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"Eternizar memórias"

Catedral de Canela, Theatro São Pedro, Chalé da Praça XV: artesão de Porto Alegre constrói miniaturas de pontos turísticos 

Paulo Dorsch, 68 anos, começou a fazer dioramas como um hobby na garagem de casa durante a pandemia e agora recebe até encomendas

04/01/2023 - 15h31min

Atualizada em: 04/01/2023 - 15h59min


Tiago Boff
Tiago Boff
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Uma garagem no bairro Higienópolis, na zona norte da Capital, guarda uma espécie de minimundo: podem ser visitados o casarão da família Chaves Barcellos, originalmente construído na Rua Duque de Caxias, no Centro Histórico, o Chalé da Praça XV e o Solar dos Câmara. 

Caso queira viajar além de Porto Alegre, é possível cruzar os dois pórticos de Gramado e chegar à Catedral de Pedra de Canela, iluminada com cores lilás, azul, verde e outros tantos tons. 

Não sobra vaga para um carro na garagem, que é ocupada por bancadas repletas de lupas, lunetas, furadeiras, torno e estiletes de precisão do tipo bisturi.

— Não repara que tá bagunçado — defende-se o responsável pelas obras, Paulo Dorsch, 68 anos.

Durante a pandemia, o porto-alegrense precisou fechar o bar e restaurante da família, o Sgt Peppers, reaberto após o avanço da vacinação e controle da propagação do vírus da covid-19. O empresário então reformulou a garagem de casa, emprestando o tempo ocioso aos modelos, que define como “uma forma de eternizar memórias”.

A paixão por detalhes já existia, pois Dorsch é aeromodelista e tem a réplica de um avião DC-3 da Varig no teto do atelier. O foco do trabalho do artesão inclui vilas germânicas, lojas, hotéis e as mais variadas residências. 

O trabalho chama tanta atenção pelo esmero que pedidos começaram a surgir: a partir de fotografias, as pessoas queriam que ele fizesse uma casa de valor efetivo, como da avó ou de outros parentes, e conquistou a vizinhança.

— Todo mundo aqui na volta já tem sua casa em miniatura. Uma vez, um cliente queria presentear a mãe com a casa em que ela nasceu, em Ibirubá. Me mandou fotos, eu fiz um quadrinho. Ele deu pra mãe, mas a tia, que estava na festa, ficou desesperada dizendo "quero uma também". Tive de fazer outra igual — gargalhou Paulo, durante entrevista na Rádio Gaúcha, na manhã desta quarta-feira (4), ao lembrar da herança disputada.

Chamados de dioramas, as réplicas obedecem escala 1:87 (o tamanho real é reduzido em 87 vezes). Para os moldes, ele utiliza madeira balsa, macia a tal ponto que é recortada por estilete. Os carrinhos são comprados prontos. 

Algumas luminárias vêm da China, e as lâmpadas que fazem o ambiente são adaptadas por Dorsch, técnico em eletrônica. Pinça, palito de dente ou de churrasquinho, e quase todo tipo de material pode servir ainda de adorno. Os produtos podem ser conferidos no perfil do Instagram @dioramas_dorsch, mesmo canal para realizar encomendas personalizadas.

Além de construções reais, a oficina é terreno fértil na fantasia: um livro da infância do artesão motivou a construção de uma árvore com casas de gnomos. Uma churrasqueira de tijolos — literalmente para churrasquinhos — foi instalada no pátio, em homenagem ao filho, Guilherme, fã de um assado.

Há ainda castelos bávaros e da saga Harry Potter — o do bruxo carrega uma história especial, e está à espera da sua dona.

— Por dois anos, na exposição que eu sempre participo na Sogipa, uma menina vinha, admirava, olhava e olhava. Esse ano eu fui expor de novo, no Natal, e pensei "vou dar de presente pra ela". Mas ela não apareceu — lamenta, afirmando lembrar do rosto da garota, que deve ter entre 10 e 12 anos, estima.


Confira a entrevista de Paulo Dorsch ao programa Gaúcha Hoje: 



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