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Saúde bucal

Apenas quatro cidades ofertam próteses dentárias via SUS na Região Metropolitana

Levantamento feito com prefeituras das 12 maiores cidades da Grande Porto Alegre mostra que auxílio para quem precisa do acessório odontológico ainda está distante do ideal

13/05/2023 - 05h00min


Alberi Neto
Alberi Neto
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Divulgação / Prefeitura de Esteio
Em Esteio, são cerca de 80 próteses entregues por mês

O caminho para conseguir uma prótese dentária via sistema público sequer existe na maioria das cidades da Região Metropolitana. É o que aponta um levantamento do Diário Gaúcho, que procurou 12 prefeituras para questionar como moradores dos respectivos municípios poderiam conseguir uma solução para este problema odontológico. 

Entretanto, apenas quatro cidades oferecem a entrega de próteses através do Sistema Único de Saúde (SUS): além da capital Porto Alegre, somente Alvorada, Esteio e São Leopoldo.

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Nesta semana, o governo federal anunciou um grande investimento em saúde bucal no Brasil. O Rio Grande do Sul vai receber R$ 12,3 milhões do Ministério da Saúde para habilitar 350 novas equipes de saúde bucal pelo SUS, além de 56 laboratórios de prótese dentária, por intermédio do programa Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias (LRPD). 

Entretanto, isso não deve mudar o cenário na Região Metropolitana, pois nenhuma das 56 localidades contempladas pelos novos laboratórios de prótese dentária está na área da Grande Porto Alegre.

Entre os locais que não oferecem o atendimento, a prefeitura de Canoas informou que vinha buscando se cadastrar junto ao Estado no programa LRPD. Entretanto, a recente divulgação do governo federal não mostra a cidade entre os locais que terão laboratórios conveniados para distribuição das próteses dentárias. A prefeitura de Guaíba também informou que não conseguia fazer a distribuição por não estar incluída do LRPD.

Mas, até em cidades onde o serviço é oferecido, conseguir uma prótese dentária pode levar de meses a até mais de um ano. Na Capital, por exemplo, os dados mais atualizados disponíveis na Secretaria Municipal de Saúde (SMS) mostram que até março, 2.275 solicitações de próteses totais ou parciais estavam na fila de espera. O tempo para ser atendido variava de 11 meses até um ano e três meses. 

Em Alvorada, o serviço foi retomado há pouco tempo, segundo a administração pública. Mesmo assim, a fila já conta com mais de 500 solicitações. Para suprir esta demanda, a prefeitura pretende entregar cerca de 60 próteses por mês. Segundo a cidade, "após a pandemia, quando não houve atendimento pelo serviço de próteses, a especialidade teve que ser suspensa devido a problemas contratuais, ocasionados pelo distrato unilateral por parte do prestador".

Espera por atendimento é longa

O número de equipamentos odontológicos entregues mensalmente é parecido em São Leopoldo. A cidade faz este tipo atendimento desde 2015, segundo a prefeitura. Atualmente, 693 pessoas aguardam por próteses dentárias através do sistema público de saúde. Em nota, o município diz que o tempo para entrega das próteses tem variado entre oito e 10 meses. 

"Antes da pandemia a espera era de dois a quatro meses. A demanda aumentou em função de muitos usuários perderem seus planos de saúde, como também o poder econômico para realizar o serviço de maneira particular", diz o comunicado da prefeitura de São Léo.

A quarta cidade que presta o serviço na Grande Porto Alegre é Esteio. Por lá, segundo a assessoria de imprensa municipal, são 80 próteses entregues mensalmente, com uma espera média de dois meses para que o paciente receba o item. Atualmente, a fila de espera em Esteio tem cerca de 200 pessoas, segundo o município.

Sonho de conseguir próteses

Se conseguir uma prótese comum via SUS já exige um caminho árduo, para quem tem uma necessidade especial, a situação se complica mais. É o caso da aposentada Claudete Martins, 61 anos. Por um problema odontológico, ela precisa receber uma prótese fixa. O procedimento exige uma intervenção mais profunda, com a afixação das próteses por meio de parafusos. 

A moradora do bairro Jardim Alvorada, em Alvorada, conta que já orçou o procedimento em mais de 10 consultórios pela Região Metropolitana, mas os valores acabam lhe afastando da possibilidade de sorrir com saúde.

— O mais barato que encontrei custava cerca de R$ 16 mil, mas tem lugares que custa até R$ 25 mil. É um sonho distante, que não tenho condições de realizar — conta ela. 

Claudete já tentou outros caminhos, inclusive o sistema público em Alvorada. Também se inscreveu em programas de faculdades da Região Metropolitana que costumam oferecer atendimentos odontológicos para pessoas que necessitam. 

Algumas prefeituras consultadas pelo DG que não têm a distribuição de próteses indicam que moradores com a necessidade desta intervenção odontológica procurem instituições de Ensino Superior que oferecem o serviço por preços acessíveis ou gratuitamente. 

A prefeitura de Alvorada explicou ao DG que chamará Claudete para uma avaliação, para saber se é possível atender à demanda da paciente.

Nas cidades onde o serviço de próteses é oferecido, o caminho para consegui-las se dá pela chamada rede básica de saúde, compostos pelas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Quando atendido pelo dentista na UBS, constatada a necessidade de próteses, o paciente pode ser encaminhado diretamente para a fila espera ou então para avaliação dos Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs). Cumpridas estas etapas, é necessário aguardar a confecção das próteses junto aos laboratórios conveniados do município.

O caminho até um novo visual

Eduardo Porto / Prefeitura de Alvorada
Seu Nilo está só sorrisos com as novas próteses dentárias recebidas através do SUS, em Alvorada

 — Não dá para desistir, tem que descobrir o que é nosso direito e correr atrás — conta João Vasco Leotte dos Reis, 58 anos, com a boca cheia de dentes.

Vendedor aposentado em razão de problemas causados pela diabete, Nilo, como é mais conhecido, tem a perna esquerda amputada até a altura da canela. O dedão do pé direito também foi retirado. Morador do bairro São Pedro, em Alvorada, ele se diz um líder comunitário. Tocou de forma voluntária uma escolinha de futebol no bairro por anos. 

Da mesma forma, se apresentava como palhaço em festas de aniversário. A renda vinha do trabalho como vendedor de doces de porta em porta. Com o passar dos anos, Nilo sentiu que a saúde bucal não ia bem, mas a diabetes ainda era um problema maior.

— Lembro que pensava que ninguém ia olhar pros meus dentes, porque não ter uma perna chamava mais atenção — brinca ele, que segue: — Mas muitos amigos me estimularam a procurar ajuda.

Pandemia aumentou filas de espera

E foi assim que, por volta de 2019, ele procurou atendimento em um posto de saúde de Alvorada. Por lá, foi atendido e teve exames de raio X odontológicos requisitados, permitindo com que fizesse algumas extrações dentárias. Depois, foi encaminhado para a fila de espera por uma prótese. 

Porém, veio a pandemia e os trabalhos cessaram. Foi na metade do ano passado que recebeu o chamado para reiniciar o acompanhamento. Fez medidas, revisões e modelagens. No início deste ano, recebeu duas próteses, superior e inferior. 

— Sempre fui muito bem atendido, mesmo sendo no sistema público — pontua Nilo.

Nesta semana, o morador de Alvorada foi ao Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) de Alvorada para fazer novas modelagens. As próteses recebidas no início do ano serão trocadas por modelos definitivos e mais confortáveis durante os próximos meses.

— Não só pela autoestima, mas até poder mastigar um alimento direito melhora a vida da gente — comemora Nilo. 

Estado repassa cerca de R$ 100 mil mensais

O programa federal dos Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias (LRPD) terá o acréscimo de 56 novos locais no Rio Grande do Sul, como anunciado nesta semana pelo governo federal. 

Mas, atualmente, 165 municípios já contam com laboratórios cadastrados no Estado. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS), são repassados mensalmente a estas cidades já habilitadas cerca de R$ 100 mil para a confecção das próteses dentárias. Os locais recebem de acordo com o número de equipamentos entregues, indo de R$ 7.500 a mais de R$ 22 mil. 

A pasta estadual da Saúde explica que "a adesão dos municípios interessados é através do cadastro no sistema de credenciamento de LRPD disponível no portal e-gestor do Ministério da Saúde". Não há critério populacional mínimo, qualquer município pode se habilitar ao programa, garante a SES-RS. 

"Somente após a habilitação junto ao Ministério da Saúde é que o município passa a receber os incentivos, tanto federal quanto estadual", diz a nota enviada pela secretaria. Como ocorreu nesta semana com o anúncio do governo federal, a habilitação dos LRPD é de competência federal. Os estados repassam incentivo, na lógica de cofinanciamento, conforme as próteses entregues por cada laboratório cadastrado.

"Essenciais para dignidade e saúde"

Eduardo Porto / Prefeitura de Alvorada
Profissionais defendem importância do atendimento odontológico adequado

A importância da reposição dos dentes perdidos é indiscutível, defende o professor de Odontologia da Feevale, Juliano Cardoso. Para ele, além do bem-estar psicossocial e estético, quem perde os dentes perde a dignidade e a função mastigatória. 

— A pessoa pode apresentar deficiência nutritiva, por não conseguir triturar alguns tipos de alimentos. Pode ter sobrecarga nos dentes remanescentes, ter problemas na movimentação dos dentes, entre outras dificuldades — enumera o professor.

A detecção da necessidade de próteses dentárias é feita através de um conjunto de ações do profissional odontológico, aponta a cirurgiã dentista habilitada em Odontologia Hospitalar, Bianca Abreu. 

— Existem diferentes tipos de próteses e as indicações vão depender da necessidade de cada paciente. Com exames clínicos e de imagem, o dentista é capaz de identificar a necessidade ou não de próteses dentárias. Essa indicação se dá, principalmente, pela ausência de um ou mais elementos dentais — explica Bianca.

Próteses auxiliam na digestão e na fala

Os profissionais defendem que o acesso as próteses é uma maneira de garantir saúde e alimentação de qualidade para os pacientes. Com a mastigação adequada, aliada às enzimas da saliva, a digestão alimentar já se inicia nessa etapa, diz a cirurgiã-dentista. Também é importante que esses atendimentos ampliados pelo SUS sigam tendo alto nível de qualidade, para garantir segurança e conforto ao que necessitem de próteses, como explica o professor da Feevale:

— É muito importante que esses programas sejam ampliados, mas sempre mantendo a qualidade dos profissionais e das estruturas, assim como dos materiais utilizados para realização dos tratamentos. 

Bianca ainda garante que um atendimento correto e a colocação de próteses dentárias adequadas aqueles que precisam tem múltiplos benefícios:

— Além de devolver estética através do sorriso o que, consequentemente, devolve a autoestima do paciente, as próteses dentárias contribuem para a sua saúde geral, uma vez que nossos dentes possuem diversas funções. Não só em relação a mastigação dos alimentos, mas até a fonação, pois dependendo da extensão da perda dentária, é possível ficar com a dicção comprometida. 

Segundo a cirurgiã dentista, isso ocorre pois os músculos da boca, a língua e os dentes trabalham em conjunto para que a fala ocorra de modo harmônico. Sem um dos elementos, neste caso, os dentes, o processo é comprometido.

Como acessar programas nas universidades

/// Algumas instituições da Região Metropolitana mantém atendimento a preços populares para fornecimento de próteses dentárias. Veja como acessar:

UFRGS (Porto Alegre)

/// A Faculdade de Odontologia da UFRGS tem um Setor de Atendimento à Comunidade, com prevenção e tratamento em odontologia e atendimento fonoaudiológico.

/// O contato é pelo telefone 3308-5025.

PUCRS (Porto Alegre)

/// A PUCRS possui o Serviço Escola do Curso de Odontologia. Ele é oferecido à comunidade em geral que busca assistência odontológica em diversas especialidades.

/// Os atendimentos são realizados com triagem prévia que tem como objetivo, de acordo com as necessidades individuais, direcionar os pacientes para as clínicas específicas. 

/// A oferta de vagas está condicionada às necessidades acadêmicas dos alunos de Odontologia nos diferentes níveis de aprendizagem.

/// A PUCRS tem o serviço de prótese total, mas também este serviço, quanto os atendimentos, não são gratuitos.

/// Os agendamentos podem ser feitos pelo telefone (51) 3353-4106, WhatsApp (51) 98443-0788 ou e-mail odontologia.consultas@pucrs.br. 

UniRitter (Porto Alegre)

/// A Clínica Escola de Odontologia da UniRitter realiza consultas e procedimentos a preços simbólicos para a comunidade. 

/// São ofertadas revisões, profilaxias, tratamentos de canal, extrações, restaurações e próteses dentárias (procedimento realizado com laboratórios parceiros, com cobranças à parte).

/// É possível entrar em contato para realizar agendamentos por meio dos contatos (51) 3230-3330 e 3230-3351 (com WhatsApp) e clinica.odonto.UniRitter@animaeducacao.com.br.

/// Não há pré-requisitos para marcação de consultas, A primeira serve de avaliação para o tratamento necessário.

Feevale (Novo Hamburgo)

/// A universidade tem um centro integrado de especialidades em saúde. O serviço de próteses dentárias começou neste ano. 

/// A confecção das próteses é feita em laboratórios externos parceiros, sendo cobrado um valor abaixo do mercado para interessados.

/// Agendamentos devem ser feitos pelo telefone (51) 3586-8813 ou pelo e-mail cies@feevale.br.


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