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Clássico do veraneio

"Chocolatão": fenômenos climáticos podem impactar na cor do mar do litoral gaúcho

A chuva acima da média e vento forte propiciam o surgimento de algas

20/12/2023 - 21h52min


GZH
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Não é novidade para ninguém que o mar do litoral norte gaúcho tem uma cor diferenciada. A água de tom amarronzado é resultado de uma série de processos da natureza e não afeta a balneabilidade dos pontos, mas sempre causa reações nos turistas. Neste ano, a tendência é que o mar chocolatão, como é carinhosamente chamado pelos gaúchos, esteja presente em boa parte da estação, em decorrência da influência dos eventos climáticos.

A cor da água do mar é influenciada pelos componentes presentes e a coloração marrom do Litoral Norte pode ser explicada por vários motivos. Um deles é que a água que entra na costa gaúcha, com a ajuda do vento, transporta os sedimentos presente na água do Rio da Prata e na Lagoa dos Patos. Nesses sedimentos, é possível encontrar areia e algas, como a Asterionellopsis glacialis, que se multiplicam e ficam mais escuras quando chegam perto da superfície.

— O vento nordeste arrasta as águas superficiais e costeiras para o mar aberto. Quando tem sequência de dias de vento nordeste, a água fica mais fria e mais turva — explica Nelson Ferreira Fontoura, diretor do Instituto do Meio Ambiente da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Segundo a o meteorologista Vinícius Lucyrio, da Climatempo, o El Niño provoca mais vento noroeste, norte e nordeste sobre o Rio Grande do Sul. Ele afirma que a condição é mais comum entre o inverno e o início do verão. Portanto, pelo menos nas primeiras semanas da estação que inicia nesta quinta-feira (21), o mar chocolatão deverá estar presente.

O El Niño certamente afeta essa condição do mar chocolatão, por conta da chuva. Uma chuva forte pode fazer com que a Lagoa dos Patos, por exemplo, leve um volume muito grande de sedimentos para a zona costeira, aumentando a turbidez — acrescenta Osmar Moeller Júnior, professor e voluntário do Instituto de Oceanologia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg). 

Nos últimos meses, o Rio Grande do Sul enfrentou diversos episódios de chuva acima da média, que, dentre outros, podem ser explicados pela atuação do El Niño sobre o Estado. A chuva intensa também favorece o surgimento de algas, contribuindo ainda mais para a coloração diferente do usual. Em Santa Catarina, destino querido pelos gaúchos, o mesmo não acontece porque o Estado tem influência de rios e vento diferentes do RS.

O El Niño certamente afeta essa condição do mar chocolatão, por conta da chuva. Uma chuva forte pode fazer com que a Lagoa dos Patos, por exemplo, leve um volume muito grande de sedimentos para a zona costeira, aumentando a turbidez.

OSMAR MOELLER JÚNIOR

professor e voluntário do Instituto de Oceanologia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg)

No ano passado, em diferentes momentos da temporada, os banhistas se surpreenderam com a água mais transparente e quente do Litoral Norte. Na época, a chuva estava mais escassa no Estado, e havia predominância de vento sul. Segundo Fontoura, essa direção do vento faz com que a água fique mais clara e morna, mas também traz mais águas-vivas para a área onde os turistas costumam ficar.

Ainda, é importante ressaltar que o que interfere na balneabilidade é a contaminação fecal. Portanto, maior número de algas ou tonalidade amarronzada não significa que a água não está própria para banho. O mar chocolatão não faz mal à saúde, mas é importante checar a balneabilidade dos pontos de banho antes de entrar na água para garantir um veraneio mais seguro.

*Produção: Yasmim Girardi


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