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Hospital da Restinga abre as portas hoje à noite

Abertura, hoje à noite, do Hospital da Restinga e Extremo-Sul, reduzirá a distância para atendimentos de urgência na região. Serviço beneficiará 110 mil moradores

30/06/2014 - 07h01min

Atualizada em: 30/06/2014 - 07h01min


Após quase meio século de espera, vidas perdidas e promessas adiadas, finalmente começará a funcionar o Hospital da Restinga e Extremo-Sul

Após quase meio século de espera, vidas perdidas e promessas adiadas, finalmente começará a funcionar o Hospital da Restinga e Extremo-Sul. Dos anos 1970, quando o serviço fazia parte do projeto de ocupação do bairro, à abertura da instituição, às 23h de hoje, uma geração passou da infância à fase adulta alimentando a esperança de ver o sonho se tornar realidade. Era o serviço essencial que faltava para a comunidade.

Socorro está mais perto  

O complexo hospitalar tem 19.148 m2 de área construída e capacidade para atender a 13 mil pacientes adultos e pediátricos por mês. Inicialmente será aberto o Pronto-Atendimento, com 25 leitos de observação e 62 de internação. A intenção é abrir novos leitos a cada 30 dias, com funcionamento integral seis meses após a abertura.

Veja mais fotos do hospital desde o inicío da construção

Há, sobretudo, um ganho em quilômetros. Com a abertura da instituição administrada pela Associação Hospitalar Moinhos de Vento (AHMV), os moradores não terão mais que percorrer longas distâncias para tratar casos de urgência.

Seis bairros contemplados

Uma população estimada em 110 mil pessoas, que dependia do trânsito e de vagas em hospitais próximos, como Parque Belém e Vila Nova, e distantes como o HPS, para ser atendida, têm, agora, uma Emergência na porta de casa.

Se antes, ambulâncias e carros particulares cruzavam a cidade em busca de socorro para pacientes em estado grave, de agora em diante esse drama ficará limitado a alguns quarteirões. Além de pacientes da Restinga, o novo hospital atenderá moradores dos Lami, Lageado, Belém Novo, Ponta Grossa e Chapéu do Sol, todos na mesma região.


Saúde para três gerações

A Restinga tem população superior a de 454 municípios gaúchos. São 51.569 habitantes, segundo o Censo de 2010 (IBGE). Se fosse uma cidade, seria a 42ª no ranking. É natural, portanto, que o orgulho da comunidade esteja do tamanho do bairro:
gigante. A família Goulart simboliza a felicidade que toma conta dos moradores. Diante da entrada principal do hospital, o casal de avós, a nora e o neto posam para uma foto histórica. Abraçados e sorridentes, João Luiz Goulart, 67 anos, Eva Maria Goulart, 66, Rutneia Hoffmann dos Santos, 42, e Juliano, nove anos, quiseram eternizar aquele momento.

- Sempre que precisávamos, tínhamos de sair daqui para buscar atendimento em outros bairros. Agora não precisamos mais sair do bairro. Tem coisas nesse hospital que nenhum outro tem - ressaltou. 

Gestação vista da janela 

Muitos moradores viram a obra nascer das janelas de suas casas. Outros, mesmo morando longe, foram fundamentais para que o projeto saísse do papel para o mundo real. Um deles é o presidente do Comitê Pró-Construção do Hospital Geral da Restinga e Extremo-Sul, Nelson da Silva, 74 anos. Para ele, mais do que um desejo, a obra é uma resposta a uma necessidade. 

- Foi um desafio que a gente venceu, apesar da desconfiança. Muitas vidas se perderam no trajeto até hospitais mais próximos. Quando se conseguia um transporte, elas morriam no meio do caminho - lembra o morador e líder comunitário.

Orgulho e autoestima nas alturas

Integrante do Conselho Municipal da Saúde e moradora da Restinga, a comerciária aposentada Dejanira Correa da Conceição, 61 anos, está orgulhosa dos serviços que a comunidade acaba de ganhar.

- Uns diziam que era loucura nossa, que a obra não iria ser feita. Mas agora está aqui e vai se tornar uma referência. O hospital ficou muito bonito, mas deve ser o último recurso da população. Temos que qualificar a atenção básica - alerta a moradora, ressaltando que o primeiro atendimento ainda é nos postos de saúde.

Corrida contra o tempo acabou

Funcionário público estadual, Éverson Cunha, 54 anos, lembra as noites e madrugadas que acordava assustado com os gritos de alguém pedindo para levar um pessoa doente para o hospital.

- Para quem não tinha carro, e morava no meio da vila, era muito mais difícil sair às três horas da manhã para pedir ajuda. Agora, teremos esse atendimento perto de casa - comemora Éverson.

O tijolinho que faltava na construção

O superintendente-executivo do Hospital Moinhos de Vento, Fernando Andreatta Torelly, não deixa por menos. Além de ser o único do Sus construído na Capital em 50 anos, ele afirma que o Hospital da Restinga e Extremo-Sul é melhor que a maioria das instituições de saúde privadas do país. Para Fernando, a participação da comunidade foi o diferencial.

- Estamos bastante contentes e orgulhosos de fazer esta parceria. Este hospital tem o tijolo de concreto, mas tinha de ter também o tijolo humano, ser um processo de transformação social. Formamos várias turmas de técnicos em enfermagem. Estamos contratando profissionais para o Moinhos para liberar, gradualmente, moradores capacitados por nós para trabalhar no Hospital da Restinga - revelou.    

Embora poucos lembrem, a origem do projeto é interessante.

- Primeiro, bem antes de iniciar a obra, fizemos uma pesquisa epidemiológica para ver as necessidades de saúde da população. Mas construir não é coisa simples. Teve período de chuvas, problemas com as dimensões do terreno e, ultimamente, reuniões para definição do modelo da parceria com os governos - lembrou o superintendente, na última quinta-feira.

Bandeira do Diário

A construção do hospital se tornou bandeira do Diário Gaúcho em 2007, quando quase não se falava sobre o tema. De lá para cá, acompanhamos todos os passos até a sua conclusão.

Recordando os fatos

Anos 70 - Moradores antigos lembram que na planta do projeto de ocupação da Restinga aparecia um terreno destinado ao hospital. O local seria onde hoje está o Esporte Clube Cidadão. Durante anos, o assunto ficou apenas nesse projeto. Até que, em 2004, a prefeitura e o Hospital Moinhos de Vento retomaram a ideia.

30/4/2004 - O então prefeito da Capital, João Verle (PT), e a Associação Hospitalar Moinhos de Vento assinam um contrato de metas para a construção e operação do hospital geral, que englobaria uma policlínica, a rede de atenção primária e um centro de formação técnico-profissional na área da saúde.

28/6/2004 - O Conselho Municipal de Saúde aprova a proposta de convênio da Secretaria Municipal da Saúde com o Moinhos de Vento.

26/10/2004 - O ex-ministro da Saúde Humberto Costa visita o terreno das futuras instalações do hospital e participa da cerimônia de doação do espaço ao Moinhos.

1º/1/2005 - Ocorre a troca de comando na prefeitura e a paralisação momentânea das negociações.

28/8/2005 - A prefeitura divulga no Plano Plurianual 2006-2009 (definição do orçamento para o período) a destinação de R$ 1,4 milhão para implantar o hospital.

22/12/2005 - A prefeitura inclui R$ 450 mil para a obra do hospital no Orçamento de 2006.

4/2006 - O comitê pró-construção do hospital realiza ato para lembrar a obra não-iniciada. É colocada uma bandeira no terreno doado.

18/7/2006 - Lula assina o decreto n.º 5.895, sobre a concessão de Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social. A instituição interessada tem que apresentar um projeto ao Ministério da Saúde. O hospital também deverá oferecer no mínimo 60% de atendimento ao Sus. Os critérios para dar o certificado ainda serão definidos.

5/12/2006 - O Ministério Público reuniu as partes interessadas na obra para definir metas e tentar resolver o impasse.

10/2007 - Até outubro deste ano, o governo não havia definido os critérios para a liberação do certificado.

1/2008 - A definição saiu somente em janeiro deste ano.

6/2008 - A prefeitura passou a procurar um novo terreno para o hospital, já que o anterior foi considerado impróprio

11/2008 - A Câmara de Vereadores aprova o novo terreno.

8/12/2009 - Sai a licença de instalação do hospital e a escritura do terreno.

26/2/2010 - Liberada nova maquete do hospital.

3/3/2010 - Autoridades plantam árvores nativas no terreno onde será construído o hospital. Começa a terraplenagem.

19/5/2011 - Forma-se a primeira turma do curso de técnicos em enfermagem oferecido pelo hospital aos moradores da região.

25/4/2012 - Metade da obra estava concluída.

22/11/2013 - Impasse sobre a gestão financeira adia conclusão da obra para 2014.

30/6/2014 - O hospital começa a funcionar.


Serviço
O hospital fica na Estrada João Antônio da Silveira, 3330, na Restinga. É servido por três linhas de ônibus: Restinga/PUC e Linha Restinga/PUC/Cairú, das empresas STS e Unibus e, Linha A14, da empresa STS.

A importância
Um hospital na região atenderá, segundo o Comitê Pró-Construção do Hospital  da Restinga e Extremo-Sul, mais de 110 mil pessoas, que hoje ficam a pelo menos 30km dos principais hospitais públicos da cidade.

Na área da saúde, a região, que abrange, além da Restinga, os bairros Ponta Grossa, Lageado, Lami, Belém Novo e Chapéu do Sol tem quatro unidades básicas de saúde e cinco unidades de saúde da família. 

Custo da obra e manutenção
O hospital foi construído com recursos da certificação da filantropia obtida pelo Moinhos de Vento em uma área de 41,6 mil metros quadrados cedida pela prefeitura. O Moinhos participa do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-Sus), do Ministério da Saúde, onde recursos de isenções fiscais são aplicados em projetos para melhoria do Sus. Um destes projetos é a construção de um Sistema Regional de Saúde. O Moinhos de Vento investiu R$ 110 milhões de isenções fiscais na obra. A operação do hospital será custeada mensalmente pela União (50%), Estado (24%) e Município (26%), num total de R$ 4,6 milhões por mês.

Números
-
Atendimento: será 100% Sus.
- População beneficiada: 110 mil habitantes da Restinga e do Extremo- Sul ( Lami, Lageado, Belém Novo, Ponta Grossa e Chapéu do Sol).
- Emergência adulto e pediátrica: capacidade de 13 mil atendimentos/ mês.
- Exames de diagnóstico: exames laboratoriais, ecografia, eletrocardiograma, Holter, Mapa, ecocardiograma, endoscopia digestiva alta e baixa, além de raio- x e tomografia digitais.
-Área construída: 19.148 metros quadrados


Primeira fase
Nesta etapa, que tem início hoje, às 23h, será aberto o Pronto Atendimento (PA), com capacidade para atender até 13 mil pacientes adultos e pediátricos por mês.

Além dos 25 leitos do PA, serão disponibilizados 62 leitos para pacientes que necessitarem de internação.

Nesta fase, o hospital contará com 250 colaboradores.


Em pleno funcionamento
O Quando o hospital estiver em pleno funcionamento, contará com 121 leitos de internação e 49 leitos de passagem, totalizando 170 leitos à disposição da comunidade.

Ao todo serão cerca de 800 colaboradores que, preferencialmente, serão moradores da região.

Terá Centro Cirúrgico, Centro Obstétrico, Unidade de Terapia Intensiva, Serviço de Reabilitação, Unidade de Diagnóstico, Centro de Especialidades para consultas ambulatoriais e, para a formação de recursos humanos, uma Escola de Gestão em Saúde.


Como vai funcionar?
A porta de entrada do sistema será pelos programas de Estratégia de Saúde da Família.

O Moinhos tem três postos funcionando na região, com seis equipes, e a prefeitura tem mais 12 equipes.

Quando o paciente necessita de uma consulta especializada, o hospital terá dentro do seu complexo um centro de especialidades para atender à sua necessidade.

Ao lado do centro de especialidades haverá um centro de diagnósticos, onde o paciente poderá fazer os exames laboratoriais, cardiológicos e de imagem.

Se, nesta etapa, ele tiver o diagnóstico prescrito, volta para os cuidados da Estratégia de Saúde da Família.

Se necessário, haverá encaminhamento para Upa Hospitalar, que é a emergência do hospital, e para o hospital.

Dentro do complexo há uma escola de gestão para formar moradores da Restinga para trabalharem no hospital.


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