Notícias



Rotina de medo

Frentistas desenvolvem técnicas para fugir de assaltos em Porto Alegre

ZH percorreu 40 postos de combustíveis em uma semana e identificou, a partir de imagens e relatos, como agem os ladrões

13/06/2014 - 05h03min

Atualizada em: 13/06/2014 - 05h03min


Os frentistas do turno da noite são o principal alvo das gangues que assaltam postos de gasolina em Porto Alegre. Para se proteger dos ataques, há duas regras consideradas de ouro: não reagir e evitar de olhar nos olhos dos criminosos. As medidas não estão em um manual, mas são passadas dos trabalhadores mais velhos para os mais novos.

Como atuam os ladrões de postos de combustíveis em Porto Alegre

Durante uma semana, Zero Hora falou com mais de duas dezenas de frentistas. Cerca de 90% deles já tinham sido assaltados, alguns mais de um vez. Marco Antônio Oliveira da Silva, 39 anos, é uma exceção, apesar de trabalhar durante a noite em um dos postos da Avenida Sertório, área muito visada pelos assaltantes.

Há um ano e meio na profissão, Silva era entregador de jornal, tarefa que fazia acompanhado pela cadela Guria de Porto Alegre e o cachorro Guri de Uruguaiana. Ao ser admitido no posto, ele encontrou outros cachorros que viviam lá, o Dany e a Madona Pop Star. Ele colocou um crachá nos animais, que acabaram virando atração para os clientes - e afastando os assaltantes.

- Graças a Deus e aos cachorros, eu não fui assaltando - comenta.

Marco Antonio Oliveira da Silva, 39 anos, frentista e dono dos cachorros
Foto: Carlos Wagner/Agencia RBS

O lugar é conhecido como Posto dos Cachorros. A três quadras dali, o frentista Daniel Agostini da Silva, 26 anos, tem a mania de "correr o olho" em busca de suspeitos enquanto abastece na pista - como chamam o espaço onde ficam as bombas de combustível. No ano passado, ele levou um tiro na perna direita durante um assalto.

- Está quase na hora de ir embora e havia estacionado o meu carro na pista. Foi quando chegaram, em um Uno, três jovens. Eles desceram e anunciaram o assalto - recorda.

Na fuga, os bandidos roubaram o automóvel de Agostini e o levaram junto. O que aconteceu dentro do veículo, ele diz que jamais irá esquecer:

- Os caras ficaram ali discutindo se iriam me matar ou não. No final, pararam o carro e me mandaram correr. Eu corri, e eles me deram um tiro pelas costas na perna direita.

Trauma afasta frentistas do trabalho

Já se passaram cinco anos. Mas Cezar Pereira Alves, 62 anos, ainda é atormentado pela imagem das balas do tambor de um revólver calibre 38 apontando para o seu rosto por um assaltante do posto de combustível, onde trabalhava de frentista. Por algum tempo precisou de auxílio médico e medicações para levar uma vida normal.

Alves hoje é um dos diretores do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo no Rio Grande do Sul (Sitramico). Conta a sua história sempre que um frentista bate à porta da entidade assustado por ter sido vítima de assalto.

- Todas as semanas, dois ou três colegas vêm aqui, apavorados por terem sido vítimas de assalto - relata.

Ele diz que, depois de sofrer a violência, o frentista fica com o pensamento fixo de que tem uma grande chance de sair para trabalhar e não voltar para casa. João dos Santos, 41 anos, frentista de um posto nos arredores da Avenida Sertório, um dos locais preferidos pelos assaltantes, se encaixa na descrição feita pelo diretor do sindicato.

- Em janeiro, fui vítima de quatro assaltos no posto. Precisei fazer tratamento médico para conseguir voltar trabalhar. Hoje venho trabalhar pensando que posso não voltar para casa - descreve Santos.

Apesar da tensão, Santos não cogita deixar o emprego e, muito menos, mudar de profissão. Justifica que gosta de ser frentista. E que acredita que o tempo irá ajudá-lo a superar o trauma.

Desistiram da profissão

Alessandra Rodrigues não pensou duas vezes. No dia seguinte à noite em que teve uma arma apontada no seu rosto desistiu de trabalhar na loja de conveniência de um posto na região da Avenida Manoel Elias, zona norte de Porto Alegre. O salário e os benefícios oferecidos pelo proprietário do estabelecimento eram acima do mercado.

- Lembro bem: um grupo de jovens chegou à loja e pediu cigarros. Eu virei o corpo para pegar a mercadoria na prateleira e, quando voltei, havia uma arma apontada no meu rosto - recorda.

Assustada, avisou o proprietário que não voltaria a trabalhar. Ele deu alguns dias de folga e disse que o susto passaria. Não passou. Ela manteve a decisão de não voltar.

Durante uma semana, Zero Hora percorreu 40 postos de combustíveis (escolhidos ao acaso, em todas as regiões de Porto Alegre), conversou com frentistas, proprietários e dirigentes de sindicatos das categorias e assistiu às imagens gravadas pelas câmeras de segurança dos roubos.


Os assaltos com arma de fogo são os mais frequentes. Veja nas imagens como agem os ladrões:



Outra tática dos assaltantes é a prática de arrastões. Eles chegam em bando nos postos, sem que exista a possibilidade de reação por parte dos funcionários:





Ricardo Duarte / Agencia RBS
Frentistas vivem rotina de medo em Porto Alegre

ASSALTOS A POSTOS EM PORTO ALEGRE -2014 | Create Infographics


MAIS SOBRE

Últimas Notícias