Polícia



Latrocínios

Na Capital, junho mais violento dos últimos seis anos registra uma morte em assalto a cada quatro dias

Com sete mortes, este junho é o recordista, em seis anos de levantamento do DG, no número de latrocínios na Capital

01/07/2016 - 10h01min

Atualizada em: 01/07/2016 - 15h03min


Eduardo Torres
Eduardo Torres
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Ao meio-dia desta quinta-feira, um assalto terminou em morte

Passada uma semana, a polícia acredita estar muito próxima da solução da morte da estudante universitária Sara Votto Tótaro, 22 anos, com um tiro no peito durante a tentativa de roubo do carro da família, quando chegava em casa. Com esse crime, junho já ficava marcado como o mês recordista no número de latrocínios (roubos com morte) na Capital desde 2011, quando o Diário Gaúcho iniciou o levantamento de assassinatos na Região Metropolitana.

Nesta quinta-feira, porém, com mais uma morte em assalto a conta ficou ainda pior: foram sete vítimas de latrocínios na cidade em apenas 30 dias. Se for considerado todo o semestre, encerrado ontem, foram 20 latrocínios em Porto Alegre. O dobro do mesmo período do ano passado.

Mas com resposta

É como se a cada quatro dias de junho uma pessoa tenha sido morta em assaltos na cidade: mais da metade na Zona Sul. O dobro da frequência desse tipo de crime verificada durante todo o semestre na cidade. A resposta, ao menos, tem sido rápida. Três casos já foram solucionados, e um está parcialmente resolvido.

Família rendida

Segundo a polícia, três criminosos desceram do Gol que perseguia a família de Sara até a Rua Gaurama, no Bairro Cavalhada. Um deles, armado com um revólver calibre 38, teria rendido a mãe de Sara, na direção. A irmã, de 24 anos, entregou o celular e correu. O assaltante armado teria então entrado no veículo e sentado ao lado da estudante.

– Neste momento, houve resistência do pai em entregar uma bolsa. E isso gerou tensão – conta o delegado.

Em meio à confusão, o criminoso atirou e eles fugiram. A 13ª DP apurou que o crime foi cometido por quatro homens. Dois deles, adolescentes, de 14 e 16 anos. Estes, já identificados. A polícia agora trabalha para identificar os adultos.

O adolescente mais novo está na Fase desde segunda, por envolvimento em outra tentativa de roubo na Capital, em que acabou baleado pelo PM que seria assaltado. O guri confirmou a participação no latrocínio do dia 23.

Corrida contra o tempo

Passava das 22h da quinta, dia 23, quando o delegado Luciano Coelho recebeu o alerta sobre o assalto no Bairro Cavalhada. Correu ao local ainda tomado pelos vizinhos e a família em choque.

– Esse tipo de investigação exige urgência na apuração. Qualquer demora pode representar a perda de indícios decisivos. Então, mesmo com a família muito abalada, precisamos ouvir quem já tenha alguma condição de ajudar – relata o delegado.

A irmã foi ouvida. E a primeira providência foi fazer com que o veículo fosse deixado, protegido da chuva e do sereno, na delegacia.

Decisão rápida

E se, para a polícia, a tentativa de chegar à resposta de um latrocínio é uma corrida contra o relógio, para a família, soa mais como uma tortura. Se pudesse, Caetano Tótaro certamente apagaria da sua vida a última semana. Desde a perda traumática da filha, ele, a esposa e outra filha passaram mais tempo na DP do que em casa.

– Nada vai pagar a vida que nós perdemos, mas se pudermos ajudar a coibir esse mesmo mal para outras pessoas, já será uma grande ajuda – diz o pai.

De acordo com o delegado, foram diversas tomadas de depoimento entre os pais e a irmã que testemunharam o crime.

– A colaboração da família em casos assim é fundamental – define o delegado.

Ouvido pelos policiais, o garoto de 14 anos confirmou participação no assalto à família, na Cavalhada. Ele teria sido levado para ser justamente o motorista do carro. Receberia R$ 1 mil pelo serviço.

– Havia um adulto, que dirigia o Gol, outro adulto e o adolescente de 16 anos, que não dirigiam. Faltava alguém para conduzir o carro roubado – detalha o delegado Luciano Coelho.

O adolescente, que não tinha antecedentes até o final da semana passada, teria sido cooptado na própria Vila No Limite.

Cliente de bar foi morto após reagir a assalto

Um assalto a um bar ao meio-dia desta quinta-feira terminou em morte, após a reação de um cliente. O crime aconteceu na Estrada Gedeon Leite, no Bairro Hípica, Zona Sul de Porto Alegre.

Dois homens armados chegaram de moto e entraram sem tirar o capacete. Eles roubaram o dinheiro que havia no caixa.

– Levaram R$ 200 e a vida dele. Ele morreu para nos salvar – lamentou o dono do bar sem se identificar.

Segundo a polícia e testemunhas do crime, Severiano Pires, 74 anos, mais conhecido como seu Pires ou pelo apelido de "pai", não aceitou o assalto.

Natural de Bagé, famoso pelo estilo gaudério, de bota e bombacha, enfrentou os bandidos. Ele teria utilizado uma cadeira para confrontar os assaltantes. Irritados com a reação, um dos bandidos ordenou:

– Mata esse velho aí, derruba ele.

Foi quando um dos criminosos fez três disparos e acertou pelo menos um tiro na cabeça do idoso.

Horas depois do assassinato, os amigos ainda estavam desacorçoados.

– Pensa numa pessoa boa, querida e honesta. Era ele. Só que era gaudério, não aceitou o assalto, acabou reagindo – lamentou um dos amigos que também preferiu não revelar a identidade.

De acordo com o delegado da 13ª Delegacia de Polícia, Luciano Coelho, o caso está sendo investigado como latrocínio.

Latrocínios em Porto Alegre no mês de junho

Junho na Capital

1º de junho – Thiago Gomes da Silva, 17, foi morto por criminosos que o abordaram no Bairro Ponta Grossa para roubar uma sacola com roupas que ele acabara de comprar. Caso é apurado pela 7ª DP, que ainda conta com poucos indícios. Há apenas suspeitas sobre o carro usado pelos bandidos. Ajude a polícia: 3259-5585.

1º de junho – José Pedro Ramos Mota, 71, foi morto com um tiro no peito por criminosos que tentaram roubar o seu carro, no Bairro Santo Antônio. A 11ª DP investiga o crime e sabe até o momento apenas que os assaltantes usavam um carro escuro. Ajude a polícia: 3336-3512.

4 de junho – Paulo Henrique Borges Vidal, 48, era sargento da reserva da BM. Foi morto a tiros por criminosos que assaltaram uma madeireira no Bairro Cascata. Três suspeitos foram presos e reconhecidos.

10 de junho – Mineia Sant’anna Machado, 39, funcionária do aeroporto, foi levada do local por dois criminosos que queriam roubar o seu carro. Seu corpo foi encontrado em Montenegro. Um adolescente foi apreendido e um homem preso.

13 de junho – Rodrigo Maciel Gonçalves, 17, estudante, foi morto com um tiro no peito no Humaitá por criminosos que levariam o seu celular. Dois adolescentes, de 14 e 17 anos, foram apreendidos e confessaram.

23 de junho – Sara Votto Tótaro, 22, estudante, foi morta com um tiro por criminosos que tentavam levar o carro da família, na Cavalhada. Dois adolescentes de 14 e 16 anos já foram identificados, um deles está apreendido. A 13ª DP tenta identificar dois adultos também participantes do assalto. Ajude a polícia: 3242-1108.

30 de junho – Severiano Pires foi morto com um tiro na cabeça quando estava em um bar no Bairro Hípica atacado por dois assaltantes. A 16ª DP investiga o caso. Ajude a polícia: 3250-8015.

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