Polícia



Quase 20 vítimas

Golpe da marmita: clientes dizem ter pago por refeições que não foram entregues por empresa no RS

Após fazerem reclamações junto a Fit Foods RS e não terem os problemas solucionados, clientes registraram boletim na Polícia, alegando estelionato; dona diz que teve problemas financeiros

15/04/2024 - 10h05min


Bruna Viesseri
Enviar E-mail
Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Mensagens que vítima diz ter recebido de empresa que não entregou marmitas

Clientes de uma empresa que vende marmitas pelas redes sociais afirmam que não receberam as refeições compradas e que teriam caído em um golpe. Após fazerem reclamações junto a Fit Foods RS e não terem os problemas solucionados, clientes registraram boletim de ocorrência na polícia, alegando estelionato.

GZH entrou em contato com a responsável pela Fit Foods RS, Amanda Viégas, que afirma que "nunca quis aplicar nenhum golpe" e que "todos serão reembolsados", apesar de ainda não ter como informar data para isso (confira abaixo mais detalhes da resposta).

A Polícia Civil contabiliza 18 ocorrências registradas contra a empresa – a instituição não informou se todos são por estelionato ou se há boletins com outras tipificações. O levantamento foi feito a pedido da reportagem.

Na 15ª delegacia de Porto Alegre, dois dos registros são investigados. Um deles foi registrado em 19 de março, e trata de uma compra feita no pouco antes, no dia 8. A vítima, que preferiu não se identificar, comprou um pacote de 30 marmitas pelo valor de R$ 297, com telentrega inclusa, pago por PIX. As refeições, no entanto, nunca foram entregues, afirma. Segundo o relato, depois de "muita pressão", foi estornada a quantia de R$ 200.

— Ela disse que iria me entregar na terça-feira, mas não recebi nada. Disseram que houve um problema com o carro quando estavam vindo trazer as marmitas e que entregariam na quarta. De novo não recebi. Aí falaram que seria quinta, sem falta. A partir desse dia, não obtive mais retorno deles. Fui pesquisar na internet e vi muitos relatos de gente que não recebeu o produto. Foi quando me dei conta de que caí num golpe.

Segundo a mulher, quando efetuou a compra, a empresa se intitulava Fit Food 51 nas redes sociais, e depois teria mudado para Fit Food RS.

Ela conta que, depois do problema, passou a pesquisar sobre a empresa na internet e encontrou relatos parecidos:

— Muitas pessoas foram lesadas, tem muitos relatos iguais ao meu. Eles ficam enrolando, dizem que quebrou o carro, que o motoboy não foi (trabalhar). Enrolam o que podem e depois não respondem mais.

A reportagem também apurou casos de pessoas que eram clientes da empresa e não tinham problemas, mas que deixaram de fazer as encomendas após os produtos não terem sido entregues em determinada ocasião.

Sem retorno

Um segundo caso foi registrado em abril na 15ª DP. Conforme relato da vítima, ela fez a compra de um kit de 15 marmitas congeladas por R$ 139, incluindo a telentrega. De 18 de março (quando teria feito o pagamento por Pix) até 2 de abril (dia de registro do boletim na polícia), a vítima afirma que não teve mais retorno sobre entrega dos produtos nem estorno do dinheiro. Ela conta que conheceu a empresa por meio das redes sociais.

— Mando mensagem no WhatsApp, no Instagram, tento ligar e nada. Não consigo contato. Acho que me bloquearam, porque vejo que minhas mensagens no WhatsApp não chegam para eles. No perfil do Instagram, os comentários são fechados, não consigo deixar mensagens para outras pessoas verem. Como vou avisar que é golpe? — lamenta.

A vítima diz que no dia que fez a compra escolheu a promoção de valor mais baixo, para provar as marmitas, mas que havia pacotes com valores mais altos.

— Tinham ofertas de R$ 300, R$ 400, até R$ 500, valores mais altos, sempre com pagamento no Pix. Ainda bem que escolhi o menor, peguei um kit com menos marmitas para ver se ia gostar, porque nunca tinha provado a comida deles. Fico pensando quantas pessoas estão caindo nisso? Quanto dinheiro perderam? Fico com dó.

Em relação as duas ocorrências, o titular da 15ª DP, delegado Cesar Carrion, afirmou que as equipes realizaram diligências e devem colher depoimentos nas próximas semanas.

Contraponto

Nas redes sociais, a Fit Foods RS diz atuar desde 2020. O serviço é oferecido em Canoas, Pelotas e na Praia do Cassino (em Rio Grande), além de Porto Alegre.

A proprietária da empresa, Amanda Viégas, se manifestou sobre o caso. Ela afirma que teria sido "ingênua" no negócio, ao "querer dar um passo muito maior do que poderia", e que "nunca quis aplicar nenhum golpe".

Amanda conta que abriu a empresa no objetivo de conseguir uma renda extra, mas que o projeto se tornou depois seu "sonho de vida". Ao ver o negócio crescer, afirma que buscou um sócio investidor para a empresa, que teria oferecido investimento em troca de parte da Fit Food RS. No entanto, o homem não teria cumprido com a palavra e a deixou com dívidas. Nesta época, afirma que falhou na "comunicação" com ex-funcionários e clientes.

Ela relata que chegou a fechar temporariamente a empresa em dezembro de 2023. "Voltei a vender perfumes em exposições e na beira da praia tendo como meta pagar a todos que eu estava em débito", disse em nota.

Amanda diz que passou a receber ameaças há algum tempo, assim como seus filhos e familiares. Afirma que sua foto "começou a rodar como 'golpista' e 'estelionatária'" nas redes sociais, além de serem feitos registros de boletim de ocorrência no nome da empresa. "Eu só tentava pensar em como faria pra reembolsar aquelas pessoas, tentava vender mais e a bola de neve não acabava nunca", diz.

"Errei novamente quando fiquei dois meses sem nem sequer abrir o WhatsApp da empresa, mas eu não conseguia. Não podia passar novas datas que eu não cumpriria. Quando em março de 2024, decidi reabrir. Consegui reembolsar parcelado mais alguns clientes. Mas as redes sociais voltaram a ferver contra mim, perfis fakes criados, posts e mais posts. Perdemos nosso WhatsApp onde tínhamos todos os clientes. Estamos sem acesso ao Instagram há 20 dias", afirma.

Amanda diz que pretende reembolsar todos os clientes, mas que para isso precisa conseguir fazer vendas.

"Sem trabalhar eu não consigo reembolsar e organizar tudo. Perdi minha empresa, minha casa, amigos que trabalhavam comigo e me ajudaram tanto e eu não consegui pagar todo salário. Desde dezembro trabalhei com outros ramos, fiquei sem casa fixa e quando tentei reabrir perdemos nossas redes. Isso é o resumo do que ocorreu! Eu peço perdão a todos os clientes, a maioria comprou combo grandes e recebeu uma parte das marmitas, então sabe que não é golpe. A maioria que postou me chamando de golpista foram aqueles que no início compravam e elogiam nas suas redes e nos indicavam. Peço perdão por ter desapontado vocês, por não ter me comunicado como deveria. Por não ter conseguido cumprir com tudo. A internet mudou a minha vida quando a FitFoods começou a crescer, e explodiu. Mas a internet também acabou com tudo."

Por fim, afirma que "todos serão reembolsados" mas que "sem conseguir trabalhar" não terá "como reembolsar ninguém", e por isso não pode indicar datas para resolver as pendências.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias