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Um mês após tempestade em Porto Alegre, saiba quais as medidas tomadas para reduzir danos em futuros eventos climáticos

Prefeitura, CEEE Equatorial e Defesa Civil preparam conjunto de ações; veja alternativas para manejo de árvores e retomada rápida da energia elétrica

16/02/2024 - 21h35min


Paulo Egídio
Paulo Egídio
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André Ávila / Agencia RBS
Cidade ainda lida com resquícios da tempestade de 16 de janeiro, que a prefeitura considera a mais robusta da história.

Passado um mês da noite de chuva intensa, raios incessantes, queda de granizo e impetuosas rajadas de vento que derrubaram árvores e postes e deixaram um rastro de destruição em Porto Alegre, a cidade ainda lida com resquícios da tempestade. Ao mesmo tempo, tenta se preparar para enfrentar os efeitos de futuros fenômenos climáticos.

Cidade ainda lida com resquícios da tempestade de 16 de janeiro, que a prefeitura considera a mais robusta da história da cidade.O temporal de 16 de janeiro bloqueou e alagou ruas, interrompeu o fornecimento de energia elétrica, afetou o abastecimento de água e comprometeu a estrutura de imóveis. Na prefeitura, é tratado como o mais robusto da história, ao menos na quantidade de problemas que deixou como legado.

Cerca de 3 mil árvores foram ao chão em áreas públicas, mais de 5 mil pedidos de atendimento chegaram a órgãos municipais e 2 mil toneladas de resíduos foram recolhidas das ruas. Um mês depois, ainda há amontoados de galhos em calçadas, passeios, parques e praças da Capital, formando focos de lixo em diversas vias urbanas.

Responsável pelo manejo das árvores na Capital, a Secretaria de Serviços Urbanos estima que cerca de 80% das árvores que caíram eram saudáveis. Ou seja: a única causa para levá-las ao chão teria sido a violência do vendaval.

Nesta sexta-feira (16), em entrevista à Rádio Gaúcha, o prefeito Sebastião Melo disse que a prefeitura pretende ampliar o orçamento direcionado às podas de árvores, que no ano passado foi de R$ 22 milhões. Por outro lado, não apresentou alternativas para o tratamento de árvores doentes.

Resultante da devastação arbórea, a maior chaga decorrente do evento climático foi a demora no restabelecimento da energia elétrica, que também atingiu estações de bombeamento e provocou falta de água. Em alguns pontos, a luz demorou mais de uma semana para ser restabelecida.

Para além dos contratempos, a tempestade também deixou aprendizados, que serviram de base para a formulação de providências que visam diminuir transtornos em episódios semelhantes no futuro.

A principal medida de prevenção está sendo elaborada em conjunto pela prefeitura e pela CEEE Equatorial: mapear as redes prioritárias, que abastecem casas de bombeamento de água e hospitais, além de pontos nevrálgicos que levam energia a grandes grupos de consumidores. O plano, que prevê dividir a cidade em poligonais, estipula a realização de podas preventivas e reforço na fiação para evitar a falta de luz nesses locais prioritários.

Em paralelo, o município e a concessionária digladiam argumentos em torno de um acordo de cooperação para o manejo dos galhos próximos à fiação. Mediada pelo Ministério Público, a negociação causa ruído entre as partes.

— A Equatorial ainda está um pouco resistente na parte sobre as podas, mas quando a árvore está ladeando a rede, a responsabilidade é da concessionária. Temos uma nova reunião no final do mês para discutir isso — relata o secretário municipal de Serviços Urbanos, Marcos Felipi Garcia.

Superintendente da CEEE Equatorial, Sérgio Valinho confirma que o pacto ainda precisa de mais discussão:

— O que ficou acordado é o plano de trabalho integrado. O acordo ficará para um segundo momento.

A prefeitura também está produzindo um relatório sobre os estragos provocados pela tempestade e as ações de resposta, com o objetivo de formar um registro histórico que congregue informações úteis para lidar com esses fenômenos no futuro.

CEEE Equatorial reforça equipes

De parte da CEEE Equatorial, está em curso um plano de aumento nos números de trabalhadores disponíveis para atuar nos casos de falta de energia. As equipes de eletricistas que atuam cotidianamente no atendimento a esses casos passarão de 96 para 150 em toda a área de concessão.

A empresa também está capacitando e aparelhando 400 equipes de outros setores para que possam atuar na religação de energia em casos de emergência. Ainda haverá incremento de 70 caminhões na frota da empresa, permitindo a ampliação do número de profissionais dedicados à manutenção preventiva e a atendimentos emergenciais de maior porte.

Outra providência adotada é a instalação de mil novos equipamentos que permitem manobrar remotamente a rede de energia, que será concluída até o final do semestre e representará acréscimo de 50% ante a estrutura atual.

—Esse equipamento identifica o defeito e tenta recompor a rede sem a intervenção humana. Quando isso não é possível, tentar deixar a energia desligada para a menor quantidade possível de consumidores. E também permite enxergar qual o trecho exato que está com problema — explica o superintendente da CEEE.

A concessionária também diz que está intensificando a substituição de postes antigos, revendo o plano de investimentos para melhorar a infraestrutura nas áreas mais afetadas por tempestades e adquirindo caminhonetes 4x4 para atender áreas rurais ou de difícil acesso.

Educação comunitária

Encarregada de prevenir e mitigar efeitos de desastres naturais, a Defesa Civil de Porto Alegre está preparando a implantação de núcleos comunitários em diferentes regiões da cidade.

Anunciada ainda em 2023, a proposta está ganhando forma nesse ano, a partir da sanção da lei que retirou o órgão do escopo da Secretaria de Segurança e o levou para o gabinete do prefeito. Na prática, a ideia é promover encontros com a comunidade para levar as informações necessárias a partir do segundo semestre.

— Precisamos capacitar as comunidades para que as pessoas saibam prestar auxílio naquele momento de urgência e também como se proteger. Indicar quais são os pontos de encontro, rotas de fuga, para onde ir e o que o local sinaliza. Por exemplo, no caso de um terreno, como saber se há risco de deslizamento. Queremos que seja um plano contínuo do município, não apenas dessa gestão — explica o coordenador da Defesa Civil, coronel Evaldo Rodrigues Júnior.

O órgão trabalha em conjunto com a Secretaria de Educação para levar o conhecimento sobre o tema aos estudantes da rede municipal de ensino, incluindo o assunto ao cotidiano das escolas.

Saídas para conter danos

A seguir, veja um resumo do que pode ser feito para reduzir os estragos em futuros temporais na Capital:

Cuidado com as árvores

  • A despeito da avaliação da prefeitura de que a maior parte das árvores caídas estavam sadias, especialistas afirmam que o mais comum é que os vegetais que cedem a eventos climáticos sejam aqueles que contêm algum tipo de problema pretérito.
  • Essa avaliação é corroborada pelo engenheiro agrônomo Cassio Brufato, diretor para a Região Sul da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (Sbau).
  • — Precisamos pensar no cuidado com as árvores desde o plantio. Verificar se aquela espécie é indicada para determinado lugar, se há fiação próxima, se a cova é adequada e se há área permeável para que receba água, além de fazer as podas corretas, de formação, de condução e de limpeza. A vida toda da árvore precisa ser acompanhada — avalia o agrônomo.
  • Um dos casos apontados como referência no manejo arbóreo é o da cidade de Maringá, no Paraná. Com cerca de 150 mil árvores, a prefeitura local fez uma série de adaptações no ambiente urbano, como adaptação da altura dos postes de iluminação pública e ações de conscientização da comunidade sobre o manejo adequado.
  • Desde 2019, o município conta com um plano de gestão da arborização, com a indicação de espécies para cada uma das mais de 3,5 mil ruas. Colhendo os resultados dessa política, a prefeitura local recebeu, em 2022, o título "Cidade Árvore do Mundo" da ONU.

Restabelecimento de energia

  • No caso do atendimento para o retorno da energia elétrica, as principais referências positivas no Rio Grande do Sul são as cooperativas regionais que levam energia a algumas localidades do Estado.
  • Um dos exemplos emblemáticos foi o da Cooperativa de Distribuição de Energia Teutônia (Certel). O temporal deixou 46 mil dos 75 mil associados sem energia e, às 7h30min do dia seguinte, o número já havia despencado para 8 mil.
  • Presidente da companhia e dirigente da Federação das Cooperativas de Energia, Telefonia e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul (Fecoergs), Erineo Hennemann aponta que isso é resultado do "modelo diferente de negócio" das cooperativas, nos quais os consumidores são associados da empresa e decidem o destino do empreendimento em reuniões periódicas.
  • — No dia do evento, dispensamos pessoas de manhã porque há noite tínhamos certeza que haveria esse evento — explica Erineo. 
  • O dirigente também aponta que as cooperativas costumam repassar a previsão de retorno da energia assim que recebem contatos avisando da falta de luz e contam com o apoio de rádios comunitárias para informar onde as equipes estão trabalhando. 

O que é jornalismo de soluções, presente nessa reportagem?

É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.



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