Dupla Gre-Nal



Gauchão 2013

Os andarilhos do Gauchão

O Gauchão começa dia 19 como mais uma parada na estrada de dezenas de jogadores. São os mochileiros da bola, que correm o mundo atrás de vitrina

07/01/2013 - 07h08min

Atualizada em: 07/01/2013 - 07h08min


A partir desta segunda-feira, o Diário Gaúcho apresentará sob essa ótica os 14 clubes que desafiam a dupla Gre-Nal na disputa pela taça. São histórias como a do meia Cristian, do Cerâmica. Gaúcho de Uruguaiana, 32 anos, rodou o Brasil e esteve no Azerbaijão antes de estrear no nosso campeonato. Ou do centroavante Adriano Chuva, nascido em Capão da Canoa e que, após sete anos na Coreia do Sul, voltou com hábitos asiáticos. São só algumas histórias, mas suficientes para longa viagem.


Você está convidado a embarcar.


Lucas morou a quatro quadras de Messi


Se Lucas Gaúcho for daqueles que copia tudo o que o vizinho faz, o São José pode sonhar alto no Gauchão. O centroavante de 21 anos morava até outubro a quatro quadras de Messi. Sim, se o melhor do mundo fosse até a padaria do bairro de Castedefells, em Barcelona, poderia topar com o camisa 9 do Zequinha.


Castedefells é um bairro de elite situado à beira-mar, na zona periférica de Barcelona, e endereço dos astros do Barça. Lucas encontrou algumas vezes o chileno Alexis Sanchez na praia. O francês Abidal também tem casa no bairro.


A aventura catalã do centroavante do Zequinha durou seis meses. Estava na Portuguesa em janeiro de 2012 quando seu empresário trouxe a proposta para jogar no Espanyol, o outro time de Barcelona. Mesmo com a janela de transferências fechada, Lucas aceitou passar por testes. A casa em Castedefells era do sócio espanhol de seu empresário.


- Joguei só um amistoso, contra o Al Ahly, que pegou o Corinthians no Mundial. Mas valeu, voltei maduro - diz o atacante.


Lucas é gaúcho de Esteio e começou no próprio São José. Com 17 anos, foi para o São Paulo. Em 2010, foi goleador da Copa SP e decisivo na conquista do título. Tinha como parceiro o outro Lucas, hoje no PSG. Sem espaço, rodou por São Bernardo, Portuguesa e Luverdense. Agora, busca no Gauchão encontrar o caminho.


Cristian não assobiava no Azerbaijão


No distante Azerbaijão, em 2008, Cristian deixou o almoço do seu time, o Khazar Lankaran, e subiu as escadas do hotel assobiando, sossegadão. Um companheiro de time veio e o repreendeu em azeri, a enrolada língua oficial do país. O meia, hoje destaque no Cerâmica, não entendeu o teor, mas desconfiou que havia pisado na bola.


No dia seguinte, o mesmo roteiro. Saiu do almoço, tranquilão, arrastando os chinelos e, distraído, assobiou de novo. O mesmo companheiro surgiu, bufando. Não satisfeito em xingá-lo, chamou o tradutor, que, apavorado, alertou Cristian:


- Ele está furioso, não pode assobiar, traz azar!


Essa era apenas uma das superstições dos azerbaijanos. Antes de um jogo, Cristian estava no túnel, pronto para entrar em campo quando lembrou que havia esquecido algo no vestiário. Deu meia volta e ficou no primeiro passo, impedido por um dirigente: voltar ao vestiário era como um recuo e isso dava azar.


Os hábitos também pregaram peças: camiseta laranja era roupa de mulher, homem não usa essa cor por lá. Andar de bermuda na rua é quase acinte.


Por uma temporada, Cristian encarou a vida no Azebaijão, país islâmico, ex-república da União Soviética e que tem no enxadrista Gary Kasparov seu filho mais famoso. Morava em Baku, a capital. O dinheiro do petróleo acelera as obras de modernização da cidade. Mas quando chegou lá, se assustou:


- Parecia cidade de filme de faroeste. Pensei: "Meu Deus, onde eu vim me meter".


Como a filha estava por nascer no Brasil, o meia decidiu abrir mão da renovação do contrato. Garante que, hoje, voltaria. Gaúcho de Uruguaiana, jogará pela primeira vez o Gauchão. Saiu daqui aos 17 anos, para o Velo Clube/SP e rodou o mundo, até chegar ao Cerâmica.


São José


Classificação em 2012: 6º


Técnico: Agenor Piccinin


Quem chegou: Vitor (G, Arapongas/PR), Luiz Carlos (G, União de Leiria/Por), Alisson (LD, Inter), Ronaldo Conceição (Z, Inter), Gustavo (Z), Douglas (Z, Carpina/PE), Gabriel Ganzer (LE, Juventude), Breno (LE, Patos de Minas), Éverton (V, Marcílio Dias), Bruno Martins (V, Ituano), Willian (V, Pelotas), Rodrigo Paulista (M, Luverdense), Lucas Gaúcho (A, Luverdense), Luizinho (A), Henrique (A, Hormozgan/Irã) e Hugo (A).


Time base: Vitor; Tiago Mattos, Douglas, Willian Paulista e Gabriel Ganzer; Éverton, Bruno, Cleber e Rodrigo Paulista; Luizinho e Lucas Gaúcho.


Cerâmica


Classificação em 2012: 10º


Técnico: Guilherme Macuglia


Quem chegou: Rodrigão (Z, Rio Branco/AC), Fábio Fidelis (M, Guarani de Palhoça/SC), Cristian (M, Treze/PB) Serginho Catarinense (M, Juventus/SC) e Wellington Silva (A, Paraná Clube).


Time base: Villa; Saraiva, Alexandre, Marcão e Danilo Goiano; Fidélis, Ramos, Serginho Catarinense e Cidinho; Cristian e Murilo.


Adriano Chuva procura comida coreana


Foram sete anos na Coreia do Sul. O suficiente para o centroavante Adriano Chuva suspirar de saudade da comida coreana. Recém-chegado ao ataque do Canoas, o ex-centroavante de Grêmio e Juventude saliva ao lembrar dos pratos à base de raízes, folhas verdes, algas do mar e quase nenhuma carne.


- Para o atleta, não há dieta melhor. Você dificilmente vê um coreano acima do peso andando na rua - conta Chuva.


O centroavante já até preparou um esquema para receber os pratos coreanos. Sabe que há uma grande comunidade no Bom Retiro, bairro tradicional de São Paulo, e em Curitiba, onde mora o pai do seu tradutor nos tempos de goleador da K-League, o campeonato do país. Adriano chegou ao país em 2006, para o modesto Daejeon Citizens. Regressou ao Brasil em 2007, passou por Fortaleza e Náutico e voltou para ajudar o Daejeon a saltar da zona da degola para os mata-matas. Virou ídolo. Jogou dois anos no Chunnan Dragons e mais dois no Pohang, quando decidiu que era hora de retornar ao Brasil. Pela mulher, Taísa, a família ficaria lá. Maria Eduarda, a filha de oito anos, até frequentava escola no país e já mandava bem no coreano. Agora, torcerá pelo Canoas.


Régis lavava a roupa de treino no Vietnã


Omeia Régis Wenzel até estranhou quando recebeu dois jogos de uniformes de treino ao chegar no Dong Tam, de Hanoi, a capital do Vietnã. Levou alguns minutos para se dar conta de que o azul seria para um turno de treino e o branco, para outro.


O mais inusitado, porém, estava por vir. O que Régis nem imaginava era que, para treinar no dia seguinte com a roupa macia e perfumada, ele mesmo teria de encarar o tanque.


- Não havia roupeiro, massagista, nada desses luxos. Tinha que lavar a roupa de treino no hotel onde eu morava - conta.


Régis, 26 anos, é o que se define como andarilho do futebol. Até chegar no Cruzeiro, de Porto Alegre, rodou, e muito, pelo interior paulista: começou na Ponte, passou por Independente de Limeira, XV de Jaú, Itapirense e Santacruzense. Em 2009, topou o desafio de jogar no Vietnã. Foram seis meses, pagos adiantados, no desembarque, e algumas histórias para contar.


- Como é muito quente e úmido, via as pessoas dormindo na rua, algumas sobre motos. Aliás, há muitas motos, que servem até para carregar gelo - descreve o meia.


Régis ainda jogou por times do interior goiano antes de chegar ao Cruzeiro. Morador da Avenida Assis Brasil, na Capital, garante não estranhar o trânsito e a agitação do local. Para quem morou em Hanói, a Assis Brasil mais parece um jardim de flores.


Canoas


Classificação em 2012: 14º


Técnico: Rodrigo Bandeira


Quem chegou: vieram 31 jogadores. Os principais: (G, Olimpia/SP), Nicolas (G, Noroeste/SP), Michel (LD, Guarani-VA), Rodolpho (LD, Audax/RJ), Guustavo Castro (Z, Macaé/RJ), Gustavo Xavier (Z, Concórdia/SC), Tairone (Z, Cerâmica), Julinho (LE, Ypiranga/RS), Nathan (V, São José/Poa) Marquinhos (V, Aimoré), Adílson (M, União/RS), Da Silva (M, Hercílio Luz), Maicon Sapucaia (M, Sapucaiense), Miguel (M, Cruzeiro/Poa), Adriano Chuva (A, Pohang/Cor) e Ederson (A, Ypiranga). Time base: Nicolas; Michel, Tairone, Gustavo Xavier e Julinho; Nathan, Marquinhos, Maicon Sapucaia e Adílson; Chuva e Ederson.


Cruzeiro


Classificação em 2012: 12º


Técnico: Beto Campos


Quem chegou: Thiago Baroni (LE, Uberlândia), Clodoaldo (A, Metropolitano/SC), Régis Wenzel (M, Trindade/GO), Da Silva (LD, Morrinhos/SC), Jean Paulo (M, sem clube), Jô (A, Chapecoense) e Éverson Jaú (M, Botafogo/PB).


Time base: Fábio; Márcio, Léo Carioca, Cláudio e Thiago Barone; Faísca, Alberto, Elton e Jean Paulo; Jô e Clodoaldo.


>>> Amanhã: o colombiano que desembarcou no Vale do Sinos.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias