Xixi na praça
Engraxates reclamam de mau cheiro e exigem abertura de sanitários na Praça da Alfândega
Obra de novos banheiros públicos está pronta, mas até hoje não foi liberada pela prefeitura
Cansados de trabalhar ao lado de poças de urina e fezes humanas, engraxates da Praça da Alfândega, no Centro da Capital, declararam guerra aos mal-educados e à falta de ação da prefeitura. Penduraram cartazes e placas nas árvores, exigindo a abertura dos banheiros públicos prontos desde o ano passado, mas que continuam inexplicavelmente fechados.
Sem alternativa à disposição para se aliviar, moradores de rua, andarilhos e drogados fazem as necessidades fisiológicas ao ar livre. As cenas repetem-se diariamente, causando constrangimento aos pedestres e a perda de clientes, que se recusam a lustrar os sapatos devido ao mau cheiro.
- Todos os dias, a gente é obrigado a lavar as calçadas com detergente e a colocar os excrementos no lixo - reclama o engraxate Marcelo Ubirajara Machado, o Bira, 48 anos.
Em um dos cartazes, afixado numa árvore em frente aos novos sanitários, o recado é endereçado ao responsável pela cidade: "Senhor prefeito, abra o banheiro. Faço xixi nas calças todos os dias."
É preciso ir até o shopping
Quando precisa usar o sanitário, o engenheiro civil aposentado Sérgio Armando Garcia,
80 anos, vai ao Rua da Praia Shopping.
- É lamentável que esses banheiros ainda não estejam abertos, especialmente para
pessoas idosas como eu, que sofrem de incontinência urinária - revelou Sérgio.
O protesto dos engraxates serve também para chamar a atenção para um problema crônico da cidade: a falta de banheiros gratuitos para o uso da população. Os poucos que existem estão em estado precário, como os do Terminal Parobé e da Praça Dom Feliciano. No Mercado Público, o acesso aos sanitários custa R$ 0,50.
Promessa é abrir em junho
A Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic) informou que os banheiros públicos serão abertos somente no dia 12 de junho - três dias antes da primeira partida do Mundial no Beira-Rio. Serão dois módulos, cada um com três banheiros: feminino, masculino e para cadeirantes. Segundo a assessora de planejamento da Smic, Jossana Bernardi, o órgão busca uma parceria público-privada.
- Estamos buscando uma alternativa para viabilizar a abertura dos banheiros a partir de 12 de junho - afirmou Jossana.
Vaivém das explicações
Em 2013, o Diário Gaúcho publicou três reportagens sobre a obra. Em cada uma, a justificativa apresentada pela prefeitura para a demora na entrega dos banheiros foi diferente.
Primeiro, a culpa era da licitação para ocupação dos espaços, que estava em andamento. Depois, era preciso instalar um cabo de energia subterrâneo para alimentar os módulos, o que foi feito pela Ceee. Agora, surge uma nova desculpa: a busca de uma parceria público-privada.