Após uma espera de quase seis meses por um lar amoroso, a cachorrinha Gil, uma poodle cega e de pelagem malhada, encontrou uma família. O animal foi resgatado pela Secretaria de Bem-Estar Animal (SMBEA) de Canoas, em junho, após ser vítima de um atropelamento no bairro Mathias Velho, durante um temporal. Gil vive há duas semanas com os novos tutores.

Foi em uma feira de adoção, no final de outubro, que o novo capítulo na vida da cachorrinha, que já é idosa, começou. A educadora de inclusão Verônica Bruno, 32 anos, passeava pelo evento no intervalo do trabalho quando se deparou com o animal e sentiu uma conexão imediata.

— Quando eu vi ela, senti uma conexão. Eu tinha certeza que era para ser minha. Fui conversar com o pessoal da feira e me falaram que ela era deficiente visual. Naquele momento, lembrei daquela frase do filme Pequeno Príncipe: “o essencial é invisível aos olhos”. Sinto que foi o destino mesmo, porque ela é muito carinhosa e se adaptou muito bem à nossa família — relembra Verônica.

Adaptação

Ao levar Gil para casa, a educadora conta que preparou uma surpresa para o filho, João Mauro, 13 anos, anunciando que a família tinha aumentado. Desde então, a presença do pet mudou a dinâmica da casa, trazendo aprendizados, alegria e uma nova perspectiva de amor.

Em razão da deficiência e da idade da cachorra, foram necessários cuidados específicos para garantir bem-estar e conforto. A família implementou uma rotina estruturada, com horários fixos e locais estratégicos para a alimentação, descanso e lazer, proporcionando autonomia e um ambiente seguro ao animal.

— Ela é superinteligente, sabe onde fica a caminha, a água e a comida. Ela também adora passear e tem um olfato ótimo. Ela anda pelo apartamento inteiro, vai no quarto do meu filho, vai na cozinha. Ela não se machuca e entende os nossos comandos. Eu só tenho a agradecer por ter encontrado a Gil. Ela faz parte da minha vida e da nossa família. A gente já não se vê sem ela — pontua Verônica.

Exemplo de amor

Segundo a secretária de Bem-Estar Animal, Fabiane Borba, adoções como essa não são comuns, uma vez que as pessoas tendem a preferir animais filhotes e sem deficiências. Por isso, esses bichinhos podem ficar meses ou até anos aguardando por um lar. Gil ficou à espera de um tutor durante meio ano.

— Sempre ficávamos tristes em ver ela esperando por adoção durante todos esses meses. Agora, saber que uma pessoa especial viu todo o amor que ela merece, é algo muito emocionante. Esperamos que esse bonito gesto inspire mais pessoas a entender que, mesmo com alguma deficiência ou limitação, esses animais também merecem um lar — ressaltou.

Para Verônica, a escolha de levar Gil para casa foi acertada. O animal proporciona companhia, diversão e amor para a família. A casa se tornou um lugar mais carinhoso. Para quem pensa em adotar um pet com deficiências ou idoso, a educadora assinala que "não há arrependimentos", mas é preciso estar ciente que "eles têm suas limitações e precisam de adaptações".

— Mas com carinho, dedicação, tempo e estímulos, eles são capazes de aprender tudo. Eles têm muito a nos ensinar. O carinho que eles têm, o retorno que eles nos dão, é algo inexplicável — finaliza.

Adoção

Segundo dados do município, a SMBEA abriga cerca de 130 animais. Destes, 30 são paraplégicos, cegos ou cardiopatas. Eles procuram por uma família e participam regularmente de feiras de adoção. Todos já estão vacinados, desverminados e microchipados. Os adultos estão castrados, enquanto os filhotes passarão pelo procedimento gratuitamente quando atingirem a idade adequada — mesmo se forem adotados.

A próxima feira de adoção acontece neste sábado (18), na Avenida Santos Ferreira, 1.241, no bairro Nossa Senhora das Graças. Quem deseja adotar um cão ou gato também pode visitar a SMBEA e conhecer os pets resgatados pelo município. A sede fica na Avenida Boqueirão, 1.986, no bairro Igara, e fica aberta de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. Aqueles que não conseguirem ir neste período, podem entrar em contato pelo WhatsApp (51) 9138-5613 e marcar uma visita.

Para adotar, é preciso apresentar documento com foto, comprovante de residência e responder a um formulário de entrevista. Quem adotar é agraciado pelo município com um acompanhamento médico-veterinário para assegurar a saúde do bichinho.

*Produção: Júlia Ozorio