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De janeiro a maio

Uma pessoa morre a cada cinco horas no trânsito do RS

Registros de acidentes em vias urbanas, rodovias estaduais e federais subiram pelo terceiro ano seguido nos primeiros cinco meses do ano

19/07/2023 - 11h16min

Atualizada em: 19/07/2023 - 12h12min


Marcelo Gonzatto
Marcelo Gonzatto
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Mateus Bruxel / Agência RBS
Após queda durante período mais grave da pandemia, índice de acidentes voltou a subir no Estado

Dados divulgados pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS) indicam que a violência viária está em elevação no Rio Grande do Sul. Os registros de acidentes em vias urbanas, rodovias estaduais e federais subiram pelo terceiro ano seguido entre os meses de janeiro e maio e contabilizam, em média, uma pessoa morta a cada cinco horas no Estado.

As 696 vítimas notificadas nesse período representam aumento de 2,8% em relação ao ano passado, uma tendência de agravamento que se mantém desde 2021. Uma das hipóteses para o crescimento dos óbitos é a retomada das atividades econômicas e sociais depois de passado o período mais agudo da pandemia de covid-19.

— Infelizmente, estamos retornando a patamares que tínhamos antes da pandemia. A impressão é de que as pessoas estão saindo à rua, motoristas, motociclistas, pedestres, querendo recuperar o tempo em que não puderam circular — analisa a presidente da Fundação Thiago Gonzaga e diretora institucional do Detran, Diza Gonzaga.

Diza sustenta que uma possível abordagem em futuras campanhas de conscientização do órgão estadual é o foco em reduzir a agressividade dos condutores. Em sua opinião, o retorno a uma maior normalidade após o auge do coronavírus também teria sido acompanhado por uma redução na paciência de quem circula por ruas e avenidas:

— Notamos uma agressividade maior. Um exemplo é quando a sinaleira mal abriu e já tem gente buzinando, querendo que os outros saiam da frente. Acredito que precisamos trabalhar isso não apenas em futuras campanhas, mas também nos processos educativos.

A diretora do Detran faz a ressalva de que, apesar da tendência de piora nos dados oficiais, que levam em conta mortes confirmadas até 30 dias depois da ocorrência dos acidentes, o Rio Grande do Sul ainda está em situação menos desconfortável em comparação a outras localidades do Brasil.

Um diagnóstico nacional elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CLP, organização destinada a aprimorar a administração pública) indica que os gaúchos ficam em oitavo lugar no país no ranking das menores mortalidades no trânsito por Estado, com um índice de 13,4 vítimas por cem mil habitantes — quase três vezes abaixo do Mato Grosso, que ocupa a última e pior posição. Mas países europeus como Suécia, Inglaterra ou Noruega, em compensação, atingem patamares próximos de apenas três vítimas por cem mil e mostram que ainda há uma longa estrada a ser percorrida até uma melhor segurança viária.

— Nos centros de formação de condutores, preparamos os alunos sobre riscos do excesso de velocidade, do uso do celular ao volante ou de beber e dirigir. Mas, infelizmente, muitas pessoas ainda são autuadas por dirigirem sob influência do álcool, por exemplo — avalia o presidente do Sindicato dos Centros de Formação de Condutores do Estado, Vilnei Sessim.

Os finais de semana costumam concentrar os piores índices de acidentalidade no Estado, principalmente no turno da noite. O dia com maior número de registro de mortes passou de domingo, conforme as estatísticas dos primeiros cinco meses do ano passado, para o sábado conforme o relatório parcial mais recente. Os três momentos que mais concentraram óbitos agora são as noites de sábado, com 54 vítimas, seguidas pelo período noturno das sextas e dos domingos, com outras 44 mortes em cada caso.

Esse cenário pode estar relacionado a fatores como menor visibilidade, consumo de álcool ou cansaço ao volante, além do excesso de velocidade e imprudência. O período com menos fatalidades é a madrugada de terça, com apenas quatro vítimas, o que pode estar vinculado a uma menor quantidade de veículos em circulação.

PRF lança plano emergencial para conter mortes

Preocupada com a manutenção dos índices de acidentes e mortes no trânsito em patamares elevados, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) está colocando em prática um plano emergencial para tentar reduzir as estatísticas de violência ao volante no Rio Grande do Sul. A iniciativa faz parte de uma estratégia nacional para salvar vidas nas estradas, mas é um dos Estados em estágio mais avançado. As unidades regionais da corporação já deram início a um processo de mapeamento de trechos de 10 quilômetros de extensão com alta concentração de vítimas — entre os quais se destaca o perímetro urbano da BR-116 entre Novo Hamburgo e Porto Alegre.

— Já demos início a um reforço na fiscalização de alguns trechos já identificados, mas ainda estamos trabalhando nesse mapeamento. O Rio Grande do Sul é um dos Estados pioneiros nessa operação, que chamamos de Plano de Contingência para Reduzir Acidentes Graves — afirma o policial rodoviário Leandro Maciel, chefe do setor de Segurança Viária da PRF no Rio Grande do Sul.

Embora as rodovias federais somem uma malha pavimentada inferior às estaduais, com cerca de 5,6 mil quilômetros contra pouco mais de 8 mil, as BRs concentraram um percentual maior de mortes nos primeiros cinco meses deste ano, com 33% das notificações de óbitos nesse período, contra 30% das vias sob responsabilidade do Estado. Entre as características das rodovias federais se destacam as grandes extensões e o elevado fluxo de veículos, o que contribui para elevar as estatísticas.

Além do aperto na fiscalização, com foco em comportamentos como excesso de velocidade e ultrapassagens irregulares, a estratégia da PRF prevê outros dois eixos. Um deles é identificar possíveis melhorias de infraestrutura a serem feitas e apresentá-las a municípios (em casos como iluminação), ao Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes (Dnit) e empresas concessionárias como sugestões de intervenções capazes de aumentar o grau de segurança dos usuários. Outra iniciativa será ampliar ações de conscientização voltadas para públicos como os motociclistas, vítimas frequentes no trânsito em razão da vulnerabilidade a que estão naturalmente expostos.

— Trabalhamos com o princípio de que nenhuma morte é aceitável — complementa Leandro Maciel.

Procurado por GZH, o Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) informou por meio da assessoria de comunicação que não teria disponibilidade para se manifestar sobre o tema na terça-feira (18).


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