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No ritmo da vida

Casa do Artista tem alma

Atores, músicos e radialistas driblam a tristeza e o esquecimento fazendo o que mais sabem: cantar e interpretar dramas e belezas da vida

22/10/2012 - 07h29min

Atualizada em: 22/10/2012 - 07h29min


Wilson (E), José Carlos, Carlos La Porta e Conde

Noel Rosa não era convidado, mas compareceu. Adoniram Barbosa chegou de fininho. Lupicínio só espiou. A festa na Casa dos Artistas Riograndenses estava armada. Em memória aos ídolos do passado, o ator e músico Zé da Terreira, 67 anos, puxa o coro dos presentes. E o samba pede passagem:

A casa, que acolhe talentos esquecidos da música, do teatro, do rádio e da televisão gaúchos no Bairro Glória, na Capital, se ilumina com Carlos La Porta, 76 anos, Wilson Roberto Gomes, 70, e Conde, 69. Agora o recital de sonhadores está completo, mas a letra de Noel os traz de volta à realidade:

Os hóspedes, claro, estão felizes, mas, quando o sol se põe, o medo desperta. E com ele, o pesadelo das incertezas do futuro. Na Casa, a tristeza segue na espreita atrás da porta. Mesmo assim, Zé, Conde, Carlos e Wilson não deixam o samba morrer, não deixam o samba acabar:

Quem é quem

Carlos La Porta, 76 anos, irmão de Júlio La Porta, xerife e homem do sino da Feira do Livro. Carlos foi ator e diretor de teatro e radioteatro, manequim, professor de cursos de teatro e de modelo. Hóspede desde 2011.

Carlos Conde, 69 anos, cantor. Nos anos 60 e 70, apresentou-se nas melhores casas noturnas da Capital. O repertório diversificado desse intérprete vai de Altemar Dutra a Djavan. Entrou na Casa em 2009.

Wilson Roberto Gomes, 70 anos. Artista plástico, ator, locutor e escritor de radioteatro. A pintura de temas abstratos na parede da sala de estar da Casa foi feita por ele. Entre idas e vindas, está há 26 anos ali.

José Carlos Peixoto da Silva, 67 anos, o Zé da Terreira. Ator e músico da Terreira da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, Zé é um agitador cultural em defesa do teatro popular. Fez uma ponta no filme Pra Frente, Brasil, de Roberto Farias, em 1982.

Outros moradores: Sirmar Antunes, Maria Therezinha Pereira Dias, viúva de Vanoli Pereira Dias, que ficou na história como o diretor da maioria dos filmes de Teixeirinha, Bayard dos Santos, Catulo Parra Fareia, Antônio Luiz Orestes Neto e Carlos Silveira Borges.

A Casa

Fundada em 1949, a Casa do Artista Riograndense (Car) abriga artistas com mais de 60 anos com dificuldade para se sustentar. O prédio da Rua Anchieta melhorou muito, mas precisa de reformas. A receita, obtida por meio de contribuições espontâneas, nem sempre cobre a despesa de R$ 1,5 mil mensais para manutenção do imóvel de 11 quartos, dez deles ocupados atualmente. A luz, por exemplo, é paga pelo ator Roberto Birindelli.

O presidente da Car, Luciano Fernandes, palhaço e professor de artes circenses, luta para manter os artistas com dignidade. Implantou um curso de informática para os hóspedes e obteve doação de R$ 20 mil da Vonpar para começar a reforma no prédio, orçada em R$ 110 mil.

A entidade também disputa recursos do Fundo do Idoso, mediante aprovação de projetos no Conselho Municipal de Assistência Social.

Como ajudar

A Casa fica na Rua Anchieta, 280, no Bairro Glória. Telefone: 9123-7519, com Luciano. Alimentos e material de limpeza e de higiene são bem-vindos.

Na rede: www.casadoartista.org

http://casadoartistariograndense.blogspot.com.br

A Casa também mantém uma página no Facebook.

Atração

No último sábado de cada mês, a entidade sem fins lucrativos promove, a partir das 15h, o Sarau na Casa, com encenações, música, poesia e radioteatro. O evento é aberto ao público.


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