Porto Alegre



Ipiranga sem proteção

Áreas próximas a cruzamentos concentram quedas no Dilúvio

Das 19 vias que cortam os 10 quilômetros da avenida, 16 registraram acidentes em suas imediações

11/06/2014 - 05h01min

Atualizada em: 11/06/2014 - 05h01min


Débora Ely
Débora Ely
Enviar E-mail
Lauro Alves / Agencia RBS
Entre 2009 e 2014, 46 veículos caíram no Arroio Dilúvio

Nos últimos cinco anos e meio, 46 veículos e uma égua saltaram de diferentes trechos da Avenida Ipiranga, em Porto Alegre, e acabaram nas águas poluídas do Arroio Dilúvio. Dos 19 cruzamentos que cortam os 10 quilômetros da via, 16 registraram acidentes em suas imediações.

A Avenida Salvador França foi o cruzamento que registrou o maior número de acidentes - seis. Em segundo lugar, está a região da Ipiranga próximo à Silva Só, com quatro carros caídos. Em seguida, empatadas, estão as vias Múcio Teixeira, Guilherme Alves, Vicente da Fontoura, Lucas de Oliveira e Antonio de Carvalho, com três acidentes cada.

No total, três pessoas morreram. Em um dos casos, a vítima perdeu o controle do carro depois de um mal súbito que possivelmente a matou antes de entrar no Dilúvio.

Confira no mapa os locais dos acidentes nos últimos cinco anos:

No início do mês, o debate foi reaberto depois que um jovem de 23 anos morreu ao cair no arroio na altura da Salvador França.

O especialista em segurança de trânsito Mauri Panitz conta que trata do assunto há tempo e  não vê nenhuma solução ser tomada. Ele parte do pressuposto de que, sempre que existir um rio ou um arroio no meio de uma estrada ou um desnível superior a três metros, as normas técnicas estabelecem que deve existir uma barreira de contenção - caso da Avenida Ipiranga.

Relembre outros casos deste ano:

03/04/2014 - Motorista escapa sozinho após carro cair no Dilúvio

14/01/2014 - Táxi cai no Arroio Dilúvio, no bairro Jardim Botânico.

04/01/2014 - Um Corsa caiu dentro do arroio Dilúvio no final da tarde. Ninguém se feriu.

Panitz destaca que a via tem problemas que facilitam a ocorrência de acidentes, como a altura do meio fio - em diversos trechos é de cinco centímetros, quando deveria ter uma altura de 20.

- Deveria existir um estudo para definir qual tipo de sistema de contenção viária, o conjunto de dispositivos que não deixa o carro cair no vão, capaz de reconduzir o veículo ao seu curso. Funcionaria como uma tabela de bilhar, no qual a bola bate e volta - argumenta o especialista.

Ele diz que, embora os guard rails sejam uma opção comum, existem outras opções, como um sistema de malhas de aço ou de cabos de aços tensionados como cercas:

- Para cada tipo de problema, há uma solução. É preciso fazer um estudo, mas parece que falta vida inteligente dentro da prefeitura.

Ao longo da semana, ZH ouviu outros especialistas que também sugeriram soluções para o problema.

Os peritos Clovis Xerxenevsky, que atuou no Instituto Geral de Perícias (IGP), e Walter Kauffmann Neto, da ONG Alerta, concordam que guard-rails evitariam mortes.

O professor de trânsito no curso de Engenharia Civil da Unisinos, João Hermes Junqueira acredita que deve se agir de "maneira mais educativa", pois todo o aparato de segurança é pouco se o motorista age com imprudência.

À ZH, o diretor-presidente da Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari descartou a opção dos guard-rails. O custo total, ele calcula, seria de R$ 7,4 milhões.

- Os acidentes poderiam ser agravados, com os carros voltando para a pista e envolvendo outros veículos, sem falar em risco de ferimentos graves em motociclistas e na necessidade constante de retirada dos equipamentos para a limpeza do arroio - diz.

Panitz discorda do argumento do "bate e volta":

- Se fosse assim, a mureta da BR-116 não deveria existir.

Um exemplo brasileiro

O caso mais lembrado pelo especialistas, é o de Goiânia. A capital de Goiás tem duas avenidas em cujo vão está um córrego - a marginal Botafogo e a marginal Cascavel. Somadas, elas têm 16 quilômetros (considerando os dois sentidos) e todos os trechos são protegidos por guard rails, conforme o diretor de estudos e projetos da prefeitura de Goiânia, Fabrício de Menezes.

- Se estamos falando de um desnível que vai colocar em risco a vida do usuário, nosso pensamento é que tem que ter a defesa. Nós não liberamos pista sem ter a defesa.

O sistema de proteção foi incorporado no projeto de cada uma das vias. E o resultado foi positivo. De acordo com a assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros da cidade, o último acidente fatal foi setembro de 2012 quando uma mulher perdeu o controle do veículo, caiu no córrego da Botafogo e morreu.

Ainda assim, nem tudo é perfeito: na marginal Cascavel o problema não é a imperícia dos motoristas ou a falta de proteção, mas a chuva. Quando chove muito, há alagamentos e os carros, carregados pela água, caem na via localizada no sudoeste da cidade.

*Colaborou Carlos Ismael Moreira

 


 


MAIS SOBRE

Últimas Notícias