Polícia



Guerra do tráfico

Traficante do Santa Tereza é suspeito de dez homicídios em um ano

Charles Xavier estaria por trás do racha entre a quadrilha dos Bala de Goma

26/08/2014 - 07h01min

Atualizada em: 26/08/2014 - 07h01min


Uma abordagem de rotina da Brigada Militar na Estrada São Francisco, Lomba do Pinheiro, na Zona Leste da Capital, acabou botando na cadeia Charles Nogueira Xavier, 27 anos, na noite de domingo. Ele é apontado pela polícia como pivô de um racha no comando do tráfico, que acabou com a calma na região entre as ruas Dona Zaida, São Cristiano, Prisma e a Vila Ecológica, no Bairro Santa Tereza, desde o ano passado.
Em 2011, uma sangrenta guerra decretou o domínio do tráfico local pela quadrilha dos Bala de Goma. Dois anos depois, o bando rachou. E, desde setembro do ano passado, pelo menos dez pessoas foram assassinadas na região.
De acordo com a polícia, Charles, provavelmente apoiado com armas e soldados pela facção dos Bala na Cara, teria tomado o comando e passou a eliminar seus antigos parceiros.
- Ele é investigado por envolvimento direto em praticamente todos esses crimes. É um sujeito bastante violento, que conta com o medo da comunidade para continuar agindo - diz o delegado Rodrigo Pohlmann, da 4ª DHPP.

Série de assassinatos

A sequência violenta começou com a eliminação de Douglas Santos, o Douglinhas, e Gabriel Dias, ambos de 18 anos. Segundo a polícia, eles eram os gerentes do ponto de tráfico mais lucrativo da região, no alto da Vila Ecológica. Acabaram executados a tiros, na Rua Dona Zaida, e ainda tiveram suas armas roubadas. Charles tinha prisão preventiva decretada por esse crime, quando agiu com um comparsa, que segue foragido.
- O duplo homicídio abriu caminho para uma série de assassinatos que deram mais poder a esse grupo - aponta o delegado.
Em março deste ano, outro gerente do tráfico - este com atuação na Rua Dona Zaida _ foi eliminado. Wagner Vinícius Leichtweis Eilert, o Gordo Wagner, 20 anos, foi surpreendido por atiradores na Rua Prisma, quando andava de carro. A polícia ainda não tem suspeitos do crime. A única certeza é de que a partir dessa morte, o método dos Bala na Cara para dominar a comunidade passou a ser implantado.

Morte de idoso escancara o medo

A face mais temida do grupo de traficantes teve seu auge na comunidade no dia 13 deste mês. Charles é investigado como possível mandante da morte do idoso José Derci Rodrigues, 66 anos, morto dentro de casa, na Rua Dona Zaida, quando criminosos invadiram o local e o executaram a tiros.
José Derci não tinha nenhum antecedente ou envolvimento com a criminalidade. A suspeita da polícia, porém, é que ele tenha contrariado o interesse da quadrilha. O idoso teria discutido com os traficantes em virtude de uma quantidade de drogas que teria sido guardada na sua casa contra a vontade.
- Foi o tipo de crime considerado exemplar pelos criminosos, para manter o controle na vizinhança - afirma o delegado.
Segundo os investigadores, há relatos de outras famílias expulsas de casa na região.

Entra e sai da cadeia

Na noite de domingo, Charles foi flagrado com outros dois homens em um carro com um revólver calibre 38 e mais de 100 trouxinhas de maconha. A prisão em flagrante foi um agravante à preventiva que ele já tinha decretada contra si. E, ao menos uma esperança para a polícia de que agora ele permanecerá preso.
Até maio, ele cumpria pena em regime semiaberto, por um homicídio cometido em 2005. Usando tornozeleira eletrônica, estava foragido. Durante uma operação policial naquele mês, porém, ele foi flagrado em uma casa da Rua Dona Zaida.
A prisão pelas mortes de Douglinhas e Gabriel só foi decretada depois disso, quando Charles já estava de volta às ruas.

Morte do líder desencadeou ataque

O conflito teria começado com a morte de Maicon José Duarte Ferreira, até então o líder do tráfico na área dos Balas de Goma. Com problemas de saúde, ele morreu enquanto estava no Presídio Central, no final de setembro do ano passado.
Era da cadeia que vinha a ordem para os gerentes do tráfico nas ruas. Maicon teria loteado a sua área entre três líderes: Douglinhas, Gordo Wagner e Charles. Mas, enquanto ele ainda agonizava, no dia 5 de setembro, o grupo de Charles teria iniciado a ofensiva violenta.
Bem ao estilo Bala na Cara, depois de eliminar possíveis rivais, o bando mirou os parentes de Maicon. Esse teria sido o motivo da execução de Júlio César Ávila, atacado em um churrasco na Rua Rio Branco, em junho. Pelo menos outros dois parentes já teriam sido baleados nos últimos meses.

O histórico do confronto

No começo de 2011, pouco tempo depois do então líder do tráfico na região ter sido preso, os pontos de tráfico entre as ruas Dona Zaida e São Cristiano foram disputados a tiros e mortes _ inclusive com toque de recolher imposto à comunidade - entre as gangues dos Bala de Goma e os Malvina.

Os Bala de Goma, em sua maioria jovens e adolescentes armados por outros grupos criminosos, teriam expulsado seus rivais da região. A partir de então, as bocas de fumo foram divididas entre gerentes da quadrilha.

Em setembro do ano passado, o líder da quadrilha morreu no presídio. Foi o ponto de partida para que Charles, provavelmente apoiado por gangues ligadas aos Bala na Cara, tomasse as áreas dos antigos parceiros.

As mortes do tráfico
2 de setembro de 2013 -
William de Carli, 23 anos, era usuário de drogas e foi morto a tiros, provavelmente por uma dívida, na Rua Correia Lima.

5 de setembro de 2013 - Douglas Santos, o Douglinhas, 18 anos, e Gabriel Dias, 18 anos, foram executados a tiros na Rua Dona Zaida. Gerenciavam o ponto de tráfico na Vila Ecológica.

18 de fevereiro de 2014 - Néveton Ronaldo da Silva Barreto, 37 anos, estava escondido dos rivais na Rua Dona Otília, mas foi encontrado e executado a tiros.

28 de março de 2014 - Diego Soares da Silva, 26 anos, foi morto a tiros na Rua Simão Frutuoso Tavares.

30 de março de 2014 - Wagner Vinícius Leichweis Eilert, o Gordo Wagner, 20 anos, era considerado um dos gerentes do tráfico na região. Foi morto a tiros na Rua Prisma.

11 de maio de 2014 - Hélio Henrique Fagundes Domingues, 35 anos, foi morto com cinco tiros em um beco da Rua São Cristiano. Estaria traficando no local sem a autorização do novo gerente.

21 de junho de 2014 - Júlio César Ávila, 30 anos, foi morto por atiradores que o surpreenderam em um churrasco na Rua Rio Branco. Era parente de Maicon Ferreira, o antigo líder do tráfico na região.

15 de julho de 2014 - Adilson Alves da Mota, 16 anos, foi morto com pelo menos 20 tiros por três homens que o surpreenderam em um beco da Rua Dormênio. Havia saído da Fase poucos dias antes.

13 de agosto de 2014 - José Derci Rodrigues, 66 anos, foi morto a tiros por criminosos que invadiram a sua casa na Rua Dona Zaida. Não tinha envolvimento com a criminalidade, mas teria sido morto como "castigo" imposto pelos traficantes por contrariar um interesse da quadrilha.


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