Rituais
Toque do tambor saúda os orixás
Curso que forma tamboreiros da Umbanda está na sétima edição. Instrumento é considerado sagrado nos rituais de cultos afrobrasileiros
O tambor é tido como instrumento sagrado nos rituais da Umbanda e dos cultos afrobrasileiros. É por meio do seu toque que se estabelece a comunicação com os orixás, caboclos e pretos velhos. Com o objetivo de ensinar os fundamentos deste instrumento a pessoas com qualquer nível de conhecimento religioso ou musical, a Federação Afro-Umbandista e Espiritualista do Rio Grande do Sul (Fauers) está realizando o sétimo curso de tamboreiros da Umbanda.
- O toque do tambor é a nossa comunicação com os orixás. É ele que traz, invoca as entidades - explica o babalorixá Jorge Grinã, 42 anos, vice-presidente da Fauers e professor da Escola de Tamboreiros.
Curso foi criado em 2009
Jorge é autodidata. Como tem a Umbanda e o africanismo de berço, aos 14 anos já era tamboreiro e, aos 15, alabê (tocador de atabaque) de matriz africana. Foi aprendendo pela curiosidade, pois não havia quem ensinasse a tocar. Pela carência de formadores de alabês, foi criado o curso, em 2009. De lá para cá, 103 pessoas já aprenderam a tocar tambor e agê.
De acordo com Maria Inês Pacheco, coordenadora pedagógica, são 25 aulas (com 2h30min de duração cada uma) teóricas e práticas, além da vivência (atitude, postura, disciplina, sensibilidade). Os alunos aprendem sobre a história do tambor, conhecem os nomes dos toques, e o esquema para tocar, as saudações aos orixás, como afinar o instrumento e também aprendem como fazer um agê e trocar o couro do tambor.
- Eles aprendem a tocar uma sessão inteira - conta Maria Inês.
Em harmonia com as rezas
O estudante Braian Quevedo Alfonsin, 18 anos, sempre gostou do som do tambor e sabia muitos pontos (rezas cantadas). Entrou na primeira turma e segue praticando.
- Tem que conhecer os pontos e coordenar com o toque. Também tem que desenvolver a sensibilidade - explica, sobre a necessidade de o tamboreiro tocar e cantar ao mesmo tempo.
Terreiros precisam de tamboreiros
Já o autônomo João Almerão, 51 anos, está no início da formação:
- Estou na religião há mais de 20 anos e futuramente pretendo abrir a minha casa. Queria saber a origem do tambor, não é só chegar e sair batendo.
Para o presidente da Fauers, Everton Alfonsin, o mais importante não é apenas ensinar a tocar, mas formar profissionais na área para disponibilizar aos terreiros, que hoje têm uma carência de tamboreiros.
Saiba mais
O curso custa R$ 200 e o aluno recebe apostila com a parte teórica, camiseta e um CD com 32 pontos. É preciso levar o próprio tambor (é possível comprar em floras e custa entre R$ 65 e R$ 200).
Depois da 12ª aula, os alunos começam a tocar em terreiras para serem avaliados em relação ao ritmo, ao comportamento.
Ao final do curso, o aluno recebe certificado e uma carteirinha. Mas quem dá a autorização para o tamboreiro tocar (axé de tambor) é o dono da casa de religião.
A entrega dos diplomas da turma que está em andamento sempre é feita numa data especial: essa turma receberá o certificado na festa de Iemanjá, em Cidreira, na madrugada do dia 2 de fevereiro.
O tamboreiro pode ser contratado pelas casas de religião e, geralmente, cobra por sessão (a duração de uma sessão de umbanda é entre 2h e 3h).
O tambor é considerado um instrumento sagrado porque é encourado com a pele de um animal (cabra) oferecido a um orixá.
Antes da abertura de uma nova turma, a Escola de Tamboreiros realiza uma oficina da qual interessados podem participar para conhecer o curso, as regras e fundamentos.
Mais informações no site www.fauers.com.br, ou pelo telefone 3472-3500.