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Axé, Vera e Val

Valéria e Vera se tornam o primeiro casal de mulheres a se casar nas prisões gaúchas

Cerimônia afro umbandista foi celebrada no Madre Pelletier

10/05/2014 - 10h03min

Atualizada em: 10/05/2014 - 10h03min


Casamento gay na Penitenciária Feminina Madre Pelletier. Noivo: Valéria Dias de Oliveira, 27 anos e Noiva: Vera Indiana Castro, 33 anos

Cada detenta que chegava ao auditório da Penitenciária Feminina Madre Pelletier na tarde de sexta vestia a sua melhor roupa e tinha a maquiagem caprichada. Estavam prontas para a festa, mas todas as convidadas sabiam que era muito mais do que isso. Elas estavam prontas para quebrar paradigmas.

Valéria Dias de Oliveira, 27 anos, e Vera Indiana Castro, 33 anos, estavam em trajes de gala. Val, com um terno fino. Já Vera, brilhava no vestido de noiva doado por uma servidora do IGP.

Vera e Val, como são conhecidas no Pelletier, se tornaram o primeiro casal de mulheres a casar nos presídios do Estado. E, de quebra, pela primeira vez em uma cerimônia religiosa porque, como bem define o presidente da Federação Afro Umbandista do RS (Fauers), Éverton Alfonsin, "espíritos não têm sexo". Foi ele quem celebrou a cerimônia afro umbandista.

O caminho até o altar confirmou um amor à primeira vista, iniciado em 2012, quando Valéria foi presa pela segunda vez, por tráfico.

- Nos cruzamos no corredor e ali já percebemos que ficaríamos juntas - conta ela, que é paulista, mas nos últimos anos vive no Bairro Bom Jesus, na Capital.

Meta é criar uma família

Nos últimos meses, as duas dividem uma cela, que virou uma espécie de casa provisória do casal. E um motivo para planejar a mudança de rumo nas suas vidas. Atualmente, as duas trabalham na prisão. Cada uma é mãe de dois filhos, e agora traçam um objetivo comum: criar uma família juntas com as suas crianças.

- O meu amor me ajudou a repensar toda a minha vida, ser mais madura. Tenho certeza que encaro qualquer desafio se for ao lado da Val - comenta a Vera, que desde 2009 cumpre pena por roubo.

Esperança de vida melhor

As duas já se casaram com uma perspectiva de separação. Valéria calcula que voltará às ruas em dezembro. Já Vera ainda deve cumprir pena até 2016. Nada que perturbe a relação.

- A Val, assim que sair, já vai se cadastrar para me visitar. E lá fora, ela vai montando a nossa casinha - diz a Vera, sem disfarçar a empolgação com a vida nova.

Para a assessora de direitos humanos da Susepe, Maria José Diniz, o casamento faz parte de um processo de valorização para todas as detentas.

- O fato de estarem presas não significa que não podem viver juntas, ter a liberdade de sentimentos e reconstruírem seus caminhos. Sempre digo que o presídio tem uma porta de entrada e precisa ter a saída - diz Maria, que foi uma das madrinhas do casal.

Há cerca de um ano a ideia do casamento começou a ser amadurecida com a participação da assessora. Elas precisavam estar prontas para encarar o preconceito que enfrentarão na rua. As duas garantem: estão preparadas.

Antes da união entre Val e Vera, as cadeias gaúchas só haviam testemunhado casamentos entre homens, em Santa Rosa.

Federação umbandista trabalha nas cadeias

Há quase três anos a Fauers iniciou seu trabalho no Madre Pelletier e em outras quatro casas do sistema penitenciário gaúcho. De acordo com Éverton Alfonsin, um projeto que iria muito além da fé.

- Entramos aqui para dar esperança de vida a essas pessoas. Quem é preso, está privado da liberdade, não da crença - comenta.

A fundação está à frente de projetos como a confecção dos barcos ecológicos, que são usados nas procissões religiosas no Estado, além de oficinas de patchwork desenvolvidas entre os presos.


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