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Em meio à baixa vacinação, gripe avança no RS e hospitais relatam que covid-19 deixou de ser o principal vírus nas emergências

Há predomínio da H1N1 no Estado, tipo de influenza que causa mais internações e óbitos; imunização contra a doença atingiu quase 32% do público-alvo, abaixo da meta

11/05/2023 - 11h35min

Atualizada em: 11/05/2023 - 12h18min


Pedro Nakamura
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Jefferson Botega / Agencia RBS
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, há predomínio de circulação do tipo A H1N1 da doença

Hospitais de Porto Alegre consultados por GZH relatam que vírus respiratórios sazonais, como a gripe, já superam casos de covid-19 nas emergências lotadas. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, há predomínio de circulação do tipo A H1N1 da doença, que costuma ser mais infeccioso e letal do que outras gripes. Após o Dia D da Vacinação promovido pelo governo estadual, a cobertura do público-alvo de imunização contra a doença atingiu quase 32%, um terço da meta prevista.

Conforme dados do Hospital Moinhos de Vento (HMV), a incidência viral de influenza entre crianças e adolescentes atingiu o maior pico para o ano até o momento, 41 casos na última semana. Segundo números da unidade hospitalar, há meses o vírus já supera a incidência de coronavírus nos menores de 18 anos. Já entre adultos, a diferença de casos de influenza para covid-19 foi de 40 contra 29 – um salto na incidência de gripe que iniciou neste mês.

— Na semana passada, casos das influenzas superaram pela primeira vez a covid-19 em adultos. Se somar H1N1 com o tipo B, tivemos 50% mais casos de gripe do que de covid — diz o médico infectologista Alexandre Zavascki, chefe do serviço de infectologia do HMV, que ressalta que a maior parte desses diagnósticos não resultou em internações.

Já no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), só neste mês de maio, a partir de 241 coletas no âmbito de uma pesquisa de vírus respiratórios, cerca de 125 amostras retornaram com resultados positivos para infecções virais. O índice para gripe ficou em torno de 32%, enquanto o da covid-19 atingiu a faixa dos 19%, diz a médica infectologista Patrícia Fernandes, da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do HCPA.

— Estamos notando que parece haver um aumento em relação ao que tínhamos de casos (de influenza). As emergências de adultos e pediatria já estão pressionadas por outros vírus respiratórios — afirma Patrícia, que ressalta que houve mais detecção de gripe A (19%) do que do tipo B (13%).

Apesar do maior número de detecções, atualmente há 10 internados por covid-19 versus cinco por influenza no hospital, relata Patrícia. Ela também destaca que a maior parte das infecções diagnosticadas são de vírus sincicial respiratório (VSR) entre crianças, cerca de 45% dos vírus rastreados. Nesta quarta-feira (10), a emergência adulta do hospital enfrentava uma lotação de 218% da sua capacidade, enquanto a pediátrica atingia 166% do total.

Gripe H1N1 avança no Estado

Atualmente, o Rio Grande do Sul convive com a circulação de três tipos de vírus influenza, duas linhagens do tipo A (H1N1 e H3N2) e outra do tipo B.

Não há diferença nos sintomas entre ambas as gripes, mas a H1N1 costuma ser a mais grave. Hoje, o subtipo predomina no Estado, sendo que no ano passado havia uma maior incidência da H3N2, que é mais leve, segundo a enfermeira Letícia Martins, técnica do Núcleo de Vigilância de Vírus Respiratórios de Interesse para a Saúde Pública do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs).

— Entre o fim de 2022 e o início deste ano, começamos a observar nas hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) o vírus A H1N1. Neste cenário, ele predomina em relação ao A H3N2. E por que nos preocupamos? Sempre que o H1N1 predomina entre os influenzas, temos no histórico da vigilância um maior número de hospitalizações e óbitos — explica Letícia.

A testagem ampla de casos foi uma exceção instituída no âmbito do combate à pandemia da covid-19 e não é realizada no caso da gripe, diz Letícia. Como o diagnóstico de influenza não é realizado para todos os casos de sintomas gripais, a coleta é feita apenas de forma amostral em unidades estratégicas ou em internações hospitalares por SRAG. O objetivo é entender o perfil da circulação de doenças respiratórias entre casos ambulatoriais, já que a gripe tende a ser menos crítica.

Em 2023, a influenza já acumula 213 internações e 16 óbitos no Rio Grande do Sul, a maior parte (15) em pacientes com comorbidades e metade (8) em maiores de 60 anos, conforme dados do governo estadual. Em comparação, neste ano, a covid-19 acumula um total de 1.602 casos e 321 mortes. Os casos de gripe, no entanto, começaram a se acentuar a partir deste mês.

Na avaliação da médica geriatra Ana Paula Aerts, coordenadora médica das emergências da Santa Casa de Porto Alegre, houve um “aumento significativo” nos atendimentos de pacientes com quadros respiratórios nas últimas semanas, mas não é possível afirmar se a procura vem por pacientes com influenza, já que nem todos os casos geram internações para serem testados. Além disso, muitos já chegam nas emergências com exames feitos em farmácias que descartam o coronavírus.

— Muitos pacientes já chegam com o teste rápido de covid-19 feito em farmácia e resultado negativo. Isso nos faz pensar que casos de covid estão reduzindo e de outros vírus respiratórios aumentando — relata a coordenadora.

Um terço da meta da imunização contra a gripe

Após um mês de campanha, a vacinação contra a gripe no Rio Grande do Sul atingiu quase 32% do público-alvo de crianças, trabalhadores da saúde, gestantes, puérperas, idosos e professores, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES/RS). Os números atingem cerca de um terço da meta estabelecida pela pasta, que é de 90% da população-alvo. Iniciada em 10 de abril, a campanha de vacinação contra a gripe vai até o fim de maio (31).

Até o momento, apenas um município gaúcho já alcançou o objetivo: Palmares do Sul, no litoral norte do Estado, com 95,3% da cobertura vacinal contra a influenza, segundo dados da secretaria. O segundo melhor índice é de Salvador das Missões (74,8%). Já os dois piores estão em municípios da região de fronteira com o Uruguai, Barra do Quaraí (12,5%) e Chuí (13,8%). Porto Alegre está muito abaixo da meta – apenas 28,4% do público-alvo se vacinou.

— A vacina evita hospitalizações e, no momento em que temos uma baixa cobertura, se propicia uma maior circulação do vírus. Se ele circula mais, tem mais infectividade e, com mais infectados, há mais risco de maiores quantidades de hospitalizações e óbitos, já que ele encontra pessoas suscetíveis de modo mais fácil — explica Letícia.

A enfermeira do Cevs ressalta que a vacina disponível hoje contra influenza é trivalente e protege das duas variantes de gripe A (H1N1 e H3N2) e do vírus tipo B. A medida de prevenção deve se somar às realizadas contra a covid-19, via vacina bivalente. De acordo com ela, ambas as coberturas deveriam estar melhores.

O que fazer em caso de sintomas respiratórios

Hoje, a rede pública testa apenas para covid-19. O diagnóstico laboratorial de influenza é realizado apenas em “unidades sentinela” espalhadas pelo Rio Grande do Sul, usadas para vigilância epidemiológica.

— Toda pessoa com sintomas gripais pode procurar a atenção básica, realizar o teste rápido para covid-19 e, independente do resultado, por estar sintomático, deve permanecer em isolamento até a remissão dos sintomas por 24 horas ou, se precisar sair de casa, usar máscara cirúrgica e evitar ambientes com aglomeração — recomenda Letícia.



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