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Pedras no caminho

Duplicação da Avenida Tronco em ritmo lento na Capital

A maior e mais complexa obra de mobilidade urbana para a Copa de 2014, orçada em R$ 156 milhões, segue no ritmo das desapropriações: lenta e atrasada

11/06/2013 - 07h30min

Atualizada em: 11/06/2013 - 07h30min


Cenário é de longo trabalho pela frente

Será preciso um milagre para concluir a duplicação de 5,3km da Avenida Tronco até a Copa de 2014. E outro ainda maior para desapropriar a tempo todas as famílias da Moab Caldas (nome oficial da via).

Faltando um ano e nove dias para o primeiro jogo no Estádio Beira-Rio, a obra que promete desafogar o acesso à Zona Sul da Capital segue no ritmo das concessões de bônus, indenizações e alugueis sociais aos moradores: lenta e atrasada.

Na terça-feira, num dia de sol, máquinas e operários estavam parados. Canos de concreto se acumulam no meio da pista ladeada por cones para orientar o trânsito.

Tempo seco e máquinas paradas

Se a obra orçada em R$ 156 milhões não anda, a desocupação dos imóveis se arrasta. Metade das 1.525 famílias cadastradas sequer iniciou o processo administrativo para deixar suas residências.

O valor do bônus-moradia, considerado baixo pelas famílias, é de R$ 52.340. As indenizações dependem de avaliação feita pela prefeitura. O aluguel social destina R$ 500 por mês para o morador locar uma casa até receber as chaves das unidades habitacionais que serão construídas na região.

Condomínios não saíram do papel

A prefeitura adquiriu sete áreas na Vila Cruzeiro e nos bairros Glória e Cristal. Nestes terrenos, serão construídas 1.550 unidades em 20 condomínios, por meio do programa Minha Casa, Minha Vida. Mas nenhum tijolo foi assentado ainda.

O projeto arquitetônico de quatro áreas está na Caixa Econômica Federal para contratação das empresas. Os outros três tramitam na prefeitura, sem previsão de encaminhamento à Caixa.

Engenheiro admite dificuldade

Engenheiro civil e coordenador técnico das obras da Copa, Rogério Baú admite que o ritmo do reassentamento pode comprometer o andamento. A questão social é a grande pedra no caminho. Há um problema estrutural também. Casas desocupadas não podem ser demolidas porque são parte de outros imóveis ainda habitados. Mesmo assim, Rogério é otimista:

- A capacidade operacional deve aumentar com agregação de turnos.

A obra foi dividida em quatro etapas. Duas estão em obras: os 1,4 mil metros de pavimentação entre as avenidas Carlos Barbosa e Icaraí estão prontos. Os 800m da Rua Gaston Mazeron também. Além disso, já foram feitas as redes de água e de drenagem.

A situação

Das 1.525 famílias cadastradas, 744 (49%) já saíram da Tronco e 781 (51%) continuam lá.

Quem já saiu...

322 retiraram o bônus-moradia (R$ 52.340 cada), espécie de carta de crédito para buscar imóvel, que só será do pretendente após avaliação da prefeitura.

70 foram indenizadas e, com R$ 52.340 (no mínimo) na mão, buscam local pra morar.

52 recebem aluguel social de R$ 500 por mês (será pago até os moradores receberem as chaves das unidades que serão construídas na região).

Das famílias que continuam lá...

56 estão com pedidos de avaliação em andamento.

700 ainda aguardam a abertura dos processos para desocupar as residências.

25 ainda não manifestaram interesse por uma das três opções de pagamento.

Clima de revolta e frustração

Em julho do ano passado, o Diário Gaúcho já havia flagrado o descontentamento das famílias em relação ao processo de concessão do bônus. A principal dificuldade é encontrar imóveis no valor de R$ 52.340. A demora na tramitação de documentos, avaliação e liberação do recurso fez vários moradores perderem oportunidades. O tempo costuma ser de três meses, demasiado para uma negociação em um mercado com alta rotatividade.

Achar casa é uma tarefa árdua

O pedreiro aposentado Evaristo Amaro, 53 anos, encontrou o quinto imóvel, mas teme perdê-lo como os outros.

- Já perdi quatro negócios. Agora, vou botar mais R$ 23 mil para adquirir esta casa. Como eles demoram até três meses para fazer tudo, estou pensando em contratar um engenheiro para agilizar o laudo técnico do estado do imóvel - desabafou Evaristo.

Flávia Cristiane Gonçalves, 34 anos, já desistiu de procurar casas na Capital:

- Minhas irmãs estão procurando casas nesse valor em Viamão, Cachoeirinha e Guaíba e também não encontram.

"Não sei para onde vamos"

Morador da Avenida Divisa, que será repaginada pela obra, o auxiliar de serviços gerais Adriano de Oliveira Santos, 42 anos, vê os vizinhos da beira do valão partirem enquanto ele fica.

- Os proprietários das duas casas demolidas foram para o Litoral. Já vi casa no Passo da Figueira (Alvorada), mas eles não tinham a documentação, e não tenho tempo de procurar - lamentou Adriano, que mora com a mulher e três filhos.

Para ele, a Copa não significa nada

Indignado com a falta de explicações convincentes sobre o atraso, Augustinho Prazeres Gonçalves, 53 anos, disparou contra as construtoras e os representantes do povo.

- Por que demora tanto? Já perdi imóveis na Glória e na Restinga. Pra mim, a Copa não significa nada. Vai encher o bolso de empreiteiros e políticos - desabafou Augustinho.

Ela está na quarta tentativa

A dona de casa Erenice Rocha dos Reis, 52 anos, deixou de comprar casas na Restinga e no Morro Santa Teresa devido à demora da prefeitura na avaliação dos imóveis e liberação do bônus.

Ela recebeu R$ 24 mil de indenização por um brechó (comércios não têm o teto de R$ 52.340), mas o dinheiro para comprar a nova casa depende da chegada da documentação.

- Se demora, eles vendem, pois querem o dinheiro na mão. Já escolhi uma em Cidreira, mas a imobiliária de lá ainda não mandou os papéis - frisou Erenice, esperançosa.

A obra

5,3 km (largura média de 40m) de extensão

A Avenida Tronco ligará a confluência das avenidas Icaraí e Chuí à das ruas Professor Clemente Pinto e Mariano de Matos, das avenidas Carlos Barbosa e Niterói e ao prolongamento previsto da Avenida Gastão Hassloscher Mazeron.

Serão três pistas em cada sentido, faixa preferencial de ônibus, ciclovia, incluindo rótulas e intersecções, além de mobiliário urbano.

R$ 156 milhões é o orçamento. Disto, a prefeitura investirá R$ 12,2 milhões nas desapropriações e nas estações de ônibus.

Ofertas em mural não resolvem, mas ajudam

No Escritório da Nova Tronco, na Avenida Moab Caldas, 125, duas dezenas de folhas de ofício e papéis com ofertas de imóveis - algumas escritas à mão - ajudam moradores desesperados.

O mural indica casas e apartamentos à venda, pelo valor do bônus, na Capital, regiões Metropolitana e Carbonífera e Litoral Norte.

Por enquanto, o local é o caminho mais curto para encontrar um novo endereço para morar.

Diretor garante que cumpre a meta

Embora admita o prazo de até 90 dias para a tramitação do processo e liberação do bônus, o diretor-adjunto do Demhab, Marcos Botelho, garante que a equipe está cumprindo a meta prevista.

Em média, 30 famílias são atendidas por semana.

- A casa tem de estar escriturada e o proprietário não pode ter dívida com IPTU, água e luz. O imóvel, para ser adquirido, não pode ter nenhuma restrição - afirmou o diretor-adjunto.


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