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Queda nas matrículas

Número de escolas estaduais extintas dobra em 10 anos no RS

Dados do Censo Escolar apontam que, em 2013, 81 instituições da rede estavam paralisadas contra 163 em 2023

18/12/2023 - 11h21min


GZH
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André Ávila / Agencia RBS
Já são 163 escolas estaduais que constam como extintas em 2023.

— Meu filho, de 14 anos, só aprendeu a ler agora— afirma o reciclador Valdenir Macedo da Silva, de 60 anos, indignado com o ensino público. 

Dos 13 filhos, cinco estão na Escola Municipal de Ensino Fundamental Migrantes, em Porto Alegre, e mesmo os que estão no sexto e sétimo ano têm dificuldades para ler e escrever. Morador da Vila Dique, ele lamenta o fechamento da  Escola Estadual de Ensino Fundamental Professor Ernesto Toccheto, “que era a escola mais forte”. A instituição é uma das 163 instituições estaduais que constam como extintas em 2023 – número dobrou em comparação com 2013, conforme o Censo Escolar. 

Levantamento feito pela reportagem de GZH com os dados do Censo Escolar aponta que, em 2013, 81 escolas estaduais estavam "paralisadas", termo utilizado para se referir a instituições extintas ou em processo de extinção. Na última edição da pesquisa, divulgada em 2022, 159 escolas que foram desativadas no RS são de Ensino Fundamental. 

Conforme a Secretaria Estadual da Educação (Seduc), o número de escolas fechadas ainda é preliminar do Censo Escolar 2023. Do total, cinco já foram extintas, quatro municipalizadas e 154 estão em processo de cessação de atividades, com trâmite ainda em andamento, bem como o descredenciamento no Conselho Estadual de Educação.

Conforme o Conselho Estadual de Educação, os principais motivos para extinguir uma escola são o baixo número de matrículas e a migração para instituição municipal construída nas proximidades. Segundo o Censo Escolar, entre 2013 e 2022, houve redução de 29% no número de matrículas no Ensino Fundamental na rede estadual, passando de 589.258 para 418.412.

— A diminuição do número de matrículas no Ensino Fundamental é um fenômeno nacional, por conta das mudanças que a pirâmide etária do Brasil sofreu na última década — explica Mariza Abreu, consultora em Educação e secretária da pasta no RS em 2006. — No Rio Grande do Sul, o impacto é maior por ser o Estado com menor número de pessoas entre zero e 14 anos.

A consultora afirma que não se trata de um fenômeno negativo, mas sim de uma oportunidade para que os governos mudem o foco de políticas públicas. 

— Durante muitos anos, o objetivo foi ampliar o número de vagas na rede pública. Hoje, contudo, uma das únicas modalidades que ainda necessita de ampliação em alguns Estados é a creche. Nos ensinos Fundamental e Médio, o foco agora precisa ser a qualidade — afirma.

A ex-secretária lembra que o baixo número de matrículas não é suficiente para justificar a extinção de uma escola. Deve haver um diálogo entre a comunidade e os governos estaduais e municipais para decidir. 

— Não é um processo que ocorre da noite para o dia. É preciso ver ainda se há interesse dos moradores e do Executivo local em municipalizar a instituição, por exemplo, antes de decidir pela extinção — afirmou.

Nesta terça-feira (12), a Assembleia Legislativa gaúcha aprovou mudanças na legislação da área. O Marco Legal da Educação reforça a municipalização do Ensino Fundamental, processo que já tem ocorrido nos últimos anos e que segue modelo similar ao do Estado do Ceará. Isso pode ampliar o número de escolas estaduais extintas nos próximos anos.


Escolas abandonadas

De acordo com o Censo Escolar de 2022, dos 497 municípios gaúchos, cem registraram pelo menos uma escola estadual extinta. A cidade que liderou o ranking foi Porto Alegre, com 14 instituições desativadas. Na sequência vem Venâncio Aires (9),  Hulha Negra (6) e Bagé (5).

Muitas das instituições estaduais que constam como extintas em 2022 haviam iniciado o processo de cessação de atividades em anos anteriores. Na Capital, das 14 escolas citadas, 10 foram desativadas entre 2017 e 2021. Ao menos três delas estão abandonadas e com estruturas depredadas – uma delas é a Escola Professor Ernesto Tocchetto. 

— É complicado porque não temos nenhuma escola nas redondezas que atenda o público adolescente aqui da Vila Dique — lamenta Rebeca Canabarro, professora de Filosofia e moradora da região. — O Tocchetto atendia alunos do Ensino Médio também. Agora, os estudantes têm que pegar dois ônibus para ir até a instituição mais próxima. 

A reportagem questionou a Seduc, por meio da  Lei de Acesso à Informação, sobre a situação das instituições extintas e o que será feito das estruturas, mas ainda não houve retorno. A Secretaria de Educação de Porto Alegre também foi contatada a respeito da reclamação feita à Escola Municipal Migrantes, mas não houve resposta até a última atualização da reportagem.

Produção: Luiza Schirmer



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