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Música

As revelações do sertanejo no Rio Grande do Sul

Nomes como Glê Duran e Bibiana Bolacell ganham destaque no cenário local e pretendem voos maiores

29/10/2022 - 15h51min


José Augusto Barros
José Augusto Barros
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Cláudio Tavares / Divulgação

Ritmo mais popular do país que pontua todos os meses as listas de músicas mais executadas em rádios e plataformas digitais, o sertanejo, finalmente, ganha corpo no Rio Grande do Sul. 

Quando o gênero ganhou ainda mais força no Brasil, entre 2008 e 2010 (depois de um movimento importante nos anos 1980), com o chamado sertanejo universitário – cujos expoentes eram Victor & Leo –, o Estado ainda engatinhava na revelação desses artistas, muito por conta da cultura ligada ao tradicionalismo. Porém, a intensidade do sertanejo invadiu nossos pagos com tudo, principalmente, nos últimos seis anos. 

Neste final de semana, conheça a trajetória de quatro artistas locais com estrutura, repertório e potencial consistentes para chamar a atenção além das nossas fronteiras.

Bibiana Bolacell

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Artista flerta com o agronejo

O chapéu é de cowboy: no Estado das prendas e dos gaudérios, a cantora Bibiana Bolacell tem conquistado espaço com o sertanejo. Aos 27 anos, também tem se expandido para além do Rio Grande do Sul. Seu primeiro DVD, intitulado Ao Vivo em Goiânia, foi gravado em 18 de maio, no dia de seu aniversário. Além disso, a artista tem flertado com uma nova vertente do estilo musical: o agronejo.

Nascida em Sapucaia do Sul, Bibiana se mudou para Imbé aos quatro anos. Hoje, vive dividida entre o município do Litoral Norte e Porto Alegre. Ela é formada em Odontologia, mas a música é seu principal foco desde cedo. Criada no circuito de dança tradicionalista, em meio a rodeios e festivais, Bibiana canta desde os cinco anos. 


Números expressivos


Bibiana contabiliza seis álbuns gravados. Para o seu primeiro DVD, a cantora foi para Goiânia, onde chegou a morar por quase dois anos, retornando ao RS na pandemia. Inclusive, é por lá que ela produz suas canções há alguns anos.

- Qualquer cantor sertanejo, se for perguntar onde sonha em gravar, vai responder Goiânia. Era o meu sonho gravar meu DVD por lá também. É o berço do sertanejo - ressalta.

Contando com participações de nomes nacionais do sertanejo, como Day & Lara e Paulo & Nathan, o disco acumula nove faixas que estão sendo lançadas separadamente desde junho. Até o momento, já foram divulgadas a trinca Dupla de Três, Eu Ia e O Troco. Os três singles passam da casa das 100 mil visualizações no YouTube. O restante das faixas deve sair nos próximos meses.

Além de lançar as outras músicas do álbum, Bibiana tem se aproximado de uma nova tendência: o agronejo. 

O estilo traz uma linguagem de ostentação para exaltar a agropecuária, misturando elementos sertanejos com a música eletrônica. Nomes como Ana Castela, DJ Chris no Beat, Luan Pereira, Us Agroboy, entre outros, despontam nesse movimento.

- Eu já tenho esse estilo mais raiz, que o agronejo traz na vestimenta desde sempre. Já uso muita bota, muito chapéu - aponta, para completar:

- Frequento os rodeios e festivais desde criança, sempre circulei no meio da pecuária. Querendo ou não, o agronejo é o campo, é a roça. Eu como gaúcha, sinto que represento e me identifico com isso, pois é o meio onde fui criada.

(William Mansque)

Glê Duran

Cláudio Tavares / Divulgação
Inimigas do Fim é a aposta da cantora

Natural de Constantina, no norte do Rio Grande do Sul, Glê Duran, 28 anos, canta desde a infância na roça, como costuma lembrar. Porém, foi na igreja, local onde muitos artistas começam sua trajetória, que deu  seus primeiros passos na música.

- Montei uma banda com meu irmão, comecei a viajar. Nos mudamos para Passo Fundo (onde ela mora até hoje) - lembra.

Porém, a mudança em sua carreira começou quando  criou a banda Loirinha do Forró, com apenas 15 anos.

- Fazia mais de 20 shows por mês em São Paulo, na Bahia. Foi uma época de muito aprendizado. Pulei a fase da adolescência (risos) - conta.

Durante sete anos, Glê seguiu à frente da banda de forró, quando percebeu que o mercado estava mudando e que o sertanejo se fortalecia de maneira consistente no país. 

- Me encontrei. Vi que, no sertanejo, eu estava fazendo muito mais do que no forró, há muitas possibilidades. Me considero uma artista, me permito outras coisas, gosto de dança, por exemplo. Quando ingressei no sertanejo, aprendi a me comunicar de forma diferente - explica Glê, que é casada com Matheus Soares, baixista da banda de Gusttavo Lima (por sinal, ela fez a abertura do show do Embaixador na sexta-feira, em Bento Gonçalves, e repete a dose neste sábado, em Novo Hamburgo).

Sem rótulos

Mesmo investindo bastante no segmento sertanejo, Glê não gosta de rotular sua carreira. Explica que, na sua origem musical, admirava a banda Calypso, quando Joelma ainda estava à frente do grupo paraense.

- Ela era muito boa de palco, gostava muito de assistir aos DVDs dela. E me espelho muito na Joelma, no sentido de ser diva, de ter representatividade. Tem que ter conexão e um trabalho autoral, senão, é mentira. Sei que o sertanejo tem futuro, mas não consigo me rotular, até porque não sou do sertanejo raiz. Por outro lado, o sertanejo me permite passar por diversos estímulos, tem mais abertura. Tenho influências do reggae, misturo com xote, por exemplo. E outra influência é Shania Twain (um dos principais nomes da música country norte-americana) - afirma. 

Entre os seus trabalhos mais recentes, o destaque vai para Inimigas do Fim, canção gravada em Goiânia, sob o olhar atento do produtor Jenner Melo, um dos principais do sertanejo no Brasil. 

Ela gravou ainda um DVD em Passo Fundo.

- E pretendo fazer alguns projetos, que tragam ainda mais a minha verdade. Meu sonho é gravar uma música em inglês, faço aulas toda a semana. Também quero ir para a TV. E pretendo lançar uma música por mês. O público está sempre sedento por novidades, o mercado não funciona mais como antigamente, quando o artista lançava um trabalho a cada seis meses, por exemplo - finaliza Glê.

Filipe Girardi

Rubens Siqueira / Divulgação
Saudadezinha é seu hit atual

Aos 24 anos, natural de São Borja, mas morando atualmente em Bento Gonçalves, na Serra, Filipe Girardi tem história para contar: foi vendedor de passagens na rodoviária e se tornou uma revelação do sertanejo gaúcho. 

O artista aprendeu a cantar e tocar violão aos quatro anos e, aos nove, já cantava em bares com o tio, o músico Jorge Dornelles. Em 2017, aos 19 anos, trabalhou como vendedor de passagens na rodoviária de Bento Gonçalves. Em 2018, largou o emprego para realizar seu maior sonho: a carreira solo, quando gravou sua primeira faixa, Baladinha da Vida. Atualmente, seu canal tem mais de 2,5 milhões de visualizações no YouTube. 

No Spotify, passa de 1 milhão de plays.

- Acho que todo projeto começa com muitas portas na cara e obstáculos que, aos poucos, vão fazendo a gente enxergar que pode melhorar. Os objetivos precisam ser conquistados. Trabalhei de garçom e na rodoviária, tocando em bares na noite de Bento - reforça Filipe, que faz uma média de 160 shows por ano. 


Reconhecimento

Em 2021, seguiu o caminho de boa parte dos sertanejos: gravou seu DVD em Goiânia, com produção de Blenner Maicon e Jenner Melo. Em seguida, outro lançamento importante, a faixa Saudadezinha, com participação especial de Israel Novais. 

- Estar ao lado do Israel Novaes, de quem eu sempre fui fã, foi incrível. Essa música é uma grande aposta da minha carreira. Ela vai mostrar um outro lado do Filipe Girardi, mais comercial, bem diferente do que as pessoas conhecem e viram no DVD Ao Vivo em Goiânia, um projeto que mostrou mais a minha essência - pontua.

Segundo Filipe, um dos seus sonhos é deixar seu legado para as pessoas:

- O maior sonho do artista que ama música é ter o reconhecimento das pessoas, deixar um legado e, hoje, trabalhamos muito para ver o sorriso nas pessoas e a transmissão do amor pela música que exploramos no palco.

Lilly

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
DVD Livre, Leve e Solta faz sucesso nas rádios

Cantando na igreja, Lilly, 30 anos, de Porto Alegre, teve um princípio de carreira eclético. Influenciada pelos irmãos, que integravam bandas locais, sempre ouvia sucessos do pop e rock. Na adolescência, flertou com o reggae até que, já adulta, migrou para o sertanejo. Além disso, sua formação musical é sólida.

- Comecei cantando na igreja aos cinco anos, quando descobri meu amor pelo canto. Estudei canto durante muito tempo. Aos 17 anos, me formei e comecei a dar aulas de técnica vocal - lembra.

Antes da carreira solo, foi backing vocal de Tati Portella e participou de um projeto dos Papas da Língua. Até que, há cerca de três anos, assumiu seu voo solo. Neste ano, gravou o primeiro DVD: Livre, Leve e Solta. 

A faixa-título, inclusive, é destaque na programação da rádio 92 (92.1 FM). Uma das principais canções do disco é Amor Solteiro, composição do gaúcho Dom Vittor, que formou dupla com João Gustavo, irmão de Marília Mendonça (1995 – 2021). 

Força feminina

Lilly comenta que entre os seus sonhos para o futuro está o de levar sua arte para o maior número de pessoas possível, além de mostrar a força das mulheres na música sertaneja. 

- Tenho trabalhado bastante em prol do projeto. O sertanejo é um gênero que me acolheu. Tenho me sentido muito feliz - afirma.

Lilly enfatiza a importância de Marília enquanto referência para as mulheres não só na música sertaneja, mas no contexto atual.

- Ela foi um divisor de águas na música sertaneja. Ela trouxe empatia, o valor da mulher, as histórias da vida da gente. Essas histórias são reais, podem até não ser as melhores, mas são reais - explica a cantora, que completa:

- Acho importante que mais mulheres entrem na música. Que cada uma se ame, se respeite, seja respeitada. Eu me sinto honrada de levar minha arte e fazer com que outras se sintam representadas por mim. É um prazer sentir que ajudo de alguma forma. 


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