A união de nomes de diversos gêneros da música em shows coletivos em prol de Plauto Cruz, um gênio da flauta, reavivou, nas últimas semanas, a memória do público sobre a importância deste senhor cordato, elegante, que, mesmo acometido dos males de Alzheimer e de Parkinson, segue tocando o instrumento que o consagrou no Rio Grande do Sul, no Brasil e no Exterior.

Diário Gaúcho entra na casa deste gênio da flauta, mostra como ele está e relembra a sua trajetória tão reverenciada por fãs e por toda a comunidade musical.

Shows coletivos e muita emoção

A mobilização da classe artística musical surpreende o mestre da flauta. Foram dois shows coletivos em novembro e um de Lenine, na noite de quinta-feira passada, que tiveram as suas rendas integralmente revertidas para custear o tratamento e as medicações de Plauto. Hoje, o instrumentista conta com o acompanhamento de um psiquiatra, de um neurologista e de um clínico geral.

- Creio que seja um reconhecimento por tudo o que eu fiz. Como músico, o meu nome sempre apareceu bastante. Então, acho que estão me retribuindo agora - afirmou Plauto, em sua casa.

Os recursos dos espetáculos, de acordo com a assessoria de imprensa da prefeitura de Porto Alegre, serão entregues pelo prefeito José Fortunati ao flautista, em data ainda não definida.

Matou um pouco da saudade de fãs e amigos

Em um dos três shows, no dia 12 de novembro, um Teatro Renascença lotado testemunhou a breve aparição de Plauto no evento totalmente dedicado a ele. Além de mais de 40 cantores e instrumentistas, o espetáculo, batizado de Um Por Todos e Todos por Plauto, matou um pouco da saudade de vê-lo no palco.

Sentado em uma cadeira de rodas e acompanhado por dois profissionais da área médica, ele participou da interpretação de três das suas músicas. A campanha partiu de amigos e de admiradores, como a cantora Graça Garcia e a produtora Silvia Abreu.

Joias raras

Plauto mora há mais de 40 anos em uma casa de madeira, no Bairro Camaquã, na Zona Sul da Capital, com os filhos Jairo, 46 anos, e Maria Elisa, 53. É viúvo de Eva há cerca de nove anos, com quem foi casado por quase cinco décadas.

Com dificuldades na fala e na locomoção, sofre dos males de Alzheimer e de Parkinson desde 2009, mas não deixa de lado a flauta. Em casa, junto com dezenas de quadros, medalhas e homenagens, guarda as suas relíquias mais preciosas: três flautas - uma norte-americana, uma italiana e uma francesa.

- Ainda toco e componho um pouco, não consigo parar - conta ele, com aquele ar carinhoso de avô, abrindo um sorriso.

Quem é o nosso gênio da flauta?

Natural de São Jerônimo, filho do flautista dos tempos das salas de cinema mudo José Alves da Cruz, Plauto nasceu em 15 de novembro de 1929 e revelou, desde a sua infância, aptidão para o instrumento.

- Comecei bem cedo, com oito anos - recorda Plauto.

Em 1944, a família mudou-se para Porto Alegre, onde ele passou a tocar em eventos e em programas de rádio. Viveu, aliás, a época de ouro do rádio, arrebatando auditórios nas rádios Clube, Metrópole, Itaí, Farroupilha, Gaúcha e Difusora. Tido como um dos maiores flautistas brasileiros, representou o Estado em turnês pelo país e no Exterior.

Vivinho da Silva, seu prefeito!

O prefeito é tema de uma situação curiosa envolvendo Plauto em novembro de 2011. Pelo twitter, Fortunati lamentou a morte do artista, mas ele estava vivinho da Silva! Ao saber da confusão, o flautista deu risada.

- Estou supervivo. Até almocei um galetinho - disse ele, na época, ao jornal Zero Hora.

Uma hora depois da publicação, Fortunati corrigiu-se também pelo twitter. No dia seguinte, foi até a casa do músico para desculpar-se.

Números de uma trajetória respeitada

- Gravou mais de 40 discos como acompanhante de grandes músicos brasileiros como Lupicinio Rodrigues, Nelson Gonçalves, Altemar Dutra e Ângela Maria.

- Tem quatro LPs como solista e seis CDs gravados.

- Aos 69 anos de idade, Plauto gravou o seu primeiro CD como compositor e solista.

- Em 1977, a canção Provocante ficou em segundo lugar no 1º Festival Nacional de Choro da Rede Bandeirantes.