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Leticia Mendes: "Órfãos"

Todas as quartas-feiras, jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano

11/10/2023 - 17h55min

Atualizada em: 11/10/2023 - 17h57min


Diário Gaúcho
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Agência RBS / Agência RBS
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Leandra Vitória era mãe de um menino de cinco anos. Era o tipo que não desgrudava do filho. Trabalhava em obras e vendia panos de prato nas ruas. Sonhava em construir uma casa para viver com a criança. Mas não teve tempo de concretizar os planos. Foi vítima de feminicídio no fim de agosto. Ontem, a família da jovem se reuniu em Pelotas, no sul do Estado, em protesto, pedindo justiça.

No fim de setembro, em São Jorge, município de 2,9 mil habitantes na Serra, uma menina de quatro anos foi a única que restou viva num crime brutal. A suspeita é de que o pai tenha matado a mãe e os avós maternos da criança, e depois tirado a própria vida. A garotinha foi resgatada por um familiar, antes de os corpos serem localizados dentro da moradia. Nas redes sociais, mãe e filha aparecem juntas em fotos comoventes.

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Impossível não pensar nessas crianças quando se aproxima uma data como a de amanhã. Por mais esforços que se façam para frear os feminicídios no RS, todos os anos dezenas de filhos se veem desamparados. Órfãos de um crime de ódio. Em geral, são as famílias, já dilaceradas, que assumem a responsabilidade por cuidar dessas crianças. Como em Pelotas, onde Maiza, mãe da Leandra, tenta agora zelar pelo neto, enquanto lida com o luto.

Neste cenário, boas iniciativas também precisam ser exaltadas. Nesta semana, a colega Bruna Viesseri mostrou em reportagem como os feminicídios caíram quase 80% em Porto Alegre neste ano. Uma rede bem articulada de acolhimento e proteção à vítima, medidas como o uso de tornozeleira eletrônica para monitorar agressores e a responsabilização judicial dos autores se somam nessa fórmula.

Nos resta torcer para que essas práticas sirvam de exemplo. E, como jornalistas, cobrar que a rede se fortaleça. Para que mais mulheres se sintam seguras para buscar ajuda. As estatísticas mostram que as que mais morrem são as que ficam em silêncio. Que as mulheres não se calem, e que outros filhos não tenham que passar por isso.



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