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A educação precisa de respostas

Quando a idade é problema

Por que 34,5% dos alunos do ensino médio não estão na série correspondente a sua idade?

15/09/2012 - 12h53min

Atualizada em: 15/09/2012 - 12h53min


Três em cada dez alunos do ensino médio têm idade superior à que deveriam ter para cursar a série em que estão. Essa realidade é tema da segunda pergunta da campanha do Grupo RBS, A Educação Precisa de Respostas, lançada no mês passado.

Repetência, abandono, evasão são algumas causas da chamada distorção idade-série. Especialistas tentam explicar os motivos que levam ao problema, mas o prejuízo desse atraso na trajetória escolar, como na autoestima, pode ser medido pelos próprios estudantes.

Oferecer o conteúdo de maneira mais interessante e relacionado com a realidade do aluno é um dos caminhos para combater essa defasagem.

- O ensino deveria ser como o videogame. Não mecânico como ele, mas inclusivo, com o qual todos podem brincar. O videogame oferece desafios diferentes para cada um, em suas fases. No jogo, se aprende com o erro. E, no caso do fracasso, ele sempre distribui novas chances - explica Silvia Colello, professora da faculdade de Educação da USP.

"Não desistir é essencial"

Alunas do segundo ano do ensino médio na Escola Estadual Costa e Silva, na Capital, as irmãs Josiane da Silva Barbosa, 19 anos, e Alessandra da Silva Barbosa, 21 anos, conhecem bem a alegria da aprovação, que tomou o lugar do desânimo causado pela repetência.

- Eu rodei três vezes no primeiro ano. No ano passado, botei na cabeça que ia passar e comecei a estudar. Antes, ficava ouvindo música, conversando, era distraída. Ia mal em Matemática e Química - lembra Alessandra.

Quando foi à escola buscar os resultados, Josiane, que reprovou duas vezes no primeiro ano, quase não acreditou que ela e a irmã haviam sido aprovadas:

- Não desistir é essencial.

Mas Alessandra chegou a pensar em desistir. Para dar a volta por cima, elas viram que precisavam de mais esforço e menos conversa. O exemplo das irmãs, Lisiane, 30 anos, que é técnica de enfermagem, e Josemara, 19 anos (gêmea de Josiane, que concluiu o ensino médio em 2011), ajudou muito. A mãe, a faxineira Nilza, 53 anos, também fez sua parte.

- A mãe sempre diz que tem que estudar para ser alguém na vida - diz Alessandra.

No futuro, Alessandra sonha ser fisioterapeuta e Josiane, médica. Elas sabem que há um longo caminho pela frente.

Saiba mais

- Dados do Ministério da Educação reunidos pelo Movimento Todos Pela Educação no Anuário Brasileiro da Educação Básica 2012 demonstram que 34,5% de todos os estudantes do ensino médio são mais velhos do que deveriam em relação à seriação em que se encontram.

- O atual modelo educacional brasileiro prevê ensino obrigatório a partir dos seis anos de idade, com a matrícula no primeiro ano do ensino fundamental, que dura nove anos. Isso significa que, aos 15 anos, o estudante deve entrar no ensino médio.

- Uma das metas definidas pela ONG estabelece que, até 2022, 95% ou mais dos jovens brasileiros de 16 anos tenham completado o ensino fundamental, e 90% ou mais dos de 19 anos tenham completado o ensino médio.

O que os pais podem fazer

- A família é peça-chave para a solução do problema.

- Se o pai não pode acompanhar a lição de casa porque não conhece a matéria, por exemplo, pode valorizar a importância da vida escolar, cobrar responsabilidade do filho e reforçar que a aprendizagem é essencial.

- Os pais podem ir à escola, conhecer o professor, participar de reuniões, de eventos sociais, do conselho escolar, discutir problemas comuns, compartilhar responsabilidades.

O que as autoridades devem fazer

- A escola deve fugir do método GLS: giz, lousa e saliva. Precisa estar equipada, com professores capacitados (com formação constante), preparados para lidar com a tecnologia. Deve se renovar, ser criativa.

- É preciso relacionar os conteúdos com o universo do aluno (dar uma aula de História, por exemplo, a partir do nome de uma rua da cidade, da frase dita por um político, ou de uma reportagem de jornal).

- Promover a interação entre aluno e professor.

Conversa atrapalhou

Anderson Correa Rodrigues, 18 anos, aluno do primeiro ano do ensino médio na Escola Estadual Santa Rosa, concorda com Josiane: o importante é não deixar de estudar.

O atraso, no caso dele, foi por conta da repetência na quarta e na sétima séries. A conversa e o comportamento foram o problema nas reprovações. A dificuldade em Matemática também teve sua participação.

- Em 2010, eu passei para a noite, estava na sétima série e trabalhava em um restaurante - conta.

Mesmo cansado do trabalho, Anderson seguiu em frente. Terminou o ensino fundamental, está no primeiro ano do médio e hoje é oficineiro do programa Mais Educação na escola. A partir de janeiro, prestará o serviço militar obrigatório, e quer continuar estudando.

Fala, especialista!

Para Silvia Colello, em termos de conteúdo e metodologia, a escola está muito distante da realidade do aluno e não está preparada para lidar com as diversidades. Isso gera a perda de interesse - ou o aluno desiste, ou fica na aula, mas não se envolve.

- Muitos alunos não veem na escola um caminho para o seu projeto de vida e desistem.

O secretário da Educação do RS, Jose Clovis de Azevedo, acha que o fato de muitas crianças entrarem no ensino fundamental sem terem passado pela educação infantil pode levar à baixa aprendizagem, repetência, perda de interesse e abandono. No ensino médio, isso piora pela necessidade do trabalho.

- Os alunos perdem o interesse (pelas aulas) e optam pelo trabalho.

Outra explicação está na cultura educacional. Segundo ele, não se pode abrir mão do conteúdo, mas ele não vale se não estiver ligado com a vida.


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