Polícia



Cinco anos depois

Réus são condenados por morte de jovem que foi obrigada a deitar em cova antes de ser baleada em Porto Alegre

Condenações ficaram entre oito anos e 10 meses e 28 anos de reclusão

01/03/2023 - 09h30min

Atualizada em: 01/03/2023 - 09h31min


Bruna Viesseri
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Carlos e Vinicius foram condenados por assassinato de jovem

Após quase 12 horas de sessão, três réus foram condenados pelo assassinato de Paola Avaly Corrêa, 18 anos, que foi obrigada a deitar em uma cova feita num matagal antes de ser baleada em Porto Alegre. A ação que vitimou Paola foi registrada em vídeo e divulgada na internet, e o caso gerou indignação na época, em maio de 2018. O assassinato ocorreu a mando de um ex-namorado, que não aceitava o fim do relacionamento e se incomodou com uma postagem de Paola nas redes sociais, segundo o Ministério Público.

Nesta terça, foram julgados os réus Vinicius Matheus da Silva, 25 anos, Carlos Cleomir Rodrigues da Silva, 39, e Paulo Henrique Silveira Merlo, 40, acusados de homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Outro júri, de mais três réus, está previsto para quinta-feira (2).

Vinicius foi condenado por homicídio qualificado e por ocultação de cadáver a uma pena de 28 anos de reclusão, em regime inicial fechado.

Carlos foi também condenado por homicídio qualificado e por ocultação de cadáver, mas os jurados reconheceram que ele teve participação de menor importância. A pena total ficou em 16 anos e 2 meses, com regime inicial fechado.

Vinícius e Carlos já estavam presos e voltaram para a detenção após a sessão.

Já Paulo teve todas as qualificadores afastadas e foi condenado por homicídio simples e ocultação de cadáver. Os jurados também entenderam que houve participação de menor importância, e a pena foi fixada em oito anos e 10 meses de reclusão. Como ele já cumpre pena desde 2018, quando o caso ocorreu, a magistrada determinou que ele pode apelar em liberdade, e que ele seja colocado no regime semiaberto. A defesa do réu afirmou que não irá recorrer.

Na decisão, a juíza Cristiane Busato Zardo ponderou que Paola foi mantida "por várias horas em poder dos acusados", sendo amarrada e "assistindo sua cova ser aberta, sabendo que seria morta", o que configura uma "verdadeira tortura psicológica".

A morte de Paola ocorreu em maio de 2018, quando foi raptada e levada a um matagal na Vila Tamanca, na zona leste da Capital. Ela foi obrigada a entrar em uma cova e posteriormente atingida por tiros. O corpo foi deixado no local e achado quatro dias depois.

O assassinato teria ocorrido a mando de um ex-namorado dela, Nathan Sirangelo, 27, que não aceitava o fim do relacionamento e teria se incomodado com uma postagem de Paola nas redes sociais. Ele também é réu e será julgado na quinta com mais dois acusados: Bruno Cardoso Oliveira, 28 anos, a quem é atribuído o planejamento e convocação dos comparsas, e Thais Cristina dos Santos, 24 anos, acusada de ceder a casa para esconder a vítima, indicar o local e filmar a execução da jovem.

Depoimentos começaram às 9h30min

O júri começou às 9h30min desta terça, com o depoimento de três testemunhas indicadas pelo Ministério Público (MP): a mãe e a irmã da jovem e um policial civil que atuou no caso à época. GZH não divulga o nome dos familiares de Paola, a pedido dos parentes. As defesas dos três réus, que estão presos, não apontaram nenhuma pessoa para falar.

A primeira testemunha ouvida foi a mãe de Paola,  num depoimento que durou menos de 10 minutos. Somente a juíza e o promotor Eugênio Amorim fizeram perguntas à mãe da vítima – as defesas optaram por não fazer questionamentos.

— Não tenho nada para declarar, não sabia de nada — disse a mãe quando indagada sobre o crime.

Ela relatou que a filha havia saído de casa, dizendo que moraria com uma amiga e que ela não sabia onde a jovem estava residindo na época em que houve a morte. O promotor chegou a indagar se mãe estava com medo de depor e ela disse que não. Alegou que estava somente nervosa.

Em mais de um momento, a mãe chorou durante o depoimento.

— Ela tinha alguma pretensão na vida? — questionou o promotor.

— Queria ir embora para Santa Maria, estava trabalhando — disse.

Na saída do plenário, a mãe desabou no choro, sendo amparada por familiares do lado de fora do salão do júri. Em outro momento do julgamento, Amorim disse que a mulher teria sido ameaçada.

— Vocês viram uma mãe sair chorando, aos prantos, com o coração em pedaços, seguramente ameaçada de morte — disse o promotor.

Confissão de última hora

Depois, foi a vez dos réus falarem. O primeiro foi Vinicius, que admitiu o crime. No entanto, apresentou uma versão diferente da anterior e alegou que decidiu matar a jovem por ciúme. O réu disse que a postagem realizada por Paola no Facebook, na qual ela se referia ao namorado e afirmava ter mantido relacionamento com outra pessoa, seria direcionada a ele.

Vinicius afirmou que foi até o bairro Bom Jesus, onde Paola morava, decidido a assustar a jovem, mas que não teria intenção de matar.

— Ia dar um susto nela, e acabei efetuando os disparos — afirmou.

Vinicius disse ainda que coagiu o outro réu, Paulo Henrique, a cavar a cova, e obrigou a também ré Thais Cristina dos Santos, 24, a fazer a gravação. Indagado pelo promotor Eugênio Amorim se estava acobertando Nathan, o réu negou. Disse que em depoimento anterior apontou outros acusados porque estava com raiva e tinha desavenças com eles.

Segundo o MP, a postagem de Paola seria para outro réu, Nathan Sirangelo, 27, apontado como mandante do crime e ex da jovem, e não para Vinicius. O promotor disse ainda que Nathan possui posição elevada na facção que domina o tráfico no bairro Bom Jesus.

Amorim alegou que Paola não queria mais se relacionar e que Nathan não aceitava isso. Lembrou que a jovem fez uma postagem no Facebook, na qual afirmava que o ex havia publicado fotos dela em grupos da facção e se referia a ele como "otário",  "piá" e "corno".

Na sequência, falou o réu Carlos, que negou ter participado do crime. Depois, foi a vez de Paulo ser interrogado. Ele disse que não conhecia os envolvidos e que nunca esteve na Vila Tamanca, onde o corpo foi localizado. Afirmou não saber por qual motivo foi reconhecido como sendo um dos envolvidos no caso.

Ele admitiu ter aberto a cova, a mando de Vinicius, mas disse que não teve contato com a jovem. Relatou que se não tivesse aberto o buraco, teria sido morto.

No começo da tarde, após os depoimentos, começou a fase de debates, entre Ministério Público e defesas.

Novo júri

Na quinta-feira (2), será realizado novo julgamento, de mais três réus: Thais Cristina dos Santos, 24, Bruno Cardoso Oliveira, 28, e Nathan Sirangelo, 27, suposto mandante da morte.

Conforme a denúncia do MP, Thais gerenciava o ponto de tráfico naquela região da Vila Tamanca junto de Vinicius. A acusação sustenta que a mando de Bruno, Vinicius e Carlos teriam capturado a vítima e levado até a casa de Thais. Depois disso, a jovem teria sido levada para o matagal, onde foi morta. Bruno também teria arregimentado e convocado as pessoas para cometerem o crime.

Contrapontos

O que diz a defesa de Carlos Cleomir e Paulo Henrique

O defensor público William Foster, que atende Paulo Henrique, afirmou que foi realizado um bom julgamento e que não irá recorrer da decisão. O defensor público André Esteves, que atende Carlos, disse que a Defensoria irá recorrer nos autos do processo, no que julgar necessário para tentar reduzir a pena.

O que diz a defesa de Vinicius

O advogado Igor Garcia, que atendeu o réu, afirmou que ele pediu que a Defensoria Pública entre com recurso da condenação.

O que diz a defesa de Nathan

O advogado Rafael Keller Pereira afirmou que só pretende se manifestar após a realização do júri desta terça-feira.

O que diz a defesa de Bruno

Os advogados Viviane Dias Sodré e Gabriela Goulart de Souza negam as acusações. "Conforme possível visualizar nos depoimentos prestados na data de hoje, nenhum policial responsável pela investigação apontou Bruno como mandante do crime. Além disso, o corréu que admitiu a sua participação esclareceu que inicialmente apontou Bruno por possuir desavenças anteriores com o mesmo", dizem.

O que diz a defesa de Thais

A advogada Gisela Almeida, uma das responsáveis pela defesa de Thais, informou que não pretende se manifestar antes do julgamento.


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