Dupla Gre-Nal



Série História das Copas

Saiba o que os campeões das Copas ensinaram ao mundo

Cada seleção deixou uma lição para os próximos

22/02/2014 - 10h31min

Atualizada em: 22/02/2014 - 10h31min


A Azurra de Cannavaro (com a taça), em 2006, mais um título do pragmatismo italiano

Como tudo na vida, o futebol também oferece lições. Se não para o nosso dia a dia, pelo menos, para quem disputa competições esportivas. Sempre é bom olhar para os vencedores e identificar o que fizeram para conquistar uma taça. Assim, cada seleção
que venceu a Copa do Mundo deixou uma lição.

O ensinamento pode ser posivito, a ponto de ser repetido, ou negativo, daqueles a serem lembrados para que não voltem a acontecer. Nos cinco títulos brasileiros, a Seleção uniu, além do talento para a bola quase hereditário, um pouco das lições mais positivas dos outros campeões mundiais. Como a de nunca desistir de alemães e uruguaios (o Brasil saiu perdendo na final de 1958, contra a Suécia), a do futebol pragmático da Itália (na Copa de 1994, o Brasil não foi brilhante, mas levou o título) e da eficiência alemã (as seleções campeãs em 1962, 1970 e 2002, uniram talento e eficácia).

1934, 1938, 1982 e 2006: O TETRA ITALIANO

Os quatro títulos da Itália têm duas lições diferentes para deixar ao futebol. A primeira, relativa às Copas de 1934 (em casa) e 1938 (França), deveriam ser aprendias para não
se repetirem - mas em 1978, na Argentina, houve uma reprise. Nas duas primeiras Copas, a Itália era comandada pelo ditador Benito Mussolini, fascista de quatro costados. Em 1934, pensando que organizar um Mundial e conquistá-lo seria uma grande propaganda para o seu regime, Mussolini fez de tudo para que a Azurra saísse
campeã. Pressionou muito os jogadores, o técnico Victorio Pozzo e a federação italiana para que a seleção ganhasse.

Em uma reunião, obrigou:

- Itália deve vencer a Copa - na palavra "deve" deu ênfase para amedrontar quem estava presente. Depois, ameaçou Pozzo:

- Deus o proteja se essa seleção fracassar.

No segundo Mundial, em 1938, na França, Mussolini enviou um telegrama intimidador para ser lido aos jogadores antes da primeira partida: "Vencer ou morrer". De 1982 (Espanha) e 2006 (Alemanha) ficou a segunda lição: como, mesmo sem brilhantismo,
levantar a taça. Nos dois Mundiais, a Itália chegou à Copa com um time sem grandes talentos, mas com um futebol pragmático. No tri, conquistado na Espanha, por exemplo, a Azurra teve uma primeira fase risível, se classificando com três empates.

1954, 1974 e 1990: O TRI DA EFICIÊNCIA

Os alemães deixaram duas preciosas lições para o futebol com seus três títulos. A primeira e mais difícil de ser seguida é a da eficiência. Se as seleções alemãs não tinham o talento do futebol sul-americano, seus torcedores não podiam reclamar da eficácia do time.

Só para lembrar, das 19 edições da Copa, a Alemanha chegou a sete finais, com três títulos. E nos três êxitos, foi eficiente na hora exata. A outra lição é não desistir nunca - aprendida do Uruguai de 1950. Em 1954, na Suíça, e 1974, em casa, a Alemanha pegou pela frente times que revolucionaram o futebol. Na Suíça, frente à Hungria, na primeira fase, tomou 8 a 3. Na final, também contra os húngaros, com nove minutos de jogo, já perdia por 2 a 0. Mas, contando com a força de vontade e a eficiência, conseguiu empatar até os 18 do primeiro tempo. O gol do título veio aos 39 da segunda etapa. A partida foi batizada como o Milagre de Berna.

Vinte anos depois, mais uma vez a Alemanha pegava um time revolucionário pela frente na final. A Holanda, apelidada de Laranja Mecânica, abriu o placar aos dois minutos de jogo. Mas, antes do intervalo, os alemães já venciam por 2 a 1.

1966: ENFIM, OS CRIADORES

Os ingleses são considerados os pais do futebol. Afinal, foi lá que o esporte mais popular do mundo ganhou organização e força. Mesmo assim, a seleção inglesa só estreou em Copas do Mundo na quarta edição, em 1950, no Brasil. E só foi levantar a taça quatro Mundiais depois, em 1966, jogando em casa.

O futebol da Inglaterra sempre foi tido com o mais burocrático e simples do planeta. Quase sempre, até recentemente, era muita ligação direta e muito chuveirinho. A lição inglesa foi a de que, mesmo sem um time brilhante, é possível ganhar uma copa. Apesar de alguns talentos que figuram entre os maiores jogadores da história, como os Bobbys, Moore e Charlton, o English Team, apelido da seleção inglesa, mostrava um futebol previsível e de pouca inspiração.

Mas Bobby Charlton, um meia clássico, de raro talento, que colocava a bola aonde queria, fez a diferença. Tanto que acabou eleito o craque daquela Copa.

1978 e 1986: O BI DOS HERMANOS

Os ditadores argentinos quiseram repetir o mau exemplo do italiano Benito Mussolini e usaram a Copa de 1978 como propaganda política. Os milicos se aproveitaram do Mundial para tentar mascarar as agruras da ditadura que, entre 1976 e 1983, deixou 30 mil desaparecidos. Essa é uma lição a ser aprendida para que não se repita. A Argentina tinha um bom time. Apesar disso, reza a lenda que os hermanos só foram  para a final porque no jogo contra o Peru já sabiam que precisavam vencer por 3 a 0. Fizeram 6 a 0, com uma atuação duvidosa de muitos jogadores peruanos.

Oito anos depois, uma nova lição: como ganhar uma Copa com um grupo mediano, desde que se tenha um craque. Em 1986, a equipe de Carlos Bilardo não era um grande time. Mas tinha um fora de série. Um deus, para os argentinos. O camisa 10 Diego Maradona comandou os hermanos na conquista do bi, com lances geniais, como o gol em que driblou cinco ingleses.

1930 e 1950: O BI DA CELESTE

O futebol deve muito ao Uruguai. Primeiro, porque a seleção uruguaia foi uma das  primeiras a encantar o mundo com o talento de seus jogadores nas conquistas do  torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de 1924 (Paris) e 1928 (Amsterdã). A partir desses títulos, o Uruguai passou a ser conhecido como Celeste Olímpica. Devido ao bi nas Olimpíadas, os charruas praticamente ganharam o direito de sediar a primeira Copa de 1930, a qual conquistaram. A lição desse título veio do futebol bem jogado aliado à garra.

No segundo título, em 1950, no Brasil, uma lição que se repetiu ao longo das edições: desistir não deve estar no dicionário dos campeões. O Uruguai entrou na final, contra o Brasil, como azarão. Os donos da casa precisavam de um empate, vinham de duas goleadas e ainda tinham um Maracanã lotado com 200 mil vozes a favor.

Apesar de saírem perdendo por 1 a 0, Gigghia e Cia conseguiram virar o jogo e calar a torcida no famoso Maracanazo, se tornando a primeira seleção a conquistar o título na casa do adversário. Feito repetido pelo Brasil, oito anos depois.

1998: A TERRA É AZUL

Depois de duas Copas com grandes times - em 1930, no Uruguai, e em 1958, na Suécia - até os anos 80, a França passou alguns Mundiais sem disputar ou apenas como figurante. Em 1982, na Espanha, e 1986, no México, com um time comandado  pelo craque Michel Platini, talvez uma das melhores gerações do país, os Le Bleus, como a seleção da França é conhecida, não passaram das semifinais.

Mas em 1998, com uma geração não tão talentosa quanto a de Platini, mas jogando em casa, a França mostrou que aprendeu a lição da Inglaterra, de 1966, e da Argentina, em 1986. Com bons jogadores do meio para trás, a seleção francesa dependia de um craque: Zinedine Zidane, um camisa 10 clássico, elegante, com um toque de bola refinado.

Seu talento era tanto que, mesmo sem ser um jogador de área, na final, contra o Brasil,
marcou dois dos três gols da partida de cabeça.

2010: A VEZ DA FÚRIA

Além do talento de Xavi, Iniesta e outros craques que levantaram a taça em 2010, na África do Sul, a principal lição da Espanha no título é de nunca desistir. Afinal, com 13
participações em Copas do Mundo, a Fúria, apelido ganho devido à garra das suas  seleções, empilhou fracassos. Mas em 2010, aliando à tradicional gana, a Espanha mostrou que não desistir nunca vale a pena.

Com um futebol de alta categoria de Xavi, Iniesta, Xabi Alonso, Fábregas e outros, a Fúria, enfim, levantou a taça.


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