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A novela continua

Futuro de incertezas para os carroceiros

Prefeitura recebeu ontem 73 carrinhos, carroças e animais usados por 42 famílias na coleta de lixo. Há catadores, porém, que continuarão exercendo a função nas ruas

15/11/2013 - 08h18min

Atualizada em: 15/11/2013 - 08h18min


O clima era para ser de festa, mas o que se viu foi incerteza nos rostos dos carroceiros e carrinheiros que participaram da primeira entrega coletiva de veículos ao programa de inclusão na reciclagem Todos Somos Porto Alegre, ontem de manhã.

Cabisbaixos, Hilson Laguna de Medeiros, 53 anos, e a mulher Iraci de Fátima da Silva, 50 anos, do Bairro Cristal, olhavam os cheques simbólicos recebidos nos valores de R$ 2 mil, pelo cavalo Rubinho e a carroça, e de R$ 300, pelo carrinho. Hilson concluiu o curso de dois meses de produção de blocos sustentáveis para calçamento. Agora, faz parte de uma cooperativa formada pelos ex-alunos, mas ainda não teve salário.

- Tive de entregar para ficar dentro da lei, mas vai ser difícil. Antes, eu era o meu próprio dono. Agora, seguirei ordens. Antes, tirava por mês até R$ 1 mil. Agora, ainda nem tenho salário - comparou Hilson.

Há duas semanas, Iraci começou o mesmo curso feito pelo marido, e ainda não recebeu o vale-transporte, o rancho e o salário de R$ 678 prometidos:

- Temos sete crianças. Estou estudando, mas fico pensando se teremos comida no Natal.

"Vou continuar catando"

A catadora Tereza Trindade, 55 anos, da Vila do Resvalo, agiu de forma diferente:

- Entreguei a carroça e o cavalo, mas guardei um carrinho em casa. Nunca bati na porta do prefeito para pedir um prato de comida. E não será agora.

Mãe que sustenta quatro filhos (uma delas na Ufrgs) e uma neta de 18 anos, Tereza entregou chorando o cavalo Negão, companheiro há uma década.

- Ainda não recebi pelo curso que comecei em 18 de outubro. Sem salário não posso ficar. Vou continuar catando para sustentar meus filhos - afirmou.

"Não vou entregar"

Na contramão dos colegas, Elisabete Santos, 53 anos, quase 30 deles como catadora, moradora da Vila do Resvalo, foi ao evento só para tentar falar com o prefeito José Fortunatti. Não conseguiu. E voltou para casa com o carrinho com o qual sustenta os três filhos adolescentes e o neto de um mês de vida:

- Sou analfabeta. Onde vou conseguir outro emprego? Não vou entregar o carrinho. É um trabalho honesto.

Multas devem começar em dezembro

Segundo o secretário municipal de Governança, Cezar Busatto, a primeira etapa do programa está servindo para diagnosticar os problemas encontrados, e ele ainda passa por ajustes. Ele afirmou que os vales-transportes serão distribuídos nos próximos dias. Já idosos e analfabetos deverão receber maior atenção e vagas de trabalho nas futuras unidades de triagem.

Com relação à fiscalização na Zona 1, com proibição de circulação desde 1º de outubro, o secretário ressaltou que a EPTC ainda está apenas orientando:

- Estamos mexendo com vidas. Uma fiscalização mais intensa deve começar em dezembro. Aí, ocorrerão as multas.

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A solenidade

- 42 famílias entregaram 73 equipamentos e animais. O evento foi no Centro Administrativo Regional (Car) Glória, Cruzeiro e Cristal.

- A indenização é de R$ 2 mil por carroça e cavalo, R$ 1,2 mil se for só o cavalo, R$ 800 pela carroça e R$ 300 pelo carrinho.

- As carroças e os carrinhos serão reciclados. Os cavalos serão levados a abrigo no Extremo Sul. Os animais serão disponibilizados para adoção.

- Interessados em doar devem procurar o Car de sua região.

O programa

- 1.709 famílias estão, atualmente, cadastradas no programa Todos Somos Porto Alegre: 300 carroceiros e carrinheiros estão envolvidos nos cursos oferecidos.

- Todos os beneficiados poderão escolher até três cursos antes de entregar seus equipamentos.

- Quem não conseguir colocação no mercado deverá ser empregado nas unidades de triagem.

- São oferecidos cursos profissionalizantes gratuitos, com concessão de bolsa de estudo no valor de um salário mínimo (R$ 678), vale- transporte e, em alguns casos, cesta básica.

- Entrega total - Casal Hilson e Iraci entregou um carrinho, uma carroça e o cavalo Rubinho. A aposta deles é na capacitação por meio de curso oferecidos pela prefeitura. Por enquanto, pouca perspectiva, porém.

- Entrega parcial - Tereza entregou uma carroça e o cavalo Negão. Contudo, ainda tem um carrinho para continuar na função de catadora. Faz um curso, mas não sabe ainda se terá futuro após a qualificação.

- Negou-se a entregar - Elisabete foi ao evento apenas para tentar falar com o prefeito. Queria alegar que é analfabeta e não vê perspectiva no programa municipal. Não foi ouvida. E voltou com o carrinho para casa.


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