Polícia



Desabafo e medo

O drama da mulher ameaçada de morte pelo ex-marido

Mulher procurou o Diário Gaúcho para relatar o drama de viver sob constantes ameaças do pai de sua filha de quatro anos. Com medo de morrer, virou nômade, junto com a pequena e um amigo

14/07/2012 - 11h26min

Atualizada em: 14/07/2012 - 11h26min


Ciúme motivou as ameaças

Mulher procurou o Diário Gaúcho para relatar o drama de viver sob constantes ameaças do pai de sua filha de quatro anos. Com medo de morrer, virou nômade, junto com a pequena e um amigo.

Reduzir ou minimizar histórias como essa é uma das principais missões da primeira mulher a assumir um batalhão da Brigada em Porto Alegre. Abaixo, detalhes destas histórias.

O homem educado do Bairro Restinga a seduziu em 2006. O romantismo terminou após o nascimento da filha. A primeira agressão física ocorreu quando a bebê tinha seis meses, em 2008. Em seguida, teria sido obrigada a se prostituir.

E pior, ameaças de morte começaram após o pedido dela de separação, em fevereiro passado. Há seis meses, não sabe se amanhecerá viva. Por medo, a vítima de 30 anos abandonou o emprego e a casa. Com a filha, foge do agressor, 43 anos. Há uma semana, viaja sem destino:

- Não sei mais o que fazer para impedir que me mate. Minha filha vai ficar com quem daí? Não é justo anular minha vida por conta de alguém perturbado.

Revoltou-se com a separação

Seis boletins de ocorrência já foram feitos. Quatro processos estão em andamento na Justiça. Por enquanto, foi concedida medida protetiva, que determina o afastamento do agressor, no limite mínimo de 100m. No entanto, essa medida não foi o suficiente para dar um pouco de paz. Desesperada, questiona:

- Por que este homem não é preso antes que o pior aconteça? Não quero justiça depois que estiver morta.

Ao se aproximar da ex-companheira no dia 5 de julho, o agressor descumpriu a ordem e foi preso em flagrante. Na DP, foi liberado após o pagamento da fiança.

Delegada esclarece

A delegada Flávia Faccini, responsável pelas investigações da Delegacia Para a Mulher de Porto Alegre, explica:

- Não existe a máxima de que Lei Maria da Penha é crime inafiançável. O que há é uma interpretação do delegado que pode ou não conceder o direito à pagamento de fiança.

Ameaça escrita com batom

Um dia após a liberação, o criminoso, que possui habilidades de chaveiro, teria arrombado o apartamento de um amigo da ex-companheira. Nas paredes, restou uma ameaça escrita com batom vermelho: "Te pegamos".

- Não há como provar que foi ele. Mas, em meio às ameaças, não temos dúvida - conta o amigo da vítima, 37 anos.

Separação, o estopim

No seu aniversário de 30 anos, a vítima pediu a separação ao descobrir que o marido tinha uma amante.

- Ele não aceitou e minha vida virou um inferno.

Discussões por ciúmes resultaram em agressões físicas e psicológicas. O auge, acusa ela, foi quando ele a teria obrigado a se prostituir na Capital e frequentar casas de swing (sexo entre casais). A vítima diz que ele ameaçava tirar a guarda da filha deles se ela não fizesse o que pedia.

O que fazer se ameaçada

A delegada Flávia orienta que a vítima de agressão deve procurar a DP e registrar um boletim na primeira situação:

- É importante que a vítima tenha testemunhas para solicitar a medida protetiva de urgência.

Caso o homem descumpra a medida, a mulher deve ligar para o 190 e ajudar no flagrante. Segundo a polícia, um homem é preso por dia em Porto Alegre por agressão, em média.

Vem aí a patrulha familiar

Aos 44 anos, casada, mãe de três filhos, Nádia Rodrigues Gerhard terá a missão de ditar ordens para garantir a segurança da Zona Leste de Porto Alegre - uma das mais violentas - a partir da próxima semana. Na manhã de sexta, a tenente-coronel assumiu o 19º BPM, que tem 210 PMs. É a primeira mulher a comandar batalhão na Capital.

Nádia é natural de Porto Alegre, mas vem de Estrela, onde estava desde 2010. Ela já sabe que assumirá uma área quatro vezes maior do que a da sua cidade anterior. A oficial tem a ideia de criar uma Patrulha Familiar, com policiais específicos para casos de violência contra mulher.

"É um trabalho formiguinha"

Diário Gaúcho - A senhora foi reconhecida pelo combate à violência contra a mulher em Estrela. Como implantar esse projeto aqui?

Tenente-coronel Nádia - A presença de uma mulher no comando estimula as vítimas a denunciarem. Mas a Operação Família em Paz é trabalho formiguinha, conhecendo cada pessoa aos poucos. Precisamos ouvir seus anseios e mostrar o que é a Brigada Militar.

Diário - O que muda em relação ao policiamento normal?

Nádia - Quando um policial vai atender um caso de violência familiar, não será mais uma ocorrência. Será "a" ocorrência. Porque ele já terá conhecimento prévio sobre quem é a vítima, o agressor, seus históricos.

Diário - O que representa uma mulher na chefia?

Nádia - Os homens comandam em sistema de pirâmide, de cima para baixo. O comando da mulher é do centro para fora, em nível mais horizontal.

Diário - Quando começou sua história na corporação?

Nádia - Entrei na Brigada em 1989. E era um caminho natural, porque fui criada praticamente dentro do quartel. Meu pai, meu avô e meu tio eram brigadianos. O gosto e a vontade de me desenvolver foram naturais.


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