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Confundido com criminoso

Cinco réus por assassinato de jovem por engano em hospital vão a júri nesta terça-feira em São Leopoldo

Gabriel Minossi, 19 anos, foi executado a tiros enquanto se recuperava de um acidente de trânsito há cinco anos

12/12/2023 - 15h25min


Leticia Mendes
Carlos Macedo / Agencia RBS
Pai recebeu um terço de uma amiga de Gabriel durante o velório do filho.

Há cinco anos, enquanto se recuperava de um acidente de trânsito, Gabriel Minossi, 19 anos, foi confundido com um criminoso dentro do Hospital Centenário, em São Leopoldo. Bandidos invadiram a casa de saúde armados, e adentraram o quarto onde estava o jovem. Dispararam repetidas vezes na direção da cama dele, onde acreditavam que estava um rival. O verdadeiro alvo havia sido transferido de leito horas antes.

Por este crime, cinco réus devem ir a julgamento nesta terça-feira (12), no município do Vale do Sinos. A sessão está prevista para se iniciar às 9h, no salão do júri de São Leopoldo. Na ação, ainda foram baleados um paciente e sua acompanhante, motivo pelo qual os réus também respondem por duas tentativas de homicídio. Serão julgados William Gabriel Almeida Pereira, Jorge Gilberto da Silveira Júnior, Lucas Gabriel Pereira Nunes, Deivid Silva de Ávila e Eberson Ferreira Almeida. Os cinco respondem presos pelo crime. A expectativa é de que o julgamento se estenda até esta quarta-feira (13).

Na época, a investigação apontou que os atiradores confundiram Gabriel com Alex Júnior Abreu Tubiana, que havia sido baleado numa tentativa de homicídio dois dias antes. Os dois pacientes chegaram a ficar hospitalizados no mesmo quarto. Após boatos se espalharem pelo hospital de que um novo ataque poderia acontecer, a casa de saúde transferiu Tubiana para uma área isolada. Antes de deixar o quarto, o homem disse ao jovem: "Boa sorte pra ti".

Horas depois, na madrugada de 9 de novembro de 2018, um veículo estacionou em frente ao hospital e, de dentro dele, saltaram criminosos encapuzados e armados. O grupo rendeu o segurança e dois atiradores ingressaram na casa de saúde, caminhando pelos corredores. Andaram até a ala onde Gabriel estava e, em poucos segundos, descarregaram as armas na direção da cama dele, próxima da porta, pensando se tratar de Tubiana. Vinte e nove estojos de pistola 9 milímetros foram recolhidos dentro do quarto.

— O fato, por sua brutalidade, impactou demais à comunidade, pois se trata da morte de um paciente, em um leito de hospital, absolutamente alheio à guerra travada pelos criminosos que o praticaram — afirma o promotor de Justiça Fernando Andrade Alves, que atuará na acusação pelo Núcleo de Apoio ao Júri do Ministério Público.

O crime teria sido motivado por disputas envolvendo o tráfico de drogas. Tubiana, segundo a polícia e a acusação do MP, era ligado ao tráfico na região da Vila Brás, em São Leopoldo, e teve desavença com o suposto mandante. Ele sofreu um atentado a tiros em uma oficina e, por isso, acabou hospitalizado. Em setembro de 2020, o verdadeiro alvo foi morto durante troca de tiros com a Brigada Militar, após roubo a uma agência do Sicredi no município de Itati, no Litoral Norte.

O papel de cada um

Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público, William e Jorge teriam rendido o vigilante na entrada do hospital e guarnecido o acesso, enquanto Lucas e Deivid teriam seguido até o quarto onde pretendiam executar Tubiana e atirado na vítima. Além da morte de Gabriel, a ação ainda deixou outras duas pessoas feridas. Eberson, que estava preso na época do fato, é apontado como o mandante do crime. 

As defesas de Eberson, Lucas e William negam que eles tenham cometido o crime (leia os contrapontos abaixo). As outras defesas não se manifestaram. Durante o julgamento, serão ouvidas somente duas testemunhas de defesa, que falarão pelo réu Deivid. A acusação optou por não indicar testemunha para ser ouvida no júri. Outras testemunhas, entre elas a madrinha de Gabriel que estava no quarto e presenciou a execução, foram ouvidas durante a investigação.

— O Ministério Público aguarda a realização do julgamento com a certeza de que a justiça não tardará nem falhará. É tarefa difícil resumir, pois esse júri é bastante complexo e o Ministério Público não quer interferir no veredito que a sociedade espera dar — afirma o promotor Eduardo Lorenzi, responsável pela acusação.

Durante o julgamento, os cinco réus serão interrogados e poderão apresentar suas versões. O júri será presidido pelo juiz José Antônio Prates Piccoli. Caberá aos sete jurados que integrarão o Conselho de Sentença decidir se os réus são culpados ou inocentes.

A vítima

Arquivo pessoal / Reprodução / Reprodução
Última foto que Marcelo Minossi tirou com o filho no hospital de São Leopoldo, em novembro de 2018.

Apaixonado por música tradicionalista gaúcha, Gabriel frequentava com o pai, Marcelo Minossi, 44 anos, desde os seis meses de idade a Sociedade Gaúcha da Lomba Grande, em Novo Hamburgo. O jovem chegou a residir em Santa Catarina com a mãe, mas quando retornou do Estado vizinho, cerca de um ano antes de ser vítima do crime, voltou a frequentar o grupo tradicionalista com a família. O rapaz adorava tocar violão e cantar.

Outra paixão de Gabriel eram as motocicletas. Mecânico, especializado em motos, queria montar uma oficina com o pai. Os dois frequentaram juntos, todos os sábados, por cerca de um ano, curso na área. Pretendiam esperar dois anos para juntar dinheiro e, depois, inaugurar o negócio. Os sonhos não chegaram a se concretizar. Quando foi morto, Gabriel estava hospitalizado porque havia se acidentado com a motocicleta.

Contrapontos

Deivid Silva de Ávila

O advogado Celso Souza Lins informou que a manifestação da defesa ocorrerá somente nos debates durante o julgamento. O preso nega que tenha participado do crime.

Eberson Ferreira Almeida

A advogada Jeisi Ferreira Pacheco enviou manifestação, na qual sustenta a inocência do cliente. O réu continua preso. Confira:

“Embora a acusação de que ele teria figurado como mandante do crime, nenhum elemento na fase investigativa ou judicial foi capaz de demonstrar o mínimo de provas nesse sentido. Ao revés, porquanto o acusado se encontrava recolhido na Penitenciária quando da ocorrência do fato, sendo que jamais foi conduzido à Delegacia para prestar esclarecimentos dos fatos. Em que pese a repercussão do caso e forte investigação realizada (com perícia de local de crime, gravações da ação, perícia papiloscópica, perícia nas imagens, entre outras) nenhuma prova pericial ou mesmo testemunhal indica a participação do Sr. Eberson, o qual pretende comprovar sua inocência ao longo da sessão plenária designada para amanhã (terça-feira) com base nas provas colhidas ao longo da instrução criminal, a qual perdura desde o final do ano de 2018 com o acusado preso. Por fim, consigna a solidariedade aos familiares de Gabriel, os quais infelizmente foram vitimados por esse ataque.”

Jorge Gilberto da Silveira Júnior

A Defensoria Pública do Estado informou que só se manifestará sobre o caso durante o julgamento.

Lucas Gabriel Pedroso Nunes

GZH entrou em contato com o advogado Renan Bergerhoff, que encaminhou nota na qual afirma que não existem provas da participação do réu no crime. Confira:

“Lucas estava trabalhando a época e se apresentou espontaneamente quando soube ter sido procurado pela polícia, e está preso até hoje, mais de cinco anos. No plenário será provada a inocência de Lucas, e ainda que seja um crime tormentoso, a sociedade precisa de uma resposta justa, punindo aqueles que cometeram os fatos, não inocentes.”

William Gabriel Almeida Pereira

A advogada Patrícia Savela informou que a defesa sustentará a inocência do cliente, que continua preso. Confira:

“Apesar da comoção social e da repercussão sobre o caso, seguimos, ao menos referente ao Willian, mantendo a mesma linha de negativa de autoria. Tentaremos demonstrar aos jurados e a sociedade leopoldense que não há participação do meu cliente neste crime.”


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