Polícia



Segue o mistério

Um ano após sumiço de idosa na zona norte de Porto Alegre, família segue em busca de respostas

Polícia Civil pediu a quebra de sigilo bancário da aposentada Elizabeth da Silva Dornelles, 66 anos, que foi vista pela última vez em 15 de setembro de 2022, quando saiu para caminhar no bairro Humaitá

15/09/2023 - 15h02min

Atualizada em: 15/09/2023 - 15h05min


Jean Peixoto
Jean Peixoto
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Jonathan Heckler / Agencia RBS

Na tarde de 15 de setembro de 2022, a aposentada Elizabeth da Silva Dornelles, 66 anos, saiu para caminhar no bairro Humaitá, na zona norte de Porto Alegre, e nunca mais voltou. A partir daquele dia, as vidas da filha Ana Flávia Dornelles de Lemos, 33, e do genro Fabian Henrique Teixeira, 39, se tornaram um emaranhado de perguntas sem respostas.

Quando desapareceu, Elizabeth passava alguns dias com o casal, pois enfrentava um período depressivo. Câmeras do circuito interno do condomínio da família (assista abaixo), localizado na Avenida A.J. Renner, registraram ela saindo do local por volta de 14h. Vestia uma calça de moletom verde, um casaco cinza escuro e um tênis preto. A aposentada saiu sem os documentos, sem os óculos e carregava uma garrafa de água na mão direita.

O delegado Thiago Lacerda, titular da Delegacia de Investigação de Desaparecidos de Porto Alegre, responsável pelo caso, diz que a Polícia Civil pediu ao Judiciário a quebra do sigilo bancário da dona de casa. 

— A solicitação foi deferida, contudo, ainda não recebemos a resposta do Banco Central do Brasil. Essa medida é fundamental, pois pode abrir outras frentes de investigação — diz.

Segundo o delegado, foram ouvidas oito testemunhas desde o início das investigações. Uma delas, que não teve a identidade divulgada, foi chamada a depor três vezes para esclarecer algumas questões. Lacerda diz que além das análises bancárias, a polícia trabalha em outras diligências que estão sob sigilo.

Durante as investigações, a polícia descobriu que o Cartão Tri de Elizabeth foi usado por um homem em um ônibus da linha 701-Vila Farrapos, no dia do desaparecimento dela, às 17h. Os policias obtiveram imagens do homem, mas, segundo o delegado, mesmo com a perícia de reconhecimento facial realizada pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) não foi possível identificá-lo. Lacerda acrescenta, contudo, que essa investigação segue em aberto.

Buscando esperanças, à espera de respostas

Sem saber do paradeiro de Elizabeth, a filha e o genro precisaram dar continuidade à vida, assumindo algumas responsabilidades que antes eram da dona de casa. Fabian diz que a fé e a religiosidade da esposa, praticante do espiritismo, é o que ajuda o casal a ter forças para seguir em frente.

No dia 29 de julho, a chegada de Lorena, primogênita do casal, trouxe um sopro de felicidade em meio à angustia do último ano. Ainda em recuperação após o parto, Ana Flávia não pôde receber a reportagem de GZH. O marido conta que as datas comemorativa como Dia das Mães e o aniversário de Elizabeth, em 28 de fevereiro, foram dias difíceis para a família.

— A gente não perde as esperanças, não desacredita, mas é bem complicado. Eu sempre digo que é pior do que a morte, porque quando tu perde a pessoa, tu começa a trabalhar a aceitação, mas ficar nesse lapso em aberto é bem complicado. Até então, são muitas perguntas sem respostas — sublinha.

Eu sempre digo que é pior do que a morte porque quando tu perde a pessoa, tu começa a trabalhar a aceitação, mas ficar nesse lapso em aberto é bem complicado.

FABIAN HENRIQUE TEIXEIRA

Genro de Elizabeth da Silva Dornelles

Segundo Fabian, durante o período de gestação, o casal tentou focar na alegria da nova vida que estava prestes a chegar, mas com frequência se deparava com questionamentos sobre o paradeiro da sogra. O último contato da família com a polícia em busca de informações ocorreu pouco antes do nascimento de Lorena. 

— Da última vez, eu fui até lá e me disseram que continuam com as investigações, mas que não tinham nada de novo. Foi então que eu perguntei o que teríamos que fazer de medida administrativa ou jurídica, já que estava completando um ano. Mas todos os últimos contatos com a polícia foram parecidos. Fomos bem atendidos, mas sem novidades — comenta o genro.

Há cerca de quatro meses, o casal deixou o condomínio onde vivia de aluguel e se mudou provisoriamente para o apartamento onde Elizabeth morava, que estava fechado. A família planeja se mudar para Guaíba no primeiro semestre de 2024.

Embora não saibam se a aposentada será encontrada com vida, o genro afirma que ele e a esposa sempre analisam as possibilidades para quando a sogra aparecer.

— Às vezes a gente precisa se repaginar para tocar pra frente, senão a vida para. Se ela aparecer, vamos ter que reformatar a vida, trazer ela para morar com a gente, ver como ela vai voltar.

Caminho percorrido

A família e a polícia traçaram o caminho percorrido por Elizabeth na tarde do desaparecimento com a ajuda de câmeras de segurança de diferentes estabelecimentos comerciais. O último ponto em que os vídeos registraram a dona de casa foi na subida da Ponte do Guaíba, pela Avenida Sertório, no bairro Navegantes, por volta de 14h20min daquela quinta-feira.

Conforme os registros, ela saiu do condomínio Residencial Laçador pelo portão dos fundos, passou em frente ao mercado que fica ao lado e caminhou pela Rua Battistino Anele em direção à Arena do Grêmio.

Câmeras registraram o momento em que a mulher passou em frente ao estádio e pelo DC Shopping. Ao chegar no semáforo da Voluntários da Pátria, embaixo da ponte do Guaíba, na BR-116, ela andou em direção à Avenida Sertório e depois subiu em direção ao vão móvel pelo acesso próximo à Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes. Este foi o último ponto em que ela foi vista.

A câmera da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) que fica próxima ao local estava inoperante naquela tarde. As câmeras posicionadas sobre a ponte do Guaíba, na BR-116, estão desativadas, pois pertenciam à antiga concessionária da rodovia.

A família realizou buscas na Ilha das Flores e na Ilha da Pintada, onde Elizabeth trabalhou há cerca de 30 anos e tem conhecidos. Apesar da intensa campanha com distribuição de panfletos, nenhuma das informações recebidas nas últimas semanas era procedente.

Quem tiver informações que possam levar ao paradeiro de Elizabeth pode entrar em contato com a Polícia Civil pelo telefone 0800-642-0121, pelo 197 ou pelo site da instituição.

Dicas de como agir

Em desaparecimentos

  • Registre o desaparecimento na polícia assim que for percebido
  • Leve uma fotografia atualizada para repassar aos policiais
  • Outras informações relevantes no momento do registro são saber se a pessoa tem telefone celular e se foi levado junto, se possui redes sociais, os dados de conta bancária, se possui veículo e qual a placa, locais que costuma frequentar, pessoas com quem mantêm contato (amigos, familiares), se é usuária de drogas e se houve alguma desavença que pode ter motivado o sumiço
  • Comunique o desaparecimento aos amigos e conhecidos, que podem auxiliar com informações. Ao divulgar o sumiço, informe os contatos de órgãos oficiais como Polícia Civil e Brigada Militar para receber informações. Isso evita que criminosos interessados em extorquir familiares de desaparecidos se aproveitem da situação
  • Outra orientação importante é que as famílias comuniquem a polícia não somente o desaparecimento, mas também a localização. É muito comum os policiais depararem com casos de pessoas que não estão mais desaparecidas, mas que no sistema constam como sumidas porque o registro de localização não foi feito

Se forem crianças ou adolescentes

  • Percorra locais de preferência da criança
  • Saiba informar quem são os amigos dela e com quem pode estar
  • Esteja atento às roupas que a criança ou adolescente está usando e, em caso de sumiço, descreva para a polícia
  • Mantenha alguém à espera no local de onde ela sumiu. É comum que ela retorne para o mesmo ponto
  • Ensine as crianças, desde pequenas, a saberem dizer seu nome e o nome dos pais
  • Quando a criança ou adolescente for localizada, informe a polícia

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