Educação aos pedaços
Falta de professores continua a perturbar alunos, pais e educadores
Somente nas escolas estaduais de Porto Alegre, de acordo com a direção dos estabelecimentos, faltam 40
Passados 44 dias do início do ano letivo, a falta de professores detectada no início das aulas continua a perturbar alunos, pais e educadores. Ao longo de todo o mês de
março, o Diário Gaúcho fez um levantamento sobre o problema na rede pública da Capital. Abril chegou e a realidade ainda está longe da ideal.
Somente nas escolas estaduais de Porto Alegre, de acordo com a direção dos estabelecimentos, faltam 40 professores. E não é difícil saber onde vai estourar esse prejuízo: na aprendizagem dos alunos.
Cinco turmas prejudicadas
Alunos que ingressaram na escola há pouco tempo e outros em fase de conclusão do ensino fundamental são os grandes prejudicados com a falta de professores na Escola Estadual de Ensino Fundamental Tenente Travassos Alves, na Chácara dos Bombeiros, Bairro Partenon.
Desde o início do período letivo, as turmas de segundo ano estão sem professor titular. Após mais de um mês sem aulas, esta semana os alunos tiveram uma solução nada satisfatória: matriculados para o turno da tarde, passaram a ter atividades pela manhã, das 8h às 10h, graças ao remanejamento de um professor apoiador.
Esse descaso com a educação dos pequenos não afeta apenas o aprendizado das crianças. Gera uma série de problemas em cascata, como os enfrentados por Maria Helena Duarte Nogueira, 27 anos.
- Sem Matemática também
Um dos filhos dela, Gabriel Nogueira Maciel, sete anos, passou todo o mês de março em casa. A mãe teve de pedir demissão do emprego de auxiliar de cozinha para cuidar dele.
- No horário que era para ele estar na escola, ficava em casa. Como é que eu vou trabalhar desse jeito? - questiona Maria Helena.
A escola também enfrenta a falta de professor de Matemática para quatro turmas dos anos finais do ensino fundamental. Entre os prejudicados está um dos filhos de Patrícia Rodrigues Machado,
35 anos. Duas vezes por semana, o jovem Alan Gabriel Machado da Rocha, 14 anos, sai mais cedo da aula.
- O que eles vão aprender no ano? - pergunta a mãe.
A família, aliás, é duplamente atingida: o filho mais novo de Patrícia, Alisson Joel Machado da Rocha, sete anos, também está na turma de segundo ano, sem professor titular.
"Sobram professores", diz secretário
O secretário estadual de Educação, Jose Clovis de Azevedo, contesta a informação de que faltam professores. Segundo ele, o cenário é muito diferente.
- Constatamos exatamente o contrário. Temos encontrado sobras de professores nas escolas - assegura.
O secretário diz que a explicação para o déficit apontado pelos colégios está na falta de uma gestão adequada de recursos humanos, que leva a uma má distribuição dos profissionais. Afirma ainda que grande parte das escolas tem "quatro, cinco ou seis professores excedentes", além de outros que não cumprem a carga horária em sua totalidade.
- Um fim aos contratos
Jose defende, inclusive, que o quadro de professores deve diminuir, em função da redução na taxa de natalidade, representando cerca de 30 mil a 40 mil alunos a menos por ano.
De acordo com o secretário, há problemas pontuais de falta de docentes, especialmente em função de rescisão de contratos. Por isso, destaca a importância do concurso a ser realizado em maio, com 10 mil vagas. E faz um alerta:
- Não nomearei professor sem ter a radiografia do RH de todas as escolas.
Para sanar o problema, o secretário diz que está sendo realizado um estudo detalhado da situação de cada escola.
Município: à espera de resposta
O Diário Gaúcho solicitou, na quarta-feira, entrevista com a secretaria de Educação de
Porto Alegre, Cleci Jurach.
A reportagem também pediu dados sobre o quadro de falta de professores, já que algumas escolas do município preferiram não informar.
No fechamento da reportagem, ontem, o jornal foi informado que a secretária só poderia falar hoje.
A blitz do DG
Logo após o início do ano letivo, o Diário Gaúcho consultou 345 escolas das redes estadual e municipal da Capital, constatando a falta de, no mínimo, 158 profissionais.
A reportagem voltou a ligar para os estabelecimentos de ensino que tinham informado déficit de professores.
Nessa primeira etapa da nova blitz, estão contempladas as escolas estaduais. Dos 44 colégios que tinham informado não estar com o quadro completo, 39 conseguiram ser contatados. Destes, o problema persiste em 24 - em alguns casos, docentes vieram, mas outros saíram - em um total de 40 professores ainda faltantes.
As escolas
- Gonçalves Dias: falta um de Séries Iniciais
- Marechal Mallet: ainda sem um de Inglês, um de Artes e ficarão sem um de Matemática
- Professor Oscar Pereira: falta um de Séries Iniciais, um de Português e um de Química
- Padre Rambo: continua sem professor de Física.
- Ana Neri: falta um de Inglês e um de Ciências
- Aurélio Reis: ainda falta Matemática
- Itamarati: continua faltando professor de Inglês
- Camila Furtado Alves: ainda falta um de Português e um de Séries Iniciais saiu agora
- Japão: falta um de Química
- Oswaldo Aranha: o de Matemática segue faltando.
- Olegário Mariano: falta um professor de Séries Iniciais e um de Matemática.
- Onofre Pires: seguem faltando um de Português e um de Artes.
- Medianeira: a falta de um professor de Matemática ainda não foi suprida.
- Otávio Mangabeira: ainda estão faltando um de Ciências e um de Espanhol.
- Ibá Ilha Moreira: ainda há a carência de um professor de Português.
- Jerônimo de Ornelas:
chegou o de História, faltam dois de Matemática (um desde o início do ano e outro que saiu agora).
- Professor Carlos Rodrigues da Silva: um de Matemática.
- Poncho Verde: ainda falta professor de Português e de Inglês.
- David Canabarro: faltam de Português, História e Séries Iniciais.
- Cel. Afonso Emílio Massot: um de Espanhol e um de Literatura.
- Helena Litwin Schneider: continua faltando um de Educação Física.
- Paula Soares: continua sem um de Espanhol.
- Cel. Travassos Alves: um de Séries Iniciais e um de Matemática.
- Dr. Oscar Tollens: faltam de Matemática e de Inglês.