Notícias



Blitz DG

Falta de professores obriga escolas a dispensar alunos mais cedo em Porto Alegre

Colégio do Bairro Cristal faz ginástica para reduzir o prejuízo de estudantes do ensino médio. Alunos reclamam de serem dispensados mais cedo

22/03/2013 - 07h37min

Atualizada em: 22/03/2013 - 07h37min


Da esquerda para a direita: Ketlyn, Fernando, Guilherme, Luana e Vanessa. Tempo livre

O Colégio Estadual Professor Elpídio Ferreira Paes, no Bairro Cristal, está sem dois professores de Português. Mas, para se ter uma ideia do prejuízo para a aprendizagem dos alunos do ensino médio, é preciso usar conhecimentos de matemática: são cinco turmas (dos primeiros e segundos anos do ensino médio) sem cinco períodos semanais de Língua Portuguesa cada uma.

A direção tenta contornar a falta com outras atividades, mas nem sempre consegue evitar que os alunos sejam dispensados antes da hora.

- Estamos no terceiro ano e estar com falta de professor é horrível, porque logo teremos o Enem - observa Luana Brehm, 17 anos.

Acúmulo de matéria preocupa

Para Guilherme Vitt, 16 anos, também do terceiro ano, não ter professor de Português significa prejuízo nos conteúdos de gramática e na produção da redação.

- Depois, para recuperar vai ser difícil. Teremos muita matéria acumulada - diz o estudante.

De acordo com a vice-diretora Cláudia dos Santos Carlos, professores de outras disciplinas estão se desdobrando para atender os alunos.

"Estamos nos virando"

Para piorar a situação, neste início de ano, segundo ela, a escola perdeu cinco professores (das disciplinas de Geografia, Inglês, História, Ciências e Religião) porque a Seduc solicitou os profissionais para que atuassem em outras escolas nas quais havia falta de professor.

Com isso, o Elpídio Ferreira Paes ficou ainda mais carente. Mas a equipe vem atendendo os 1,1 mil alunos mesmo assim.

- Estamos nos virando, mas, quando não conseguimos atender, temos que liberar mais cedo - lamenta a educadora.

Levando trabalho para casa

Neste momento, há professores com toda a carga-horária ocupada em sala de aula (os que têm regime de 20 horas devem estar até 15 horas em sala de aula e, os de 40 horas, até 30 horas em aula). Por conta disso, o preparo da aula e as correções de trabalhos estão sendo feitos fora da escola. Ou seja: tomando o tempo de lazer dos educadores.

O que diz o governo do Estado

A coordenadora-adjunta da 1ª Coordenadoria Regional de Educação (1ª Cre), Lucia Wendlaend, contesta informações prestadas à reportagem pelas equipes diretivas das escolas.

Segundo ela, não há registro de falta de docentes nas escolas Afonso Emílio Massot, Alcides Cunha, Helena Litwin Schneider, Professor Sylvio Torres (em parte), Doutor Oscar Tollens, Marieta Cunha, Anne Frank e Professor Elpídio Ferreira Paes (veja liga completa na página 10).

DG comprova o que Cre nega

Detalhe: a reportagem esteve na Elpídio Ferreira Paes, quarta-feira, e conferiu pessoalmente que havia turmas sendo dispensadas pela falta de professor de Português.

Nas restantes, conforme a coordenadora-adjunta, há mesmo ausências. Mas Lucia Wendlaend repassa a responsabilidade sobre a comunicação:

- Não temos essa demanda aqui na Cre. Vamos conferir. Quem abre a vaga é a direção da escola, quando detecta a falta do professor e vem até a coordenadoria com o estudo de quadro de recursos humanos.

Para completar, Lucia nega que haja professores com carga-horária além da permitida em sala de aula. Direções dizem o contrário.

O que diz a prefeitura

Sete escolas municipais se negaram a responder o questionário do Diário. Então, a diretora de recursos humanos da Secretaria Municipal da Educação (Smed), Zuleica Beltrame, forneceu os dados e explicou que há casos em que a equipe diretiva prefere deixar a manifestação à equipe de recursos humanos da Smed.

Possibilidade de ampliar regime

Em relação à falta de profissionais, Zuleica afirma que além de futuras nomeações, em caso de cargos em aberto, há possibilidade de ampliação de regime (quem tem 20 horas por semana passaria a trabalhar 40 horas por semana), ganhando para isso.

Como há professores volantes, que significa sobreposição de carga-horária, os alunos "não têm ficado sem aulas" e os conteúdos são recuperados quando o titular assume.

- Encaminhamos professores durante o ano inteiro - conclui.

Onde estão faltando professores

A terceira etapa do levantamento que o Diário Gaúcho está fazendo nas escolas públicas da Capital expõe a falta de mais de 30 professores em quase um mês de aula. Confira:

Rede Estadual

Professor Carlos Rodrigues da Silva: um de Matemática
Cel. Afonso Emílio Massot: um de Espanhol
Prof. Alcides Cunha: um de Artes
Piratini: um de Matemática
Lions Club Poa Farrapos: dois professores para séries iniciais
Helena Litwin Schneider: um de Educação Física
Paula Soares: um de Espanhol
Anne Frank: um de Matemática
Professor Sylvio Torres: um de Artes, um de Ciências e um de Português.
Professor Elpídio Ferreira Paes: dois de Português
Coronel Travassos Alves: um de Matemática e um para Séries Iniciais
Dr. Oscar Tollens: um de Matemática, um de Português e um de Ciências
Marieta Cunha Silva: um de Educação Física e um de Séries Iniciais

Rede Municipal

Centro Municipal de Educação dos Trabalhadores: um de Matemática
Escola Especial Professor Luiz Francisco L. Borges: dois professores de regência de sala.
Escola Especial Tristão Sucupira Vianna: quatro professores de regência de sala.
Escola de Surdos Bilíngue Salomão Watnick: faltam um de Ciências e um de Matemática.
Vila Monte Cristo: faltam professores nas áreas de Português, Música e Educação Física.
Nossa Senhora do Carmo: falta um professores de Artes e um de Educação Física.
Jardim Camaquã: por motivo de licença gestante, deverá abrir carga-horária na direção da escola.

15 soluções, 30 faltando

Na terceira reportagem da série que está conferindo a situação da falta de professores na rede pública da Capital, o Diário Gaúcho voltou a fazer contato com as 24 escolas que registraram a falta de 45 professores.

Na nova checagem, foi constatado que houve 15 reposições. Seguem faltando 30 professores e duas escolas registraram novas demandas, um professor em falta em cada escola.

Reposição pela metade

No Instituto Rio Branco, visitado pelo Diário na semana passada, onde havia carência de dois professores de Português, um de Matemática e um de Física, o problema foi reduzido pela metade: os dois de Português foram repostos.

Rede Estadual

Imperatriz Leopoldina: os dois professores de Matemática foram repostos. Agora, falta um de inglês.
Brigadeiro Francisco de Lima e Silva: chegaram os dois de séries iniciais.
Rio Branco: os dois de Português foram repostos. Falta Física e Matemática.
Oswaldo Aranha: reposição em Ciências, mas o de Matemática segue faltando.
General Daltro Filho: segue em falta o professor de Matemática.
Jeronimo de Ornelas: reposto o que faltava (Matemática, Ciências e História).
Olegário Mariano: ainda falta um professor de séries iniciais. A escola vem cobrindo a falta enquanto não chega o docente para evitar que os alunos fiquem sem aula.
Cristo Redentor: os dois de educação especial seguem em falta.
Paraíba: o professor de Português já veio.
Profª Maria Thereza da Silveira: segue em falta de um professor de séries iniciais.
Onofre Pires: seguem faltando um de Português e um de Artes.
Medianeira: a falta de um professor de Matemática ainda não foi suprida.
Otávio Mangabeira: ainda estão faltando um de Ciências, um de Séries Iniciais, um de Espanhol.
Pedro Américo: com a chegada de um professor de História, o quadro está completo.
Desiderio Torquato Finamor: segue faltando um professor de Inglês.
Iba Ilha Moreira: a falta de professor de Educação Física foi suprida, mas ainda há a carência de um de Português.
Poncho Verde: ainda segue faltando um professor de Português e um de Inglês.
Jardim Vila Nova: continuam em falta um professor de Português e um de Matemática.
David Canabarro: segue faltando um de Matemática.

Rede Municipal

Campos do Cristal: ainda não foi reposto o professor de Sociohistória.
São Pedro: seguem em falta um de Séries Iniciais e um de Inglês.
Chapéu do Sol: dois para séries iniciais.
Wenceslau Fontoura: quadro completo.
Afonso Guerreiro Lima: não foram repostos um de Português, três de Séries Iniciais e um de Línguas Adicionais (Francês).
Jean Piaget: o professor de Ciências foi reposto, mas ainda falta um professor volante (qualquer turma) e um de Artes.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias