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Rotina de medo

Como atuam os ladrões de postos de combustíveis em Porto Alegre

ZH percorreu 40 postos de combustíveis em uma semana e identificou, a partir de imagens e relatos, como agem os grupos

13/06/2014 - 05h03min

Atualizada em: 13/06/2014 - 05h03min


A regularidade e a violência com que gangues atacam os postos de combustíveis em Porto Alegre estão tornando a profissão de frentista um trabalho de alto risco. A sensação de ser a próxima vítima causa estragos reais entre os profissionais, como doenças e abandono do emprego.

Frentistas desenvolvem técnicas para fugir de assaltos

Há dois anos, consolidou-se a média de 26 ataques mensais a postos. Policiais, donos de estabelecimentos e frentistas concordam que a violência tem a ver com a popularização do uso do crack. Jovens dependentes usam os postos como uma espécie de caixa rápido para conseguir o dinheiro para a droga.

Os números oficiais demonstram uma carência de informações sobre assaltos no setor. Na Secretaria da Segurança Pública do Estado, as ocorrências de ataques aos postos caem na vala comum dos roubos.

Como a maioria dos 275 postos de Porto Alegre - 2,8 mil no Rio Grande do Sul - são empresas pequenas e familiares, o Sindicato do Comércio Varejista de Combustível e Lubrificantes (Sulpetro) tem dificuldades em coletar informações entre os seus associados. Os obstáculos são semelhantes para o Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados (Sitramico), que abrange os 3 mil frentistas da Capital (são 30 mil no Estado).

Durante uma semana, Zero Hora percorreu 40 postos de combustíveis (escolhidos ao acaso, em todas as regiões de Porto Alegre), conversou com frentistas, proprietários e dirigentes de sindicatos das categorias e assistiu às imagens gravadas pelas câmeras de segurança dos roubos.

Os assaltos com arma de fogo são os mais frequentes. Veja nas imagens como agem os ladrões:



Outra tática dos assaltantes é a prática de arrastões. Eles chegam em bando nos postos, sem que exista a possibilidade de reação por parte dos funcionários:





Neri Lopes, 70 anos
Foto: Ricardo Duarte/Agência RBS 

Reprodução / ZH TV
Há dois anos, consolidou-se a média de 26 ataques mensais a postos

ASSALTOS A POSTOS EM PORTO ALEGRE -2014 | Create Infographics



Jogo de gato e rato entre a polícia e os ladrões

Usando informações fornecidas pelos serviços de inteligência, a Brigada Militar (BM) e a Polícia Civil tentam se antecipar à ação dos assaltantes de postos de combustíveis.

Contra os ladrões de postos, a BM lançou a Operação Pré-Sal, informa o coronel João Diniz Godoy, comandante do Policiamento da Capital. Ele diz que veículos com P2 - policiais militares de inteligência da BM - circulam nas imediações dos postos de combustível.

- Sempre que é detectado um grupo suspeito, os P2 acionam as viaturas da região - diz o coronel.

A BM e os ladrões estão envolvidos em um jogo de gato e rato. Sempre que os carros patrulhas da corporação intensificam a presença ao redor de postos em uma região da cidade, os bandidos se afastam e atacam em outro lugar. O coronel diz que a principal característica dos assaltantes é formarem grupos ao acaso.

_ Eles têm em comum a necessidade de conseguir dinheiro para comprar droga, então atacam o próximo posto _ explica Godoy.

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A vez do caçador

Atraídos pelo baixo risco de serem presos e pela lucratividade do roubo, nos últimos anos dois bandos de criminosos se especializaram em assaltar postos. Ao se organizarem, no entanto, tornam-se alvo da polícia, que conseguiu localizá-los graças ao serviço de informações.

- Os dois bandos foram desmantelados por agentes da 8ª e da 2ª delegacias - informa o delegado regional de Porto Alegre, Cleber Ferreira, responsável pelas 22 delegacias da Capital.

Ferreira tem a mesma linha de raciocínio do coronel Godoy sobre os assaltantes de postos. Ele acrescenta:

- Para facilitar o nosso trabalho seria fundamental que o posicionamento das câmeras de segurança fosse mudado. Hoje a maioria filma de cima para baixo, o que dificulta a identificação do rosto do assaltante.

Embora o ataque a postos de combustíveis tenha se intensificado há uma década, ele sempre existiu, recorda o frentista Neri Lopes, 70 anos, há 48 anos no ramo. Ele lembra que, nos anos 70, pelo menos uma vez por ano algum posto da cidade era assaltado e virava notícia no jornal.

- Hoje é coisa comum, eu mesmo já fui assaltando duas vezes. Eles não respeitam nem os velhos - reclama.

Lopes costuma dizer que é do tempo em que a gasolina era barata e os bandidos respeitavam os policiais.


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