Polícia



 Investigação

"Não acredito na culpa dele", diz irmão de preso por suspeita de se passar por policial federal para enganar mulheres

Daniel Lopes da Silveira, 38 anos, está detido no Presídio Central em Porto Alegre. Ele é apontado como suspeito de estelionatos em quatro Estados

08/08/2019 - 08h32min


Leticia Mendes
Félix Zucco / Agencia RBS
Daniel foi detido pela Polícia Federal (PF) no dia 24 de julho em um shopping na capital paulista

Irmão do suspeito de se passar por policial federal para aplicar golpes em mulheres, Marcelo Lopes da Silveira, 41 anos, diz não acreditar na culpa do familiar. Daniel Lopes da Silveira, 38 anos, segue preso no Presídio Central em Porto Alegre. Ele foi detido pela Polícia Federal (PF) no dia 24 de julho em um shopping na capital paulista e é alvo de investigação. Segundo a PF, o homem fingia ser agente para conquistar as vítimas e obter dinheiro delas e de seus familiares. Com uma moradora da Região Metropolitana, chegou a ter uma filha.

Marcelo afirma que teve contato pessoalmente com o irmão pela última vez no Ano Novo, em Torres, no Litoral Norte. Após a prisão, ele diz que os familiares ainda não estiveram com Daniel — somente a advogada responsável pela defesa conversou com ele. Segundo a investigação, o gaúcho teria aplicado golpes em mulheres do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Pelo menos 10 pessoas que se dizem vítimas foram ouvidas na Superintendência da PF, em Porto Alegre.

— Não estou dizendo que ele é inocente ou culpado. Estou dizendo que quem está acusando deve provar. Ele é uma pessoa muito boa, de coração bom, muito família. Não acredito na culpa dele. Se provarem, beleza. Baixo a cabeça e fico quieto. Enquanto isso, não acredito — afirma Marcelo.

Questionado sobre a profissão do irmão, ele alega que durante os encontros de família esse não era um assunto tratado, por serem momentos de lazer. Mas relata que Daniel já havia trabalhado com venda de imóveis e de veículos.

— Quando nos reuníamos, não ficávamos falando de trabalho. Mas ele sempre se virou. Sempre foi batalhador. Sabia que ele viajava muito. E atualmente estava morando em São Paulo. Todos nós trabalhamos. A mesma criação que a minha mãe deu para mim, que sou vigilante, e para minha irmã, deu para ele — diz.

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Imagens que vítimas afirmam ter recebido de Daniel se identificando como policial federal

Três vítimas ouvidas pela reportagem afirmaram que familiares de Daniel teriam confirmado que ele era policial federal há oito anos e que isso teria contribuído para que elas acreditassem na versão do companheiro. O irmão nega que isso tenha acontecido.

— Como vamos ser coniventes com algo que não sabíamos? Ele nunca disse à família que era policial. Se ele fez, é homem para admitir. Se não fez, tem de ser solto. Está respingando na minha mãe e no meu pai, que são pessoas trabalhadoras — argumenta o vigilante.

Ele reconhece que Daniel apresentou uma moradora da Região Metropolitana como sua esposa. A assistente social, de 34 anos, que tem uma filha de quatro meses com o homem, foi uma das vítimas que registrou o caso na PF. A mulher contou, em depoimento, que era enganada pelo companheiro que se dizia policial federal.

— Se ele falava para ela isso (que era agente da PF), ou não, não sabemos. O que posso dizer é que o Daniel como irmão é um pai, como filho, é incrível. É angustiante essa situação _ afirma.

A assistente social conta ter descoberto a farsa a partir das redes sociais, junto a outras vítimas. Daniel teve prisão preventiva decretada e foi localizado pelos federais em São Paulo, onde estava residindo com outra mulher, que também relata ter sido enganada por ele. Ela deverá ser ouvida pela PF até sexta-feira (9).

Prorrogação de inquérito

Nesta quarta-feira (7), a PF informou que pediu a prorrogação do prazo do inquérito por mais 15 dias. A legislação prevê que a investigação de casos de competência federal deve ser concluída em 15 dias, a contar da data da prisão do investigado. No entanto, os federais ainda precisam ouvir pessoas que também alegam ter sido vítimas do falso agente. A PF ainda aguarda a perícia nos aparelhos apreendidos durante a prisão. Com Daniel, foi encontrado um notebook e um celular.

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Segundo a PF, suspeito se identificava como agente

A advogada Josiane Leal Schambeck informou que pretende ingressar com habeas corpus, após o pedido de liberdade do cliente ter sido negado. Afirmou ainda que estão finalizando o embasamento do pedido, que deve ser protocolado nesta quarta-feira (7) ou quinta-feira (8). Daniel segue detido no Presídio Central.

Em depoimento, no dia 25 de julho, segundo o delegado federal João Rocha, o preso admitiu que havia enganado algumas mulheres.

— Ele, inicialmente, negou. Depois disse que tinha enganado mesmo, mas que ia resolver tudo. Genericamente, concordou que enganou várias pessoas. Ele diz que começou e não viu o momento de parar — relatou.

Daniel deve ser indiciado por falsificação de selo ou sinal público, por ameaça e estelionato em concurso material (por haver mais de uma vítima).

Como denunciar

Caso você tenha alguma informação, procure a Polícia Federal. O contato pode ser feito pelos telefones 51-3235-9013 ou 51-3235-9000 (horário comercial). Vítimas de outros golpes, que não tenham competência federal, podem procurar outros órgãos de segurança, como Polícia Civil (197).

O que dizem as vítimas:

"Saía de casa todo dia como policial federal. Para mim, estava no trabalho. É uma coisa que ele sustentava muito bem. Ia me buscar no meu emprego fardado. Tanto para mim como para meus amigos, era policial. Era meu companheiro."

Assistente social, 34 anos

"Tinha foto dele na rede social com a camisa com o emblema da PF. Sempre que vinha, estava armado, fardado. Meu filho (quatro anos na época) adorava ele. Sempre disse que queria ser soldado quando crescesse. E o Daniel contava as histórias para ele da profissão de policial. Ele ficava encantado."

Servidora pública, 27 anos

"Ele se apresentava como policial federal.  Sempre tinha desculpas quanto ao salário. O dinheiro não aparecia. (...) Hoje estou falida. Tinha meu nome limpo. Agora não consigo fazer empréstimo de uma agulha. Só consegui voltar a trabalhar em 2019.  Isso é uma dor, uma cicatriz que a gente leva para o resto da vida."

Educadora, 42 anos


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