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Cultura na quebrada

Educador propõe olhar sobre a essência do Morro da Cruz

 Cansado de ver assuntos negativos estampados nos jornais sobre a região em que cresceu, Clóvis da Luz Marques conta nas redes sociais histórias e experiências da comunidade

22/08/2023 - 06h34min

Atualizada em: 22/08/2023 - 06h42min


Caroline Tidra
Caroline Tidra
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Para repercutir fatos que marcaram as quebradas de Porto Alegre, Clóvis da Luz Marques, 43 anos, historiador periférico, criou o projeto Morro da Cruz Histórias. Cansado de ver assuntos negativos estampados nos jornais sobre a região em que cresceu, ele conta nas redes sociais histórias e experiências da comunidade.

Além das publicações em textos e imagens, o projeto tem um podcast, o Papo de Quebrada, que recebe moradores e personalidades da região.

— Percebi que precisava ter um espaço em que a comunidade pudesse se expressar. A história do Morro foram os moradores que construíram, e é uma questão de resgatar a identidade e o respeito — explica Clóvis, que, além de se dedicar ao projeto, é empreendedor.

Mas, além do resgate do que ocorreu na história, Clóvis registra o presente do morro enquanto anda por becos e vielas.

A atividade organizada por ele integrou a programação alusiva ao Dia Internacional da Juventude da Capital — celebrado em 12 de agosto.

Uma exposição fotográfica no alto do Morro da Cruz, com retratos que mostram o cotidiano da comunidade, foi uma das propostas apresentadas. A exposição sugere, segundo o historiador, enxergar além do que os olhos são capazes.

As 35 imagens foram distribuídas em alguns pontos, um deles na Rua Primeiro de Setembro.

— Além do pessoal que vai vir até aqui, quero que os próprios moradores tenham essa experiência de passar na exposição. Tem gente que vai se identificar nas fotos — adianta Clóvis.

Brincadeiras

A programação contou ainda com atividades do Brincadeira das Antigas, outra iniciativa que trabalha o resgate de brincadeiras como bolita, rolete, carrinho de lomba, pião, taco, amarelinha e três marias. Segundo Clóvis, o projeto Brincadeira das Antigas faz parte Calendário de Eventos de Porto Alegre.

"Percebi que precisava ter um espaço em que a comunidade pudesse se expressar. A história do Morro foram os moradores que construíram, e é uma questão de resgatar a identidade e o respeito — explica Clóvis, que, além de se dedicar ao projeto, é empreendedor"

CLÓVIS MARQUES

Educador

Ele conta que a ideia surgiu após o período de restrições causadas pela pandemia:

— Pensei em uma forma de tirar as crianças de dentro de casa, de trazer elas para a realidade, sem ser pela tela do celular. E o carrinho de lomba fez sucesso. Levei a proposta para a Orla, onde as crianças andavam de skate voando, mas tinham medo de andar no carrinho de lomba. Pensei que tem algo errado, pois estamos perdendo a essência das brincadeiras.

Com essa inquietação, ele executa o projeto e conta com a ajuda de parceiros da própria comunidade para a montagem e fabricação dos brinquedos. 

Filosofia visa despertar consciência coletiva nas crianças

lém de idealizador dos projetos, Clóvis da Luz Marques atua como educador social para crianças e jovens na biblioteca comunitária Ilê Ará, vinculada ao Instituto Leonardo Murialdo.Ele atende em oficinas de esportes, leitura e brincadeiras "das antigas". Mas, em vez de professor, ele explica que prefere o termo motivador:— Falo com eles sobre motivação, buscando entender a essência de cada um. Sei como é a realidade que eles vivem, comecei a olhar como a instituição deve enxergar dentro para fazer algo diferente. Por isso, digo que sou motivador, sou colega, aprendo com eles e eles, comigo — resume Clóvis.O educador percebe algumas necessidades e se identifica com situações que ele próprio já viveu. Nos encontros e atividades, ele trabalha com a filosofia africana ubuntu, incentivando crianças e jovens a terem consciência de que fazem parte de algo maior e coletivo. 

Necessidades

Em uma atividade na quadra de esportes, o empreendedor foi abordado por um menino que não tinha tênis para jogar bola.— O menino chegou até mim dizendo: "Sôr, eu sei que tu não quer que eu jogue de pé no chão, mas vou ter que jogar assim, senão não vou ter tênis para ir pro colégio". Fiquei olhando, tirei uma foto e mandei para um contato que conseguiu uma doação de tênis para as crianças. O Morro da Cruz Histórias também é isso, ver a nossa realidade. Já passei por isso, como eu posso tentar mudar? Perceber que algumas coisas são possíveis de fazer— conta. 


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