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Ganhou, tem que agradar?

Paula Fernandes, Anitta e Daniela Mercury: veja as críticas que elas sofreram em pequenas cidades do Brasil

Seja por comportamento diante do público ou pelo conteúdo das manifestações, cantoras não foram poupadas por prefeitos e entidades 

20/12/2018 - 07h19min


GZH
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Reprodução / Facebook
Assim como Paula Fernandes, Anitta foi criticada por show "apático" em Rondônia e por supostamente não receber fãs no seu camarim

Ter uma bagagem de discos, prêmios e turnês nacionais não livra os músicos de serem mal avaliados quando sobem aos palcos das pequenas cidades. Quando Paula Fernandes foi criticada publicamente pelo prefeito de Taquari, no interior do Rio Grande do Sul, por supostamente ser arrogante com o público e não receber uma lista de convidados que a prefeitura gostaria que a vissem de perto, a cantora expôs as pressões que um artista sofre em relação a seu desempenho — seja pela postura diante dos fãs ou pelo conteúdo de sua arte.

Alvo de comentários pouco lisonjeiros do prefeito Emanuel Hassen (PT), que a chamou de "baita mala" após ser atração principal de um evento em Taquari, Paula Fernandes viveu situação semelhante a da cantora Anitta quando esta se apresentou em uma cidade de Rondônia, no norte do país. Anitta foi criticada pela entidade que promoveu o show por fazer uma apresentação "apática" e não receber pessoas em seu camarim — chegou a ganhar uma nota de repúdio por parte da organização do evento. 

Daniela Mercury foi depreciada por um prefeito de uma cidade de Pernambuco por fazer um show que "ofendia pessoas e a religião" — ela era uma das atrações do Festival de Inverno de Garanhuns, que havia cancelado a peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu em razão de ser estrelada por uma atriz travesti. 

Relembre os casos das cantoras que, em comum, foram vistas como arrogantes por prefeitos e entidades de pequenas cidades:


Anitta em Rondônia

No auge do sucesso, Anitta foi convidada em agosto para ser atração principal da Exposição Agropecuária de Cacoal, evento tradicional promovido pela Associação Rural da cidade de Rondônia com cerca de 80 mil habitantes. Dias depois, o presidente da entidade assinou uma nota de repúdio direcionada à Anitta reclamando de pedidos "descabidos" por parte da equipe da cantora, da apatia em cima do palco, do show que não completou uma hora de duração e de ignorar convidados que estavam com pulseiras para entrar no camarim. 

"A diretoria não se importa com o fato de seus diretores não terem ido ao camarim, pois estes já tinham inclusive abdicado do direito de fazê-lo. Mas repudia a forma como a imprensa e o público de Cacoal foram tratados, com crianças chorando à porta do camarim e, principalmente, pela forma como o show aconteceu, deixando claro que a cantora não queria estar ali", escreveu o presidente da entidade Jonas Góes Neto. 

Em contraposição, Anitta respondeu que cumpriu com a programação em Cacoal e atendeu a todos os fãs que a aguardavam — assim como fez Paula Fernandes em nota enviada à imprensa, em que disse que "estava a postos" dos fãs na porta do camarim em Taquari e que as críticas do prefeito gaúcho eram "promoção usando nomes públicos" como o dela.

Daniela Mercury em Pernambuco

Felipe Souto Maior / Secult/PE
Daniela Mercury criticou censura da prefeitura de Garanhuns exibindo imagens dela e de sua esposa

A cantora baiana não agradou ao prefeito Izaías Régis (PTB) quando fez um show dentro da programação do Festival de Inverno de Garanhuns, cidade de Pernambuco com cerca de 110 mil habitantes. A polêmica teve a ver com o conteúdo da apresentação — dias antes de o evento começar, a prefeitura havia cancelado a exibição da peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, estrelada pela atriz Renata Carvalho. A razão dada foi que, pela protagonista ser travesti, a peça feria a crença de religiosos. 

Ao subir no palco, Daniela Mercury fez questão de provocar a censura promovida pela prefeitura. No telão, exibiu uma imagem sua aos carinhos com a esposa, Malu Verçosa. Depois, fez um longo discurso em favor das manifestações artísticas. Antes dela, o cantor Johnny Hooker também havia se apresentado no festival com um discurso contundente contra o cancelamento da peça.

— Me choca profundamente que os políticos desse país censurem uma peça de teatro. Que censurem uma exposição de arte de grandes artistas. É de uma petulância absurda. Se nós tivéssemos protestos de pessoas de religião, que não compreendem a arte, que não entendem que a arte não tem dogma, que a arte é crítica social (...), que a arte é essencialmente livre, é singular (...). Arte é para incomodar, é para fazer pensar, refletir. Arte é para libertar a cabeça de mer*. Não existe civilização sem liberdade, não existe civilização que não tenha sido construída a partir das manifestações artísticas de seu povo. Então não me venha com ignorância querendo conceituar o que é arte e o que não é arte. Censurar uma peça de teatro por convicções religiosas é um absurdo. Nossa Constituição não é a Bíblia —discursou a cantora. 

No dia seguinte, o prefeito Izaías Régias emitiu uma nota à imprensa dizendo que estava "perplexo" com as manifestações de Daniela Mercury e de Johnny Hooker, a quem chamou de "artistas sem postura", que desrespeitavam os "seus próprios fãs e os cidadãos". "Cantores, pagos com dinheiro público, que se preocupam mais em ofender pessoas e a religião alheia do que com sua música, não merecem respeito tampouco admiração, mas desprezo", irritou-se o prefeito. 


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