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Festival de hip-hop

Nostalgia, gigantismo e 28 horas de música: como foi o Rap in Cena 2023

Mais de 70 nomes se apresentaram nos três palcos, com cerca de 25 mil pessoas nos dois dias

30/10/2023 - 09h03min


William Mansque
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Pelo segundo ano consecutivo, o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (Harmonia) se transformou em um grande templo do hip hop no Brasil. No sábado e domingo, o espaço abrigou a nona e maior edição do Rap in Cena. Mais de 70 nomes se apresentaram nos três palcos do festival, que totalizou 28 horas de música.

A organização do evento aponta que 25 mil pessoas compareceram ao festival no sábado, e a expectativa era repetir o número no domingo - totalizando 50 mil pessoas em dois dias de Rap in Cena. No primeiro dia, o Rap in Cena arrecadou 40 toneladas de alimentos, e a estimativa é que passe desse número no segundo dia, podendo chegar a 80 ou 90 toneladas no total.

Sábado

No sábado, a chuva originalmente prevista não deu as caras, mas o mormaço tomou conta do parque. Pelos palcos, o clima foi quente com apresentações de nomes como Cristal, BK, Veigh, L7nnon, Poze do Rodo, entre outros.

– Tenho certeza que algumas das mensagens que depositei ali em cima do palco vão servir de grande benção para cada um que veio hoje – comemorou Veigh.

Um dos pontos altos do dia foi no show de Djonga, que foi para a galera no final de sua apresentação, chegando a ir ao público da pista que fica atrás da área vip do Palco World Budweiser. Por lá, ele formou uma roda com o fãs para pular ao som de Olho de Tigre, um hino antirracista.

— Porto Alegre foi um dos primeiros lugares que visitei na minha vida fazer show fora de Minas Gerais — disse Djonga. — Não teve uma vez que vim aqui e que o show foi ruim ou mais ou menos. Foi maravilhoso novamente. Tomara que esse evento continue por muitos e muitos anos. E eu quero estar em todos.

Mas, no final, houve confusão: o vôo de Orochi, que vinha do Rio de Janeiro para Porto Alegre, atrasou. Então, a ordem do palco principal foi alterada, com o show do rapper passando para o encerramento.

Orochi subiu ao palco com menos de meia hora para sua apresentação, pois o festival precisava encerrar às 23h59 – após a meia-noite, há multa por perturbação sonora.

Na metade de Carro Forte, o som foi cortado. Frustrado, o rapper saiu do palco e já se preparava para ir embora, mas outros cantores o convenceram a dar tchau aos fãs. Assim, Orochi retornou ao palco acompanhado de Djonga, L7nnon, Poze do Rodo e Major RD para a despedida.

Em seu stories do Instagram, Orochi desabafou: "Infelizmente hoje o universo fez de tudo pra não acontecer meu show completo no festival". Ele justificou o atraso e agradeceu aos fãs.

Em nota, o festival pediu desculpas ao artista e ressaltou que "em caso de descumprimento da Lei, o Rap In Cena, além de arcar com multa, poderia ser impedido de realizar os shows de domingo, bem como prejudicar o município com a proibição de futuros eventos no Parque".

"Infelizmente, apesar de todos os esforços, o som precisou ser cortado para que o evento não fosse embargado no Domingo", acrescentou.

Domingo

No domingo de sol forte e calor, com temperaturas na casa dos 30ºC, uma parte do público se acomodou pelos rastros de sombra do parque. Era comum ver gente com vermelhões pelo corpo, ou então reforçando o protetor solar.

Nesse contexto, Cabelinho fez um show quente, no meio da tarde. Assim como foi de Marcelo S2 e Sain. Da Guedes fez um show contundente de que só quem tem 30 anos de estrada pode fazer. A noite ainda contaria com Wiu, Filipe Ret e Racionais MC's, que teve a participação de Thaíde e Dexter e fechou o festival com o hino "Vida Loka parte 2"

A nostalgia teve vez no Palco Anos 90, que ocupou a Casa do Gaúcho no domingo. Com curadoria de Celso Polêmica, que também atuou como mestre de cerimônia ao lado de Primo Preto, o espaço recebeu consagrados nomes da história do hip hop gaúcho e nacional. Por lá passaram Ndee Naldinho, Thaíde, Pepeu, Afro-x, Revolução RS, Jacksom, Nitro Di, entre outros.

Para Keni Martins, um dos sócios e idealizadores do evento, o balanço no nono Rap in Cena foi positivo:

– A felicidade da entrega está gigantesca ao sentir a energia do público. Eu rodei pelo evento todo e vi a vibe da galera num festival de vários formatos. Seja contemplando os esportes ou nos três palcos rolando simultaneamente. A energia dos artistas com o público casou demais.

Keni confirma que uma nova edição do evento deverá ser realizada no ano que vem. Para comemorar 10 anos, a expectativa é que a festa seja ainda maior.

– Se este ano a gente conseguiu entregar tudo isso com essa excelência, aguarde que ano vem vamos trazer muitas surpresas e uma bomba sensacional. Tudo para validar o nosso legado como maior festival de cultura hip Hop do Brasil - garantiu.

Além da música

Não foi só música: o Rap in Cena deste ano também abrigou a Vila Olímpica. A arena promoveu atrações como skate, basquete, breakdancing, boxe, kickboxing, jiu-jítsu, batalha de rima e slam. Até a beleza estava em pauta: há o Espaço MVP, com curadoria da MVP Barber Club, que oferece serviços de cabelo e barba.

No sábado, transeuntes se revezavam tentando algumas cestas no espaço Basquete in Cena, com curadora do Dunk Park. O público podia montar equipes para desafiar o time da Liga de Basquete Amador de Porto Alegre, em uma quadra 3x3.

Para Anderson Wintter, proprietário do Dunk Park, o basquete é um dos principais pontos da cultura hip-hop:

— É um esporte que pauta diversos aspectos, como vestuário. O basquete se entrelaça com a identidade do hip-hop, que vai muito mais que a música.

Dentro da Vila também havia o Skate in Cena, com curadoria da Alvo Cultural. Em uma pista de street, homens e mulheres disputavam um campeonato de melhor manobra. Um dos juízes era o skatista profissional desde os anos 1990, Tomas Guedes, o Tomate. Para ele, é difícil separar o skate do hip-hop.

— A inclusão do skate no Rap in Cena serve para valorizar a nova geração. Vivemos por aqui a melhor fase do skate, com o boom das Olimpíadas e a construção da pista da Orla — observa.

A Vila Olímpica também valorizou o breaking. Com curadoria da Nest Panos, os b-boys, que se classificaram durante as seletivas, se apresentavam em uma pista no espaço. Já a competição das b-girls será no domingo.

— Ao dar visibilidade ao breaking, o festival preza pela essência da cultura hip-hop — pontua  William Footwork Squad, um dos organizadores do evento.


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