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Ahaaam!

Piadas e muito bairrismo: páginas de memes fazem humor com as peculiaridades do RS

Cacetinho Memes, Porto Alegre Memes e Os Guris do RS são algumas contas nas redes sociais que viralizam ao tratar do gauchismo nosso de cada dia

27/02/2024 - 09h23min


Carlos Redel
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Instagram @poamemes / Reprodução
Publicação da página Porto Alegre Memes brincando com um problema crônico da Capital: a falta de luz quando chove.

Dificilmente um gaúcho adepto às redes sociais não foi impactado por alguma publicação das páginas Cacetinho Memes, Porto Alegre Memes ou Os Guris do Rio Grande do Sul. Com milhares de seguidores, essas contas se popularizam cada dia mais por tirar sarro com as peculiaridades de ser gaúcho — e não entenda como desrespeito, é apenas um olhar bem-humorado sobre como é viver no Estado.

Carregadas de bairrismo, na maioria das vezes, as contas fazem piadas que apenas quem é gaúcho vai entender — se for de Porto Alegre, então, as chances do meme ser ainda mais efetivo crescem consideravelmente. 

Um dos recentes e marcantes memes veio do Porto Alegre Memes, que divulgou uma montagem entre o prefeito da Capital, Sebastião Melo, e a colunista de GZH, Rosane de Oliveira, tendo uma conversa sobre videogames, em que eles "falavam" sobre a franquia de games GTA e pirataria.

Tal bate-papo nunca aconteceu e o meme foi gerado com auxílio de inteligência artificial, que imitou as vozes da dupla. Obviamente, viralizou. O barulho foi tamanho que Rosane e Melo, durante uma entrevista do prefeito para o Gaúcha Atualidade, programa da Rádio Gaúcha em que a jornalista é comentarista, repercutiram o vídeo e, também, alertaram para o uso das ferramentas digitais para manipular as pessoas. A questão é: o meme pautou a imprensa.

O responsável por ajudar a propagar tal conteúdo é Luciano Junges, 26 anos, que criou a página Porto Alegre Memes no Facebook ainda em 2017, querendo colocar um teor voltado para humor político na rede social. Porém, sem engajamento, logo o projeto se transformou no que é até hoje. 

Foi em 2019 que ele viu o conteúdo ganhar tração, após a criação de grupos nas redes sociais, o que gerou um senso de comunidade, conforme relata o idealizador. Mas de onde surgem as ideias e os memes? Bem, muita coisa é enviada pelo WhatsApp, distribuída em espaços digitais, no X (ex-Twitter) ou, até mesmo, importada.

— No começo, eu via um meme que estava bombando na gringa, ninguém tinha feito nada ainda por aqui, então eu trazia. Um formato de meme que eu acho que a gente ajudou a trazer para o Brasil é aquele do Bart na sala de aula, com todo mundo pedindo para ele falar tal coisa, aí ele diz, com cara triste, e o pessoal comemora. Eu fiz a versão com a frase mais manjada possível: "É os guri". O post bombou muito e eu vi muita página passar a fazer — conta Junges.

Humor que faz pensar

Porém, não são apenas os costumes que viram comédia no Porto Alegre Memes. A página ainda utiliza o humor para criticar problemas da cidade, como a vez em que a Capital ficou sem luz e houve post criticando a CEEE Equatorial ou, então, quando a Carris foi vendida para a empresa Viamão e a conta utilizou o seu engajamento para questionar a transação. Tudo com bom humor, mas sem deixar de repercutir assuntos pertinentes.

Eu gosto daquele ditado, que é em latim, castigat ridendo mores, "rindo se castigam os costumes". Eu acho que a sátira, a tiração de sarro, sempre teve um pouquinho de uma coisa social, de reivindicação, de refletir sobre algumas coisas. Por exemplo, tu vais pensar na Idade Média, o bobo da corte era um cara que podia tirar sarro de todo mundo, até do rei. Acredito que, tirando sarro de um jeito despojado, tu consegues fazer refletir — relata o criador do Porto Alegre Memes.

Desde o começo, o Porto Alegre Memes, destaca Junges, não obteve uma grande monetização — até porque o próprio criador do projeto nunca conseguiu ter a mesma entrega ao comercial que dispõe para os memes. Então, atualmente, o idealizador utiliza a conta como hobby, focando em sua vida pessoal, participando de concursos públicos na sua área de atuação, o Direito.

Cacetinho Memes

O Cacetinho Memes chegou com força em 2021 no Facebook e logo migrou para o Instagram. Com o sucesso — no final de 2023, a página já tinha 22 milhões de contas alcançadas —, os administradores decidiram rentabilizar em cima de suas postagens. A primeira iniciativa foi a Cacetinho Store, em que colocaram os memes publicados na página estampando camisetas e canecas — é possível, por exemplo, comprar uma peça com o Esqueletão estampado.

Idealizada por Alisson da Conceição, 26, e depois recebendo o apoio de Celisa Corrêa, 37, a Cacetinho Memes teve que, desde o começo, ir além do digital — a loja exemplifica esse desejo, bem como encontros organizados pelos administradores com os seguidores. 

Um case de sucesso da página nessa mistura de virtual com vida real foi uma espécie de gincana nas lojas da rede Zaffari, com os seguidores atrás das estátuas da Nossa Senhora das Graças meio que escondidas nos estabelecimentos. Gerou uma comoção, principalmente no grupo do Facebook, com grande engajamento nesta "caça à santinha".

— Era época da pandemia e o único lugar em que a gente podia sair era para ir no mercado. Então, a gente pensou em algo para fazer no mercado. Pelo menos alguma coisa para ocupar a mente, algo leve. Furou bastante a bolha e teve gente encontrando a santinha até nos Zaffaris em São Paulo — conta Conceição, que festeja o grande alcance da página.

O projeto proporcionou que ele e Celisa conhecessem celebridades gaúchas, como O Cara da Sunga e o "carinha que caiu no Centro naquele dia de chuva".

Assim como ocorre com o Porto Alegre Memes, a página do Cacetinho Memes também é abastecida com diversas postagens enviadas por fãs, bem como ideias da mente criativa de Alisson da Conceição, estudante de publicidade e propaganda que está sempre olhando para o seu redor e imaginando a temática bairrista. "E se eu postar isso com a música do Armandinho de fundo?" é um dos pensamentos que surgem. Ao ser colocado na prática, funciona. O humor e o comercial estão caminhando juntos, transformando o projeto em algo cada vez mais profissional.

— Estamos caminhando conforme a demanda. O que o cliente está pedindo, eu estou entregando. Por exemplo, a gente não tem cuia para vender. Um cliente falou que quer uma cuia. Então a gente vai começar a vender cuia. Eles começaram a pedir e a gente vai fazer. Ecobag, bonés. Tudo conforme a solicitação do mercado — aponta Celisa, que atua na área de gestão e empreendedorismo e quer transformar a piada em coisa séria.

Séria também é a torcida pelo Matteus, do BBB 24. O Cacetinho Memes é uma grande apoiadora do gaúcho e está sempre fazendo publicações de apoio ao alegretense mas, claro, colocando piadas junto. A mais recente cobertura foi da separação do participante do reality show com Denizane, posteriormente eliminada do programa.

— A gente gosta bastante dele e acreditamos que a edição do ao vivo do Big Brother não dá tanta atenção para ele. No dia a dia, ele aparece bastante. Além dele ser gaúcho, é muito gente fina, então decidimos dar um upzinho para ele. Fazia tempo que o Rio Grande do Sul não tinha alguém que fosse possível gostar normalmente. E agora tem o Matteus — aponta Conceição.

Os Guris do Rio Grande do Sul

Representando a Região Metropolitana, a página Os Guris do Rio Grande do Sul, de Gravataí, foi criada em 2019 e é gerida por Igor Silva, 23 anos. O jovem, que atualmente trabalha como repositor de supermercado, começou com uma conta para falar de futebol, mas queria um canal sobre coisas engraçadas, o famoso meme. Ao se dar conta de que vivia falando "os guri", teve a ideia de fazer da gíria a sua ferramenta para fazer humor.

Atualmente, somando as redes sociais, a conta Os Guris do Rio Grande do Sul tem quase 400 mil seguidores, sendo um fenômeno de alcance — mesmo que seu admin tenha apenas duas horas por dia para se dedicar ao trabalho digital, visto que o seu serviço lhe demanda bastante. A vontade de Silva é, no futuro, poder viver exclusivamente da página, a qual ele atualiza com o seu celular e ferramentas de edição que tem no dispositivo. É a partir do aparelho que ele entrega o principal para o público: as risadas.

— As pessoas estão sempre estão comentando, achando muito bom o nosso conteúdo, que vai ajudando elas. Tem gente que fica sempre pedindo para postar isso ou aquilo. E daí elas gostam dessa troca. Isso tira um sorriso da pessoa e alegra um dia meio bad. Recebemos bastante mensagens do tipo: "Eu estava ruim e, depois de ver essa publicação, já me deu um ânimo" — conta Silva.

Racha entre as páginas

Um ponto interessante entre as páginas Os Guris do Rio Grande do Sul e Cacetinho Memes é que ambas, volta e meia, fazem publicações colaborativas, com a postagem indo para os dois públicos. Essa parceria ajuda a alavancar os dois projetos. Porém, o clima amistoso não é com todas as páginas. Alisson Conceição, por exemplo, já foi colaborador da Porto Alegre Memes, mas a sua relação com Luciano Junges não terminou bem.

Na época, deu uma ladainha. Era por outubro de 2020, no meio da pandemia, a gente achava que nunca mais ia acabar. Nessa época, também, mais de 90% das postagens do Porto Alegre Memes eram minhas. Eu comecei a querer criar uns outros conteúdos e o ele (Luciano) dizia: "Ah, não, fui eu que criei, então não". A gente começa a ter umas divergências. Saímos, então, eu e mais alguns admins e criamos, digamos assim, a visão que a gente queria para o Porto Alegre Memes. E está dando certo — explica Conceição.

Na versão de Junges, os colaboradores da página da época da pandemia foram, principalmente, recrutados dos grupos criados para o Porto Alegre Memes. Não eram amigos, apenas conhecidos da internet. Com o avançar o tempo, alguns começaram a pedir mais permissões para acessar as contas, o que levou o criador do projeto a recuar, por medo de perder o seu trabalho. Assim, começou o racha, que ainda foi intensificado por uma época de difícil convivência.

— Às vezes, eu achava que tinha que ser de um jeito e o pessoal não concordava. Rolou alguns atritos. Teve um dia que eu fui xaropear com uma coisa pequena, aí eles encheram o saco, saíram e levaram um dos dois grupos do Facebook que a gente tinha. Falaram algumas coisas que eu acho que não era verdade e, depois disso, nunca mais fizemos as pazes. Então, o Cacetinho começou como um racha do Porto Alegre Memes — relata Junges.

Entre piadas, bairrismo e até alguns atritos, as páginas seguem aí para fazer o público rir, além de refletir sobre o dia a dia de Porto Alegre e região. 

Para quem quiser encontrá-las, basta seguir os links:

Porto Alegre Memes

Cacetinho Memes

Os Guris do Rio Grande do Sul


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