Polícia



36 horas de cativeiro 

Amigo foi usado como "isca" para sequestrar jovem em Taquara

Vítima, de 23 anos, costumava dar carona a um colega. Na segunda-feira, criminosos o renderam quando aguardava por ela 

14/08/2019 - 21h42min

Atualizada em: 14/08/2019 - 21h43min


Cid Martins
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Divulgação / Polícia Civil
Homem foi preso por participação em crime

Mal tinha amanhecido quando Maria* saiu de casa em Taquara, na Vale do Paranhana, na última segunda-feira (12). Entrou no carro e, como de costume, iria pegar um amigo na parada de ônibus no meio do caminho. Ao chegar ao local combinado, encontrou o homem rendido por criminosos armados. Exigiram que ela parasse o veículo. Na sequência, dois deles entraram no carro com o refém e pediram que a mulher seguisse dirigindo. Naquele momento, começava o sequestro que duraria 36 horas. Ela só seria libertada na noite de terça-feira (13).

Dali, seguiu até um lugar afastado da área central da cidade. Em determinado ponto, o amigo foi solto e o carro dela, abandonado. A jovem seguiu com os criminosos em outro veículo enquanto o amigo dela avisou a família. Ela ficou algumas horas dentro do automóvel até chegar ao cativeiro, distante 20 quilômetros do centro de Taquara, segundo o delegado João Paulo de Abreu, da especializada em roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). 

— Durante todo o dia, foram agressivos, faziam ameaças e diziam que iriam mutilar a moça, cortando dedos e orelhas — diz Abreu. 

Três horas depois de a vítima ter sido rendida, às 10h30min de segunda-feira (12), a família recebeu o pedido inicial de resgate: R$100 mil. Foi o primeiro de nove telefonemas que o pai da vítima atendeu em dois dias. Sem pestanejar, ele procurou a polícia local e, em seguida, o Deic passou a atuar no caso. 

A polícia começou a fechar o cerco contra os sequestradores. Um deles foi preso em um rua do bairro Empresa, em Taquara. Com ele foi apreendido o celular utilizado para manter contato com o pai da jovem. Identificado como Ismael Batista da Silva, 30 anos, o homem tem antecedentes criminais por receptação. Segundo a polícia, ele mora no município, na mesma região da família da sequestrada. Ele conhecia o pai da moça — o delegado não dá detalhes sobre qual seria a relação dos dois. 

Após a prisão, o homem indicou a localização do cativeiro para os policiais, na região de Santa Cruz da Concórdia. O momento que antecedeu a entrada do local foi marcada por apreensão, já que havia risco de a sequestrada se ferir. No início da noite de terça-feira (13), os policiais entraram pelo pátio da casa e foram recebidos a tiros. Durante o confronto, o sequestrador que mantinha a jovem no cárcere foi baleado e acabou morrendo. Ele foi identificado como José Sidnei Chaves, 39 anos, natural de Sobradinho. A mulher e os policias não se feriram.    

A casa estava fechada há dias e com todos os cômodos vazios. A residência seria de um dos integrantes do grupo. 

— Quando libertamos a vítima, ela chorou muito. Disse que ficou horas em um colchão em uma sala vazia comendo apenas pão, bolacha e algum tipo de salgado que não soube especificar. Ela disse ainda que tem síndrome do pânico e que foi atormentada por mais de 30 horas. Na maioria das vezes, com uma arma apontada para a cabeça — explica Abreu. 

Durante o cativeiro, a mulher teve as mãos amarradas com uma fita e contou para os policias que sofreu forte pressão psicológica e levou empurrões dos criminosos. 

Segundo a investigação, pelo menos quatro suspeitos participaram do crime. Apenas Ismael Batista da Silva, 30 anos, foi preso. Outros dois já tiveram a prisão temporária decretada, e seguem sendo procurados. Por enquanto, os nomes deles não serão divulgados pela polícia.

Peritos atuaram no cativeiro e, inicialmente, confirmaram que mais pessoas estiveram no local. Os carros da jovem e o dos sequestradores também foram apreendidos para perícia, além de armas.  

(*)  Nome fictício



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