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Manejo arbóreo  

Ambientalistas criticam podas de árvores perto de rede elétrica de Porto Alegre; empresas apontam risco ao fornecimento de energia

CPFL Transmissão executou o serviço em dezembro perto da rede de alta tensão situada na Avenida Ipiranga; companhias têm autorização da Fepam para o trabalho

01/02/2023 - 09h39min

Atualizada em: 01/02/2023 - 09h40min


André Malinoski
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Um guapuruvu e uma canafístula, ambos localizados no trecho do bairro Menino Deus da Avenida Ipiranga, no sentido Centro-bairro, foram podados no final de dezembro para evitar o risco de contato com a rede elétrica. O trabalho realizado pela CPFL Transmissão nesta área de Porto Alegre acabou se tornando alvo de críticas de ambientalistas pela forma como foi executado. Apenas partes das copas das árvores foram deixadas. A empresa afirma que "as podas são necessárias para evitar interrupção no fornecimento de energia e, principalmente, acidentes".

— O corte que eles fizeram no guapuruvu é simplesmente um atentado absoluto à saúde desta árvore e à estética. Qualquer um que olhe, e tenha o mínimo de senso estético, percebe que ela está completamente mutilada de forma grosseira — afirma a bióloga Lara Lutzenberger, que acompanhou a reportagem de GZH, nesta terça-feira (31), por alguns pontos da Avenida Ipiranga.

Em outro trecho, em frente ao posto de gasolina situado na esquina com a Avenida Erico Verissimo, Lara viu a canafístula podada:

— A pobre da árvore tem que se transformar numa ginasta — diz Lara.

Na avaliação da bióloga, a poda feita na canafístula desconsiderou 100% a questão do crescimento da árvore, que se molda para ficar firme no terreno. Conforme Lara, para não se colocar em risco a vitalidade da árvore, o ideal é sempre se fazer um corte rente ao tronco principal, do qual sai aquele ramo que se deseja extrair.

— Isso permite que aquele tronco cicatrize e não reste ferida. Para não ocorrer contaminação bacteriana ou fúngica que vá gerar podridão no cerne da árvore e comprometa sua saúde, ocasionando a médio e longo prazo quedas e acidentes imprevisíveis — lembra.

O Instituto Augusto Carneiro (IAC) encaminhou, no dia 24 de janeiro, denúncia à Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Porto Alegre. Foram anexadas ao material enviado para o Ministério Público as fotos das duas árvores citadas. Segundo a presidente da entidade ambiental, Kathia Vasconcellos Monteiro, quem realiza podas sabe que existe uma técnica adequada.

— O que é importante não é multar. Queremos que seja feita uma ação junto à CEEE Grupo Equatorial, para que orientem as empresas contratadas por eles para fazerem a poda de modo correto — observa, dizendo que “não tem o menor sentindo fazer uma poda daquelas.”

A reportagem foi em busca dos responsáveis pelas podas nas duas árvores mencionadas. E descobriu que não foi a CEEE Grupo Equatorial, como supôs o IAC. Quem executou o serviço naquele trecho foi a CPFL Transmissão, que está no Estado desde outubro de 2021, após a aquisição da antiga CEEE Transmissão.

A CPFL informa que as árvores podadas "interferiam na Linha de Transmissão de 230 kV, responsável pelo abastecimento de duas subestações de energia elétrica." O trabalho foi realizado pela companhia nos dias 22 e 23 de dezembro de 2022

Sobre o método utilizado, a CPFL Transmissão disse ter executado tudo "dentro das normas técnicas e ambientais, por empresas parceiras e sob supervisão e fiscalização da CPFL Transmissão". A empresa afirmou que "todos os profissionais têm treinamento e dispõem de ferramental adequado para esse tipo de atividade". Também foi frisado que a companhia "tem licença da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) para execução de podas e até supressão de árvores que interfiram na rede elétrica, válida para toda a área de atuação"

Já a CEEE Equatorial afirma que “implementou o conceito de manejo florestal, incluindo estudos que identificam as espécies vegetais, suas necessidades e seu ciclo de crescimento. A companhia de energia recapacitou todas as equipes de podas com essa expertise". A responsável pela distribuição da energia ao consumidor final na Capital assegura que "o manejo da arborização, realizado por especialistas, é importante para harmonizar a vegetação à rede elétrica da CEEE Grupo Equatorial e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade e continuidade do fornecimento de energia”.

Segundo a prefeitura de Porto Alegre, por meio da Secretaria de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus), as podas de árvores junto às redes de energia elétrica são de responsabilidade das companhias, devidamente licenciadas pela Fepam, "não sendo de responsabilidade da Prefeitura a intervenção e manejo dessa parte da arborização urbana". Mesmo entendimento da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb), que afirma que as empresas já possuem a "licença necessária para este fim".

Em nota, a Fepam disse que "a Resolução Consema nº 358/2017 estabelece critérios para o licenciamento de manutenção da vegetação nativa e exótica em faixas de segurança das Redes de Distribuição de Energia Elétrica, de modo a garantir a segurança da população e a integridade do sistema, conforme normas técnicas do setor.”

As secretarias citadas nesta reportagem e a Fepam não foram notificadas até este momento a respeito da denúncia encaminhada pelo Instituto Carneiro à Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Porto Alegre.


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