A ideia de um grupo de alunos do 8º ano de Barra do Ribeiro, na região sul do Estado, foi a semente para a criação de um projeto especial: uma clínica de atendimento gratuito para pets. A Associação Para Controle Populacional de Animais (ACPA), que já tinha um centro clínico estruturado, decidiu abraçar a proposta dos jovens e torná-la realidade.  

Tudo começou em sala de aula, na Escola Fundamental São José, na aula de língua portuguesa. Ainda em abril do ano passado, a turma de 17 estudantes começou a estudar sobre gêneros textuais, e eles tiveram que preparar o texto para uma petição, atividade valendo nota. Assim nasceu a ideia: criar o "Sistema Único de Saúde Animal", o Susa.  

Para que o tema fosse analisado pelo Senado, os alunos tinham que conseguir pelo menos 20 mil assinaturas no site e-Cidadania apoiando a petição. Mesmo após muita divulgação, a proposta teve pouca visibilidade – conseguiram cerca de mil assinaturas. Mas eles não desistiram, criaram uma campanha na internet e a causa chamou a atenção da comunidade. 

A ideia não virou projeto de lei nacional, mas ganhou destaque e deu frutos no município, que tem cerca de 12 mil habitantes. Meses após o mutirão, uma Organização da Sociedade Civil foi atrás dos estudantes para dialogar sobre o projeto. Assim, no final do ano passado, foi firmada a parceria com a ACPA, que permitiu tirar o projeto do papel. 

Desde janeiro deste ano, Barra do Ribeiro tem o seu "SUS Animal", com atendimento veterinário gratuito a cães e gatos de moradores carentes da região, incluindo castração, consultas, exames, tratamentos com medicação, vacinação e procedimentos cirúrgicos de média complexidade. 

— Achei que não ia dar em nada, mas o projeto ganhou muita força e deu certo. Fico muito feliz e grato por fazer parte disso — diz Isaac Jacobs, de 15 anos. Ele faz parte do grupo de 17 alunos que criou o projeto, e que estão agora concluindo o 9º ano. 

Para fechar o ano, a turma recebeu o Prêmio Inovação 2023 do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS). Eles ganharam na semana passada o troféu de bronze na categoria responsabilidade social pelo projeto. Além disso, a ACPA recebeu neste mês verba de R$ 150 mil, por meio de emenda parlamentar, para viabilizar a compra de medicamentos e materiais para os atendimentos. Com isso, o trabalho será ampliado nos próximos meses. 

— Vamos continuar correndo atrás de recursos e pressionando o poder público para nos ajudar. Já atendemos mais de 200 animais de forma gratuita, e queremos fazer muito mais. Ficamos muito felizes por poder executar aquilo que os alunos fizeram em sala de aula. Temos muitos animais em situação de rua e uma população carente, que não tem condições de pagar pelos tratamentos. O SUS Animal veio para ficar — conta Rosa da Silva Manoel, voluntária da associação e bibliotecária da escola. Foi a partir dela que surgiu a parceria.

 Rosa ressalta que a ACPA está em busca de voluntários e aceita doações. Interessados podem fazer contato pelo (51) 99751-3132. A organização atua há nove anos na cidade em favor da causa animal e, desde 2018, com um centro clínico veterinário. Atendimentos regulares seguem com cobrança, mas, a partir do projeto, são oferecidos serviços gratuitos para famílias de baixa renda que estejam no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). 

Motivados pela causa animal 

A preocupação com a causa partiu dos estudantes, que constataram a falta de locais em Barra do Ribeiro para castrar e vacinar animais de forma gratuita. Considerando que muitas famílias tiveram a renda comprometida durante a pandemia, e o serviço foi considerado essencial pelos alunos. Assim, com ajuda da professora Clara Rutkoski Hoff, eles tiveram a ideia do "SUS Animal". 

Com a concretização do projeto, vários pets já tiveram suas vidas salvas na clínica. Um caso recente é o de Gino, cão que foi atropelado.  Ele foi resgatado por uma moradora, que o levou para a associação. Após fazer uma radiografia, o veterinário constatou que o animal tinha uma fratura na pata. Gino recebeu o tratamento e se recuperou. 

— Nossa escola é franciscana e tem essa filosofia de cuidado com o meio ambiente, contato com os animais e a natureza. Isso está no DNA da nossa instituição. Então, os alunos são instigados a criarem projetos sociais e ambientais. Essa foi a primeira vez em que decidimos inscrever um projeto em um prêmio, e deu certo. Foi uma oportunidade de mostrar a força das escolas do Interior — destaca a diretora da Escola São José, Gabriela Pacheco Inácio.  

Confira o texto da petição dos alunos 

"Solicitamos a criação do Susa, para realização de tratamentos de saúde, bem como medidas preventivas a doenças de animais de todas as espécies. Sugerimos que os recursos arrecadados com as autuações de fiscalização ambiental, como crimes contra o meio ambiente, sejam destinados para esse fim. 

Percebemos que não há uma gratuidade em tratamentos de saúde para animais em nosso país. Isso faz com que existam muitos animais em situação de rua, sofrimento e doenças que poderiam ser tratadas, mas que possuem um alto custo financeiro. O Sistema Único de Saúde Animal, contando com recursos arrecadados por impostos e multas ambientais, atenderia essa demanda."