo, no Vale do Sinos, o Instituto Estadual de Educação Pedro Schneider está desde o início do ano letivo sem receber os estudantes.

O motivo é a reforma geral que é realizada no prédio da escola Pedrinho, como é popularmente conhecida. Conforme a direção do Instituto, os trabalhos começaram há cerca de dois meses e têm previsão de conclusão entre o final do mês de janeiro e o início de fevereiro.

A obra, que estava prevista desde 2018, teve como ponto de partida a interdição realizada pelo Corpo de Bombeiros Militar (CBM-RS). A principal preocupação do órgão era risco de problemas a partir da rede elétrica do prédio.

Conforme o diretor do Colégio Pedrinho, Vinícius Vilella, o prédio tem quase 70 anos e, durante a pandemia, pequenos ajustes puderam ser feitos. Porém, o valor disponível pela autonomia financeira da escola não permitia reformas mais elaboradas.

— Nos últimos anos, ali no período da pandemia, conseguimos realizar algumas obras, como a reforma de parte do telhado e a substituição da pracinha por uma nova. É importante destacar que a escola nunca esteve abandonada — afirmou o diretor.

A reforma da estrutura tem um investimento de cerca de R$ 1,4 milhão. Durante todo esse período, os estudantes não deixaram de ter aulas presenciais. A saída encontrada pela direção foi negociar com outras instituições de ensino para que cedessem espaço para os alunos.

Assim, o ano letivo do Ensino Fundamental está acontecendo na Escola Estadual Doutor Caldre Fião e do Ensino Médio na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos) , que cedeu salas para que as 20 turmas pudessem ter aula. Ainda segundo a diretor, foram providenciados vales-transportes extras para os alunos que foram mais afetados com a mudança de local. 

Camila Hermes / Agencia RBS
Em Capela de Santana, no Vale do Caí,o Instituto Estadual Manoel Almeira Ramos funciona no espaço da paróquia

Já no município de Capela de Santana, no Vale do Caí, os estudantes do Instituto Estadual Manoel Almeida Ramos não têm previsão de quando terão um espaço próprio para aprender. Atualmente, os 503 alunos estudam no porão de uma paróquia, alugado da congregação católica local pelo governo do Estado. 

Além dos problemas estruturais e inapropriados para ser um local de ensino, há dificuldades para que os estudantes consigam praticar exercícios. De acordo com a direção do Instituto, é aguardado um retorno da Secretaria Estadual da Educação para que seja repassada verba que garanta o aluguel de uma quadra esportiva pertencente à paróquia.

Em nota, a Seduc afirma que tramitam dois processos objetivando a realização da obra da estrutura onde  funcionava o Instituto, uma vez que o prédio anterior incendiou.  A pasta também diz que está em fase de contratação de profissional habilitado para avaliação dos valores locatícios e que depois serão escolhidos locais adequados para atender a necessidade da instituição de ensino.  


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